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Paola Machado

A pele de quem faz exercício envelhece mais rapidamente?

Paola Machado

29/03/2018 04h00

Crédito: iStock

"Você vai correr? Nossa! Sua pele vai ficar velha, sua bunda vai cair, seu corpo vai ficar todo molengo!" É comum ouvir as pessoas falando que a corrida e alguns exercícios intensos são responsáveis pelo envelhecimento precoce. Mas será que isso procede?

Você já sabe que exercícios realizados com moderação e de forma supervisionada trazem diversos benefícios, como controle do perfil lipídico, melhora cardiorrespiratória, aumento da autoestima, enfim, promoção da saúde em geral.

A atividade física praticada regularmente, com acompanhamento e de forma consciente, promove o seguinte:

  • Aumenta a atividade antioxidante.
  • Eleva a produção de hormônio do crescimento (GH) e de L-glutamina, substâncias que possuem ação contra o envelhecimento.
  • Turbinam a produção de endorfinas, que melhoram o humor e, além disso, ajudam a neutralizar parte dos radicais livres.
  • Facilitam a utilização de oxigênio pelas células da pele, contribuindo para sua nutrição.

Porém, como tudo na vida tem um limite, exercício de menos é pouco e demais é exagero. O exagero nunca é bom, pois saímos do bom senso e acabamos não respeitando nosso corpo.

O exercício pode reduzir as defesas do organismo

Antes de entrar na questão do envelhecimento, gostaria de explicar um pouco sobre a imunologia, uma das minhas áreas de estudos científicos, que tem muito a ver com o que estamos falando.

Existe uma curva que utilizamos muito em estudos científicos, relacionada a imunologia, chamada curva em S, postulada em 2006, por Malm. Essa curva mostra a modulação do nosso sistema de defesa do organismo (sistema imunológico). A curva depende de vários fatores, dentre eles: da frequência, do tipo, da intensidade e da duração do exercício. Essa curva mostra quadros de "janela aberta", que levam à "queda" da ação do sistema de defesa (imunossupressão) — mais para frente farei um texto mais detalhado sobre isso, ok?

Para fazer bem ao corpo, o exercício precisa ser realizado com moderação, prescrito de forma individual e responsável. Sabe por quê? Porque a atividade física é considerada um "estresse" para nosso organismo. Sim, quando iniciamos um exercício, por sair do estado de repouso, liberamos os "hormônios do estresse": cortisol e catecolaminas, adrenalina e noradrenalina.

A queda do sistema imunológico está associada mais a duração do que a intensidade do exercício. E duas hipóteses, não excludentes, são descritas para explicar o efeito do exercício físico sobre a imunidade: o aumento de "hormônios estressores" e a diminuição da concentração plasmática de glutamina, substância indispensável para nossas células de defesa.

O treino faz a pele envelhecer?

O exercício aumenta a geração de radicais livres e espécies reativas de oxigênio (EROs), através de várias vias. Os radicais livres são um dos responsáveis pelo envelhecimento da pele, porém, a maioria das EROs são neutralizadas em treinos curtos e/ou intensos por um sofisticado sistema de defesa antioxidante composto de uma variedade de enzimas e antioxidantes não-enzimáticos, incluindo vitamina A, E e C, glutationa, ubiquinona e flavonoides.

Porém, exercícios de longa duração (acima de 1 hora e 30 minutos) tendem a gerar quadros de imunossupressão, deixando uma "janela aberta" para ações deletérias no nosso organismo. Por isso, as atividades físicas que ultrapassam os limites fisiológicos promovem um aumento na produção de radicais livres que não são neutralizados, por conta de uma redução na ação antioxidante, causando o chamado estresse oxidativo.

Vale enfatizar que, com o exercício o seu corpo pode utilizar até 15 vezes mais oxigênio que o normal, aumentando a ação das espécies reativas de oxigênio e provocando o estresse oxidativo.

Agora você me pergunta: "Então, correr vai deixar minha pele envelhecida ou não?"

Dependerá da duração do exercício. A liberação de radicais livres e a redução da resposta antioxidante causada em exercícios prolongados podem comprometer a sua pele, bem como sua saúde.

Como evitar o envelhecimento precoce

Estudos mostram que o consumo de vitaminas A, C e E, flavonoides, selênio e glutationa ajuda na neutralização da atividade dos radicais livres. Isso pode ter resultados promissores no que diz respeito à prevenção da aparência mais velha em quem faz exercícios intensos, sendo a ingestão de alimentos funcionais a melhor fonte dessas substâncias. 

Entre os nutrientes que combatem os radicais livres estão:

  • Vitamina A: presente em frutas e verduras como mamão, pêssego, abacate, manga, espinafre, brócolis e cenoura.
  • Vitamina C: encontrada na laranja, no agrião, no abacaxi, no pimentão.
  • Vitamina E: está em óleos vegetais, nozes, grãos inteiros, sementes e folhas verdes.
  • Flavonoides: presentes em chás (preto, branco e verde), soja, frutas vermelhas, alho, chocolate amargo e uva.
  • Selênio: castanha-do-Pará, ovos, ostras, sementes de girassol, fígado, atum e semente de chia são fontes do nutriente.
  • Glutationa: encontrada no alho, na cebola, no espinafre, no abacate, na banana e em ovos; alimentos ricos em selênio estimulam a produção endógena de glutationa.

Os suplementos polivitamínicos são indicados, porém, você não deve tomar qualquer um. Com orientação médica ou nutricional, você consegue saber quais são as necessidades vitamínicas diárias e, a partir disso, o profissional manipulará um polivitamínico personalizado.

Para os exercícios, a prévia avaliação médica e instrução de um educador físico são ótimas opções para qualquer hora! Opte por exercícios curtos ou leves e moderados, pois são os que trazem mais benefícios para a saúde dos amantes de atividades físicas.

REFERÊNCIAS
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– Petersen, A.M. & Pedersen, B.K. The anti-inflammatory effect of exercise. Journal Applied Physiology 2006, 98: 1154 – 1162.
– Malm, C. Susceptibility to infections in elite athletes: the S-curve. Scand J Med Sci Sports 2006; 16: 4-6.
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– Melo, K. P. S. A prática de exercícios físicos como fator predisponente ao envelhecimento cutâneo: benefícios ou malefícios? Trabalho de conclusão de curso. Universidade Católica de Brasília. Brasília, Distrito Federal, 2013.
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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.