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Paola Machado

Você é muito ansioso? Veja como o exercício ajuda a reduzir o problema

Paola Machado

28/08/2018 04h00

Crédito: iStock

A ansiedade é um problema muito comum hoje em dia, e a atividade física é reconhecidamente uma alternativa importante para evitar esse mal, pois estimula a liberação de substâncias no organismo que promovem bem-estar, além de distrair a mente e melhorar o sono (insônia é um sintoma "clássico" para alguns ansiosos).

No entanto, há uma questão interessante na relação exercício e ansiedade. Pesquisadores da Universidade de Princeton (EUA) revelaram que a atividade física é capaz de criar novas células cerebrais totalmente ativas e, posteriormente, quando não utilizadas, descartá-las.

O neurônio é formado com certas predisposições. Alguns nascem mais ativos, reagindo facilmente a qualquer situação e desencadeando a formação de memória. Devido à vida corrida, o excesso de trabalho, o trânsito e o nervosismo –além de fatores emocionais e até genéticos –, induzimos nosso organismo a um estresse diário e constante, levando à agitação neuronal intensa, o que acarreta na ansiedade. E se o exercício também gera essa agitação, como ele reduz em vez de aumentar a ansiedade?

Por mais que esta correlação seja real, o estudo mostrou que o exercício reduz a ansiedade pois, apesar de excitar os neurônios, acalma algumas outras partes cerebrais e deixa o cérebro mais bem preparado para lidar com momentos de tensão.

Pronto para encarar o estresse

Os cientistas reuniram alguns camundongos adultos e injetaram uma substância que marca somente as células cerebrais "recém-nascidas". Durante seis semanas, deixaram estes camundongos livres, correndo em rodas. Enquanto isto, outro grupo de roedores  ficou quietinho, dentro de suas gaiolas e em um estado sedentário.

Depois desse período, cada grupo foi induzido a um grande estresse. Colocaram todos os camundongos em um ambiente com diversas alterações, como alguns cantos escuros, outros abertos e bem iluminados. A indicação evidente foi que o grupo sedentário ficou mais ansioso e com mais medo de explorar o ambiente, em comparação ao grupo que fez exercícios, que ficou mais confiante e menos ansioso para conhecer cada cantinho do novo local.

Os pesquisadores verificaram a atividade cerebral dos camundongos "corredores" e dos sedentários para determinar quantos e quais variedades de novos neurônios eles continham. Como esperado, o cérebro dos ativos fervilhava com muitos novos neurônios extremamente agitados, em comparação aos ratos sedentários, que continham células recém-nascidas, contudo, numa menor proporção.

O cérebro dos "camundongos atletas" apresentou um número considerável de novos neurônios que liberavam o neurotransmissor GABA, que inibe a atividade cerebral. Entretanto, mantém a produção neuronal disparada. Assim, ao mesmo tempo que tranquiliza a atividade cerebral, mantém a atividade neuronal.

Além destas descobertas, constataram que no cérebro dos "corredores" havia uma grande população de células na região do hipocampo, associada ao processamento de emoções.

As situações de estresse na pesquisa ainda não acabaram. Para estimular ainda mais a atividade cerebral, eles colocaram os camundongos em uma água bem gelada, durante cinco minutos. Vale lembrar que ratos não suportam água fria. Embora a situação não gere perigo à vida do camundongo, causa um tremendo estresse e uma ansiedade extrema.

Os cientistas então tentaram identificar alguns marcadores, conhecidos como genes imediatos, que indicam que um neurônio foi recentemente "deletado".

O que eles notaram nesta experiência? Que os camundongos sedentários, na situação de intenso estresse, liberaram e produziram um grande número de neurônios excitáveis e incontroláveis. Então, ao sair da água, ficaram emocionalmente ansiosos durante um longo período de tempo.

Os camundongos corredores tiverem o aumento da formação de neurônios excitados, porém, não durou muito tempo. Quando estes neurônios eram formados, liberavam GABA, que gerava um sinal para o cérebro, acalmando-o e, concomitantemente, anulando a ansiedade.

Podemos comparar o "estresse" sofrido pelo camundongo corredor no banho de água fria com uma corrida rápida.

Conclusão

O exercício moderado e realizado com consciência é benéfico para qualquer aspecto do organismo, incluindo o controle da ansiedade. Temos que saber que quando conseguimos ter um controle adequado da ansiedade:

  • Focamos mais nas nossas atividades, tanto profissionais quanto de lazer.
  • Reduzimos a compulsão alimentar e de outros vícios causadas pelo processo de ansiedade excessiva. Exemplo: comedores emocionais.
  •  Conseguimos ter resultados almejados, melhorando a qualidade de vida.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.