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Paola Machado

Dores na coluna: fique atento, você pode ter um desvio postural

Paola Machado

16/07/2018 04h00

Crédito: Istock

No Brasil, 80% das pessoas têm ou terão problemas posturais, que em geral se manifestam por dores lombares – as famosas lombalgias – representando a segunda grande causa de afastamento do trabalho.
A nossa coluna vertebral possui curvaturas naturais, ditas "fisiológicas", que têm como principal objetivo aliviar o impacto e a sobrecarga da ação da gravidade sobre o nosso corpo nas posições em pé e sentada. Temos duas dessas curvaturas em cada segmento da coluna: lordose cervical e lombar, e cifose torácica e sacral. Elas se formam no processo de desenvolvimento, enquanto ainda somos bebês.

Desvios posturais mais comuns

Os desvios posturais mais frequentes são hiperlordose cervical e lombar, hipercifose torácica e sacral, escoliose e a retificação cervical, torácica ou lombar. Em geral, os maiores causadores são: fraqueza muscular, manutenção de posturas viciosas no trabalho e nas ações do dia a dia, atividades de repetição e o sedentarismo.

Hiperlordose lombar: é definida como um aumento acentuado das curvaturas fisiológicas. Os sintomas mais comuns dessa alteração postural são as dores lombares. Por causa disso, o abdome fica aumentado pela fraqueza dessa musculatura.

Hiperlordose cervical: tem a mesma definição da lombar, mas os sintomas são dores intensas no pescoço, que podem chegar até o meio das costas. A cabeça costuma ficar mais anteriorizada levando ao "empinamento" do queixo e fraqueza dos músculos do pescoço. Como essa região é intimamente ligada à coluna torácica, além de gerar dores na própria região, pode propiciar o aumento da curvatura cifótica, levando à outra alteração postural importante.

Hipercifose torácica: pacientes que possuem esse tipo de alteração postural  e apresentam a queixa que estão ficando "corcundas". Além da questão estética e das dores na própria coluna torácica, podem aparecer sintomas relacionados aos ombros que acabam ficando "enrolados" para frente.

Hipercifose do sacro: os sintomas estão mais relacionados à lombar pela proximidade das duas regiões e por ela ser parte da coluna que mais sofre com a sobrecarga do andar e sentar comuns ao dia a dia.

Escoliose: caracteriza-se por uma alteração postural que acontece quando a olhamos de frente. Essa variação aumenta as curvaturas da coluna lateralmente. Nesses casos, é comum ouvirmos dos médicos que a coluna está em formato de "S" ou de "C". A escoliose pode ter causas congênitas, quando ocorre má formação ou fusão das vértebras da coluna no desenvolvimento do bebê ainda no útero ou no nascimento, podendo ser grave e ocorrer por um vício postural, ou uma alteração no comprimento de um dos membros inferiores, por exemplo, ou um terceiro tipo, chamado neuromuscular. Neste último, em geral, é a mais grave, tem o formato em "S" e está associado a patologias de origem neural que podem acometer o sistema muscular, como as distrofias musculares ou paralisia cerebral.

A escoliose em "C" é a mais comum, está relacionada à escoliose do tipo idiopática e acomete a região tóraco-lombar, onde a curva pode estar para os lados direito ou esquerdo. As retificações cervicais, torácicas e lombares significam a diminuição das curvas desses segmentos, e suas causas são as mesmas das que podem levar ao aumento dessa curvatura. Vale lembrar que doenças respiratórias, doenças reumáticas, alterações reflexas e até mesmo os fatores psicológicos podem prejudicar a postura e predispor o surgimento da escoliose idiopática. Quando se trata da alteração postural por vício de postura inadequada observa-se um desarranjo em vários elementos internos (como fraqueza muscular) e externos ao corpo (como mobiliário do ambiente de trabalho) que levam a dores e limitações na funcionalidade.

Como melhorar os problemas na coluna

  • No seu trabalho você permanece muito tempo sentada(o)?

Levantar da cadeira de períodos em períodos já é uma ótima prevenção. Nosso corpo não foi feito para permanecer sentado durante tanto tempo. A pressão entre os discos vertebrais pode ser significativamente maior quando estamos sentados e permanecemos por longos períodos na mesma posição do que parado em pé. Sem contar que podemos facilitar a atrofia muscular e a curvatura fisiológica da coluna.

  • Um dos maiores fatores de risco para dor lombar é o sedentarismo

As pessoas que praticam atividades físicas além de reduzir o risco de morte precoce e aumentar a expectativa de vida, estimulam positivamente os discos entre as vertebras e consequentemente o hidratam mais, com exercícios aeróbicos de baixa carga. Hoje em dia escutamos muitas desculpas para não realizar atividades físicas, mas podemos mudar a nossa rotina e incorporar algumas atitudes no nosso dia a dia, como por exemplo, ir ao trabalho de bicicleta, optar pelo transporte público e descer um ponto ou uma estação antes do trabalho, fazer uma caminhada mais prolongada e usar as escadas ao invés das escadas rolantes.

  • Alimentação e controle do peso também ajudam na prevenção das dores

Nossos hábitos alimentares influenciam na nossa saúde, não apenas os exercícios físicos. Não faz sentido uma mudança brusca e repentina, aos poucos podemos trocar a proporção das comidas processadas, a base de farinha branca e gordurosos, pelos alimentos saudáveis.

  • Usar apoio lombar

Sentar de forma correta sem se cansar também não é tarefa fácil. O apoio lombar mantém a curvatura da coluna quando estamos sentados, não possibilitando a inversão da curvatura lombar, protegendo-a e evitando as dores e desconfortos. Uma pequena almofada ou travesseiro servem como apoio, se estiverem grandes demais, enrole uma toalha ou até mesmo a sua blusa. Não se esqueça que no trânsito, usar o apoio no banco do carro, também pode ser de grande valia.

Em certos casos, é necessária a intervenção de um profissional qualificado para orientar e reabilitar o indivíduo com alteração postural. Existem várias técnicas especializadas na reeducação postural como o RPG, pilates, terapia manual e claro, os exercícios de fortalecimento para os músculos específicos de estabilização da coluna. Cabe ao profissional avaliar e escolher qual técnica se adéqua melhor.

*Colaboração fisioterapeuta Dr. Pedro Sasaki

Referências Bibliográficas
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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.