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Paola Machado

Usar pesos, roupas escuras, secar suor: o que é certo e errado ao correr?

Paola Machado

09/10/2018 04h00

Crédito: iStock

Hoje em dia somos bombardeados com dicas de treinos e temos de tomar cuidado com o que lemos por aí, pois boa parte dessas informações não vêm de profissionais capacitados para falar sobre atividade física e cuidados com a saúde e sim de "entendedores fitness".

Vejo tantas estripulias que certas pessoas fazem para correr (algumas são até difíceis de acreditar) que decidi comentar algumas aqui, para você saber o que pode ser prejudicial e o que realmente funcional –o texto não é destinado para atletas, ok?

Correr com roupas escuras e agasalhos não emagrece

Essa cena é clássica em filmes de luta e atletas da modalidade usam a estratégia para o dia da pesagem, pois conseguem perder muito líquido correndo agasalhados e com roupas escuras no calor. Mas eu já expliquei que diminuir o número na balança não significa emagrecer. O peso de pessoas que correm cheias de roupa reduz após o treino pois elas acabam perdendo muita água, não gordura.

Além de não ser eficaz, a tática pode levar a uma séria desidratação –principalmente quando falamos de não atletas, que não tem nenhum tipo de supervisão.

Portanto, quando não estiver frio, opte por roupas frescas e claras e hidrate-se intensamente. Assim, você conseguirá ter uma melhor qualidade no treino e desfrutar de resultados positivos.

Correr com peso extra não é uma boa para gastar mais energia

Esses dias vi no Instagram uma pessoa correndo com duas caneleiras, para intensificar o treino e queimar mais calorias. Não vou aprofundar o quanto isso prejudica a biomecânica da corrida, pois essa é uma outra discussão. Você já precisa vencer todo o peso do seu corpo e a força da gravidade para se movimentar. Para que colocar mais uma carga? E ainda no seu tornozelo?

Isso prejudica o equilíbrio e você tende a correr errado, o que pode causar uma lesão no seu tornozelo, joelho ou quadril. A carga extra pode trazer muitos problemas articulares, esqueléticos e musculares quando incrementada de forma inadequada. Já percebeu que os melhores corredores são bem magrinhos e usam roupas leves? Então: para correr, quanto menos peso, melhor. Por que você vai inventar?

Quer gastar mais energia no treino? Aumente a velocidade, corra em subidas ou mude o piso (o asfalto é o menos exigente, depois vem a grama, a areia molhada e a fofa).

Você não precisa (e nem deve) secar o suor 

Ok, essa não é uma dica que vemos na internet, mas algo que fazemos naturalmente –e merece explicação. Composto por água e sais minerais, o suor esfria sua pele ao evaporar e é responsável pela regulação da temperatura corporal durante o exercício. Se você usar uma toalha para secar qualquer gotinha de transpiração que surgir ao treinar na esteira, por exemplo, o organismo vai produzir mais e mais suor para regular a temperatura e você pode perder muito líquido e ficar desidratado. 

Outro ponto é não ficar com o corpo molhado demais –para quem tem mania de se encharcar ao correr no sol. Fazer isso cria uma barreira entre a superfície da pele e o ar, o que dificulta — ou até impede — o processo de evaporação do suor e pode prejudicar a regulação da temperatura; retendo calor e podendo causar o processo de intermação (quando a temperatura central fica muito elevada, acima de 40 °C).

Correr com uma garrafa de água gelada na mão pode reduzir a percepção de esforço

Isso eu já tinha percebido em meus treinos na rua, mas achei uma comprovação científica. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Stanford (EUA) mostrou que carregar uma garrafa gelada durante a corrida pode fazer você sentir que a atividade está mais fácil.

Na pesquisa, um grupo segurou a garrafa de água em temperatura ambiente e o outro uma de água bem gelada. Os integrantes do grupo que teve em mãos a garrafinha gelada apresentaram uma melhor participação, desempenho e progresso na corrida e na caminhada, além de conseguirem correr mais rápido que o outro grupo.

A estratégia ainda é ótima para se manter hidratado durante o exercício.

As bebidas esportivas devem ser consumidas moderadamente

O pessoal mal começa a correr e já compra um fardo de bebidas isotônicas. Calma! Na maioria dos treinos, você só precisa de água para repor os líquidos perdidos.

Uma pesquisa realizada com 15 mil estudantes nos Estados Unidos indicou que as crianças e adolescentes ingerem essas bebidas em excesso. Apesar de conter carboidratos e eletrólitos (como sódio e potássio) que ajudam na hidratação, isotônicos possuem uma grande quantidade de açúcar, o que pode atrapalhar o emagrecimento –se esse for seu objetivo — e até resultar em ganho de peso. 

Esse tipo de bebida só é recomendado em quantidades limitadas, de acordo com as necessidades individuais e duração da atividade física –geralmente em treinos com mais de 90 minutos de duração.

Enrolar plástico na barriga não afina sua cintura

Quando corremos ou realizamos qualquer exercício o fluxo sanguíneo é destinado para manter as funções vitais, o trabalho metabólico e da musculatura. Quando você enrola um papel filme na barriga ou usa qualquer outra tática que impede a troca de calor da região, seu fluxo sanguíneo é destinado para o local, o que pode reduzir seu desempenho –já que ele deixa de ir para os músculos.

Além do mais, o uso de papel filme junto a géis redutores de gordura é perigosíssimo. Você eleva muito sua temperatura corporal, podendo até desmaiar. Ao realizar exercícios, você precisa que o suor esteja exposto, ou seja, possa evaporar e trocar o calor com o ambiente.

Ao usar a tática você pode, sim, afinar a cintura. Porém, o efeito é temporário e dura só alguns minutos, por conta da perda de líquidos da região. Quando ingerir água, tudo voltará ao normal.

 Não saia de casa sem comer

Correr em jejum não é uma boa ideia para iniciantes. Quando você faz exercícios, utiliza diversas fontes energéticas. Por isso, é importantíssimo consumir carboidratos e proteínas para suprir a energia que será consumida durante a atividade. Essa refeição pode ser feita de 30 minutos –se for um lanche leve, por exemplo — a duas horas antes do treino –se for uma grande refeição (almoço, jantar). É claro que você não precisa comer tudo que encontrar pela frente e, sim, o suficiente para atender a necessidade do exercício –um nutricionista é o melhor profissional para indicar o cardápio pré-treino ideal para seu objetivo e atividade física.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.