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Paola Machado

Conheça 7 lesões comuns na corrida e como se manter longe delas

Paola Machado

17/04/2018 04h00

lesões comuns na corrida

Crédito: iStock

As lesões são um assunto muito corriqueiro para quem está acostumado a correr, e é raro encontrar um atleta amador ou profissional que nunca se machucou.

"Então, se é tão presente as lesões em corredores, a corrida é um esporte ruim, certo?" Errado. Correr é bom. No entanto, os praticantes, muitas vezes, trabalham muito perto de seus limites, o que significa que, apesar de terem melhor preparo físico do que os sedentários, apresentam mais lesões do que se ficassem o dia todo vendo televisão. Isso acontece porque muitos corredores são teimosos e um pouco persistentes no treinamento e, muitas vezes, não fazem o que deveriam para evitar as lesões e não as tratam adequadamente quando elas ocorrem.

As lesões mais comuns em corredores podem ser agrupadas como lesões por "overuse", isso é, que não são causadas por uma força externa ou acidente, mas que parecem ser o resultado de muitos quilômetros e horas de execução do mesmo movimento. Muitas dessas lesões aparecem por desequilíbrios biomecânicos (algumas vezes pequenos) que, quando combinados com a corrida, levam as articulações, músculos e outros tecidos ao estresse. O tratamento dos sintomas, muitas vezes, é uma técnica em curto prazo, já que é necessário encontrar qual o problema real que levou à lesão.

Muitos de nós temos estilos de vida sedentários, incluindo longas horas sentados em cadeiras, e, por isso, desenvolvemos fraquezas e desequilíbrios que causarão problemas quando corrermos. Assim, a causa fundamental de lesões por "overuse" geralmente não está em correr, e sim na redução da força e flexibilidade, o que nos impede de correr de forma eficiente e sem dor. Felizmente, muitos desses problemas são fáceis de corrigir, se você receber as orientações adequadas e combater as causas fundamentais do problema e não somente os sintomas.

Atente-se as principais lesões por "overuse" que afetam os corredores:

1. "Joelho de Corredor"

O "joelho de corredor" é o nome mais conhecido para a dor na parte da frente do joelho, logo abaixo da patela. A dor, inicialmente, ocorre somente durante a corrida, mas com o tempo piora. As dores podem começar a incomodar em atividades do dia a dia como caminhar, descer ou subir escadas, permanecer sentado ou em pé por períodos prolongados e até fazer um simples agachamento. Esses sintomas são resultado de alterações e/ou lesões na cartilagem, que podem ser causadas por um incorreto deslizamento da patela. A essas alterações na patela dá-se o nome de condromalácia, que afeta mais as mulheres do que os homens, devido a um diferente alinhamento da pélvis e da perna.

A utilização do gelo pode aliviar as dores agudas, porém o tratamento consiste em corrigir a biomecânica, a fim de evitar um maior desgaste da cartilagem.

2. Síndrome do trato iliotibial

É muito comum aos corredores sentir dores na lateral externa do joelho durante a corrida ou em uma simples palpação. A síndrome ocorre quando a banda iliotibial está inflamada, devido ao atrito excessivo sobre uma protuberância óssea na lateral do joelho (epicôndilo lateral do fêmur). Encurtamentos musculares e tensão na banda iliotibial podem ser os causadores dessa síndrome.

Alongamentos, gelo e massagem podem aliviar a tensão e as dores provocadas por esta lesão.

3. Tendinite do tendão calcâneo

Também chamada de tendinite de Aquiles, na qual ocorre inflamação e/ou degeneração do tendão calcâneo, causando dor, inchaço local e rigidez matinal. O tendão de Aquiles liga os músculos da panturrilha ao osso do calcanhar e é muito requisitado em todas as atividades diárias. As dores podem surgir durante um simples movimento de caminhar.

O encurtamento dos músculos da panturrilha, uso de salto alto, tênis desgastado e excesso de treinamento são as principais causas dessa lesão.

A utilização de gelo após as corridas é uma forma de aliviar os sintomas. Se não for tratada adequadamente, a tendinite pode evoluir para uma ruptura do tendão calcâneo.

4. Dores na canela

Popularmente conhecidas como canelite, as dores na canela são ocasionadas por uma inflamação dos músculos, tendões e ossos da parte inferior da perna.

Nos estágios iniciais da lesão a dor só aparece no início de uma corrida, desaparecendo após o aquecimento ou, em outros casos, somente ao final do treino. A medida que a lesão se agrava a dor torna-se mais forte e mais persistente,  até ficar difícil de caminhar normalmente.

Por ser uma lesão diretamente ligada ao impacto, as dores na canela são bastante comuns em corredores novos (muitas vezes dentro de seus três primeiros meses de treinamento), que aumentaram a sua carga de treinamento muito rapidamente, ou que estão usando tênis inadequados.

O gelo neste caso também é um grande aliado na redução da dor aguda. Porém, reduzir o volume dos treinos, usar tênis adequados e escolher a dedo o terreno  em que irá correr –na terra e na grama há menos impacto do que no asfalto — é fundamental para curar essa lesão.

5. Fraturas por estresse

Uma canelite, se não for tradada adequadamente, pode virar fratura por estresse. Os ossos do pé, da coxa e da pelve são menos acometidos, mas também podem sofrer as fraturas por estresse. Essa lesão está associada a uma dor forte sob suave pressão localizada.

As fraturas por estresse são geralmente causadas por um aumento excessivo de treinamento ou baixa densidade óssea, possivelmente relacionada a uma má alimentação. Elas são mais comuns em mulheres do que em homens, principalmente, naquelas com ciclos menstruais irregulares.

Esta é uma das lesões por "overuse" mais graves. Cura-se com dois a três meses de descanso completo.

6. Lesões musculares: estiramentos e contraturas

Os estiramentos musculares costumam ocorrer de repente, principalmente em esportes de explosão. Os músculos mais acometidos são: isquiotibiais (posterior de coxa), adutores (virilha) e panturrilha.

Os estiramentos são facilmente diagnosticados por uma dor intensa no músculo acometido, que entra em espasmo e incha. A principal causa são desequilíbrios musculares e intensidades elevadas sem o devido aquecimento. Os sintomas agudos devem ser tratados com gelo, elevação e compressão. E o tratamento intensivo requer repouso absoluto.

Nas contraturas a dor aparece gradualmente. No início, os sintomas são visíveis apenas após o exercício, e eles são leves o suficiente para continuar a treinar. Ao longo do tempo a dor torna-se pior e eventualmente impede o treinamento. Para identificar uma contratura muscular o médico ou fisioterapeuta deverá pressionar o músculo afetado com dois dedos: ele vai sentir um pequeno nó no músculo, que, quando pressionado, causará uma forte dor ao corredor lesionado.

O principal tratamento para as contraturas é a massagem, feita por um fisioterapeuta –boa sorte: isso dói!.  As contraturas tendem a recorrer nos mesmos lugares por isso deve-se ter cuidado especial com o alongamento e aquecimento antes dos treinos, principalmente os de velocidade.

7. Fascite plantar

Esta lesão se manifesta com dor na sola do pé, diretamente na frente do calcanhar, e pode irradiar para baixo do arco ou até a parte de trás do calcanhar. A dor é muitas vezes pior quando você sai da cama e no início de uma corrida, mas desaparece quando está aquecido.

A fascite plantar é resultado de estresse e inflamação do tecido fibroso na parte inferior do pé, chamado de fáscia plantar. É geralmente causada por excesso de pronação ou pouca flexibilidade nas panturrilhas e/ou isquiotibiais. É mais comum em pessoas que estão acima do peso.

Inicialmente, o tratamento consiste em alongar os músculos da cadeia posterior, inclusive a fáscia plantar e diminuir a inflamação com gelo ou drogas anti-inflamatórias.

Todas as sete lesões citadas acima têm relação direta ao impacto gerado pela corrida. Por isso, a escolha do tênis e do terreno, e a evolução gradativa do volume e da intensidade do treinamento são muito importantes na prevenção e tratamento de cada uma delas.

Pra finalizar, lembro que um diagnóstico médico é de suma importância para determinar a melhor forma de tratamento de qualquer tipo de lesão.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.