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Paola Machado

Alguns alimentos podem ser tão viciantes quanto as drogas

Paola Machado

30/08/2018 04h00

Crédito: iStock

Aposto que você já ficou com água na boca com esta foto! Não?!? Então, que tal esta?

 

E agora? Bom, se nenhuma dessas imagens deu água na boca, com certeza você já ficou em algum momento da vida com desejo de comer algo após ver a propaganda de um fast-food, de alimentos industrializados ou, até mesmo, anúncios nos supermercados. Nhum… E isso acontece, principalmente, quando estamos com muita fome –sempre falo para o meu marido não ir ao supermercado com fome.

Sim, essas propagandas sabem como aguçar sua fome. E para isso elas usam especialmente comidas ricas em açúcar (ou carboidratos). Pesquisas mostram que, para algumas pessoas, esses alimentos podem estar totalmente relacionados a uma parte do cérebro relacionada ao "start" do vício.

Um estudo com camundongos publicado pelo especialista em vício Dr. Francisco Leri, apresentada na Associação Canadense de Neurociência, mostra que o xarope de milho, que tem alto teor de frutose (um tipo de açúcar), e outros alimentos industrializados ricos em açúcar, gordura e intensificadores de sabor podem causar reações comportamentais semelhantes a drogas pesadas, como cocaína.

O fácil acesso a alimentos industrializados, gordurosos e açucarados é uma das causas da epidemia de obesidade no mundo. Mas como só algumas pessoas  desenvolvem o vício e compulsão por esses alimentos?

Em um outro estudo, cientistas analisaram a resposta de camundongos quando alimentados durante seis semanas com comidas ricas em gordura. Os ratos tinham sobrepeso –não eram extremamente obesos, estavam 11% acima do seu peso corporal –, porém, com esse cardápio, acostumaram a comer mais e mais em cada refeição. Quando voltaram a dieta normal, com baixo teor de gordura, os animais tiveram sintomas de abstinência severa, incluindo ansiedade e desejo intenso e incontrolável pelo alimento.

O que mais chamou a atenção em todo o estudo? Foi que os camundongos mostraram uma atividade cerebral e comportamental semelhante à abstinência de drogas pesadas, como cocaína. O cérebro dos ratos viciados apresentou maiores níveis de dopamina e de uma molécula chamada CREB, que são diretamente responsáveis pela toxicodependência e pelo desejo por comida.

Uma outra pesquisa, sobre a "Correlação Neuronal da Dependência Alimentar", publicada no Archives of General Psychiatry, foi a primeira que concentrou os correlatos neurais do comportamento viciante dos alimentos e sua possível relação com a ativação neural à dependência de substância tóxicas.

O estudo, diferentemente dos primeiros, analisou mulheres saudáveis, com diferentes faixas de peso e que passaram por questionários e avaliações para detectar sinais de vício em comida, correlacionando a atividade cerebral. Os resultados mostraram que a dependência alimentar não está associada ao peso, sendo que muitas mulheres com peso normal apresentaram sinais de compulsão alimentar.

Os cientistas observaram também que, quando as voluntárias olhavam para imagens de doces, como sorvete, ocorria uma maior atividade de regiões do cérebro associadas ao prazer (amígdala cingulada anterior e córtex orbitofrontal medial), as mesmas regiões que são ativadas em viciados em drogas. Além disso, constataram, como no estudo anterior, que, em mulheres compulsivas, há uma redução na região do cérebro responsável pelo autocontrole (o córtex lateral orbitofrontal).

Controle o que você come

É muito preocupante o aumento desenfreado da obesidade e do consumo alimentar compulsivo. Nada em excesso faz bem.

Para você ter uma noção, um estudo analisou a atividade cerebral de 48 mulheres saudáveis que tinham em sua frente um delicioso milk shake de chocolate. Isso aumentou o potencial de elas desenvolverem uma dependência alimentar, pois induziu uma antecipação incontrolável da fome. E sabe o que aconteceu quando elas consumiram a sobremesa depois de um tempo? O cérebro não conseguiu se satisfazer como queria, fazendo com elas tomassem dois, três, enfim, cada vez mais e mais. Quanto mais a pessoa come compulsivamente, mais obesa fica, mais chance de ter depressão, transtornos, patologias associadas ao excesso de peso etc.

Você já parou para pensar que os slogans e imagens suculentas podem criar a mesma antecipação da no seu cérebro? Ou seja, você vai comer no fast-food, a fila está grande, você fica 30 minutos olhando para uma foto gigante de um hambúrguer com maionese, bacon, queijo e bastante gordura. Quando vai comer, sua fome não passa. Daí, você pede o combo com batatas, refrigerante e, de sobremesa, um milk shake.

Resultado? Ganha de combo de preocupações. Nada impede que você coma o que quiser, mas quero que saiba que tudo tem limite e o excesso não é um bom caminho. Saiba dosar e aprenda a se controlar.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.