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Paola Machado

Somos fisiologicamente preguiçosos, mas uma boa música pode nos animar

Paola Machado

15/07/2018 04h00

Crédito: iStock

Eu, você, todos somos fisiologicamente preguiçosos. Estudos mostram que, quando realizamos qualquer esforço físico, o nosso organismo trabalha tentando utilizar o mínimo de esforço para algum movimento.

Exemplo: Quando caminhamos ou corremos, nosso corpo tende a escolher uma "cadência especial", ou seja, uma combinação de comprimento do passo e freqüência passo, que nos permite nos movimentar em qualquer velocidade com o menor esforço fisiológico possível.

Estudos envolvendo corredores e pessoas que caminham sugerem que, embora a "preguiça fisiológica" seja muito evidente, ela pode ser controlada com algum esforço consciente (como a playlist do seu celular).

O primeiro e mais revelador dos estudos, realizado na Universidade de British Columbia, recrutou voluntários adultos e os colocou para andar na esteira em uma intensidade leve. Usando a tecnologia de captura de movimento, os cientistas determinaram quantos passos cada pessoa dava por minuto nesta intensidade.

O ritmo de uma pessoa depende, naturalmente, do comprimento do passo e a frequência deste passo.

Depois de estabelecer a frequência de passo de cada voluntário, os pesquisadores aceleravam ou retardavam a velocidade da esteira. Concomitantemente, os cientistas mediam a rapidez com as pernas das pessoas respondiam aos movimentos.

O corpo, inconscientemente, quer que o esforço seja cada vez mais fácil.

Quando você aumenta ou diminui a velocidade da caminhada ou corrida, várias alterações fisiológicas ocorrem. Por exemplo, a quantidade de oxigênio no sangue pode aumentar ou diminuir, uma vez que os músculos vão exigir mais ou menos no exercício. Outras alterações bioquímicas também ocorrem nas células musculares. Com as mudanças, o corpo "nota" que, a esta nova velocidade, o seu esforço (cadência) não é o ideal e você está tomando medidas muito pequenas ou usando o mínimo possível de energia. Por isto, seu corpo joga a preguiça para o lado e ajusta o esforço.

Segundo os pesquisadores, esse processo demora um pouco para acontecer. Pelo menos cinco segundos ou menos para modificar os níveis de oxigênio e seu corpo reconhecer a alteração. No entanto, os voluntários que caminhavam, ajustaram a freqüência de passo dentro de menos de dois segundos após a mudança de velocidade na esteira.

O mesmo processo ocorreu quando os pesquisadores repetiram o experimento com os corredores. Quando a velocidade da esteira mudava, a freqüência de passo dos corredores alterava quase de imediato.

Estes ajustes instantâneos, sugerem que nosso cérebro deve conter uma enorme "biblioteca" de intensidades e ritmos pré-definidas, sendo "fisiologicamente eficientes" para cadência de passo, velocidade e qualquer condição imposta. Aprendemos e lembramos o que o esforço nos permite usando o mínimo de energia para tal essa velocidade e, quando chegamos nesta velocidade, nosso corpo altera imediatamente o padrão para que o ritmo seja mais eficiente.

Assim, podemos sugerir também que o cérebro reconhece o movimento envolvendo mensagens dos nossos sentidos.

Curiosamente, parece ser muito difícil enganar o cérebro. Para provar que o órgão é muito esperto, os pesquisadores colocaram uma cortina de chuveiro em volta da área onde ficava a esteira, projetando um cenário de realidade virtual de um corredor para ele. Sabe o que acontece? As pessoas sentem-se manipuladas pela velocidade que este corredor virtual está realizando, adaptando a freqüência de passos rapidamente. Porém, eles não se acomodam a sua intensidade anterior.

Entretanto, as pistas visuais e o corredor virtual não foram suficientes para afetar a estimulação por muito tempo. Quem consegue fazer isso é a música. Os cientistas descobriram que uma batida forte é super eficaz para o estímulo corporal.

Equipando os voluntários de corridas e caminhadas com um fone de ouvido sintonizado a um podômetro, os pesquisadores notaram que conseguiam aumentar ou diminuir a frequência de passos dos praticantes dependendo da preferência musical e da batida da música.

Em termos práticos, este achado sugere que a música pode ser uma das melhores maneiras de afetar o ritmo da corrida ou caminhada, especialmente se você está tentando manter um ritmo no qual não está familiarizado. Para isto, carregue seu celular com músicas empolgantes.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.