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Paola Machado

Qual a diferença entre índice glicêmico e carga glicêmica dos alimentos?

Paola Machado

08/08/2018 04h00

Crédito: iStock

Os carboidratos presentes nos alimentos, após serem digeridos e absorvidos, elevam a glicose no sangue e, consequentemente, estimulam a liberação da insulina. Esse hormônio é responsável por regular vários processos em nosso organismo, como a utilização da glicose como energia ou o seu armazenamento, em forma de gordura corporal.

Alguns alimentos apresentam a capacidade de elevar a glicemia mais do que outros, e isso ocorre devido à qualidade e a quantidade do carboidrato presente em sua composição. Neste contexto, temos a definição de dois termos que classificam os alimentos de acordo com a sua capacidade em elevar a glicose sanguínea:

  • Índice glicêmico: é a capacidade que uma porção de alimento contendo 50 gramas de carboidratos tem de elevar a glicemia. Portanto, refere-se a um indicador qualitativo do carboidrato dos alimentos, que indica sua capacidade em elevar mais ou menos a glicose no sangue.
  • Carga glicêmica: este termo foi proposto posteriormente, e se refere ao efeito glicêmico do alimento em relação ao carboidrato presente em uma porção de alimento tipicamente consumida. Portanto, é considerado um indicador qualitativo e quantitativo de carboidrato.

Qual a diferença?

A diferença básica entre índice e carga glicêmica está na quantidade de carboidrato analisada. Enquanto o índice glicêmico reflete o efeito de 50 gramas de carboidrato de um alimento, a carga glicêmica se refere ao efeito proveniente do conteúdo de carboidrato presente em uma porção ingerida normalmente pela população. Assim, o conceito de carga glicêmica apresenta mais relevância no planejamento dietético, por levar em consideração a porção de alimento consumida.

Classificação dos alimentos

O índice glicêmico de um alimento é considerado:

  • Baixo quando ≤ 55;
  • Moderado quando entre 56 e 69;
  • Alto quando ≥ 70.

A carga glicêmica de um alimento é considerada:

  • Baixa quando ≤10;
  • Moderada quando entre 11 e 19;
  • Alta quando ≥ 20.

É importante esclarecer que um alimento quando classificado com baixa e moderada carga glicêmica não deve ser consumido à vontade. Apesar de elevarem menos a glicemia, possuem calorias como qualquer outro alimento, e em excesso podem conduzir ao aumento de peso. Lembre-se sempre que a alimentação equilibrada, associada a escolhas mais saudáveis, juntamente com o aumento do gasto energético é fundamental para a redução de peso e controle de doenças crônicas.

Consequências de dietas com elevado índice e carga glicêmica

Alguns estudos indicam que, em longo prazo, uma alimentação com elevada carga glicêmica pode levar ao desenvolvimento de diabetes, doenças cardiovasculares e depressão.

A insulina é um dos hormônios responsáveis pelo acúmulo de gordura no nosso corpo. Logo, o consumo excessivo de alimentos de alto índice glicêmico, que elevam rapidamente a glicemia e a liberação deste hormônio, pode propiciar o aumento da gordura corporal e exigir um trabalho excessivo do pâncreas (que produz insulina), podendo levar ao seu futuro comprometimento e desenvolvimento de resistência à insulina e diabetes.

Além disso, as concentrações elevadas de insulina reduzem o funcionamento dos mecanismos de queima de gordura do corpo, promovendo o seu acúmulo e dificultando a perda de peso.

Benefícios de dietas com baixo índice e carga glicêmica

Pensando em benefícios de dietas com baixo índice e carga glicêmica, estudos científicos clínicos apontam que ajudam no controle da hemoglobina glicada em pacientes portadores de diabetes do tipo 1 e tipo 2, e na redução na chance de excesso de peso e câncer.

Dica importante: antes de eliminar algum alimento do seu cardápio, consulte um nutricionista para adequar sua alimentação.

*Colaboração da nutricionista Dra. Deborah Masquio

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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.