Topo

Paola Machado

Substâncias encontradas nos pesticidas e nos plásticos podem engordar

Paola Machado

27/10/2018 04h00

Crédito: iStock

A obesidade é uma doença crônico degenerativa que tem crescido de forma preocupante, principalmente em pessoas que vivem nas áreas mais industrializadas.

A alimentação inadequada –caracterizada pelo consumo excessivo de carboidratos e gorduras (principalmente saturadas) — e o baixo nível de atividades física são os principais responsáveis pelo aumento de peso.

No entanto, o problema está associado a diversos fatores e não podemos dizer que ele ocorre somente por uma ou duas razões. Há um conjunto de pontos que devem ser analisados de forma individual, observando o histórico do paciente e o que aconteceu para que ocorresse o desenvolvimento da obesidade.

Para compreender o quão complexa é essa multifatoriedade, saiba que existem evidências de que algumas substâncias e agentes químicos podem contribuir para o aumento do peso, são os chamados disruptores endócrinos. Eles promovem alterações no sistema de produção de hormônios, o que pode levar ao aumento de peso em longo prazo.

Essas substâncias são muito estáveis e podem ser encontradas em produtos que estão em nosso dia a dia, como certos tipos de pesticidas (presentes nos alimentos), produtos químicos industriais, plásticos e combustíveis. Alguns exemplos de disruptores endócrinos que temos contato com grande frequência são o bisfenóis e ftalatos, que inclusive podem estar presentes em embalagens plásticas e utensílios domésticos.

Acredita-se que essas substâncias estimulam receptores denominados PPARϓ presentes no tecido adiposo, aumentando a taxa de lipogênese, ou seja, o acúmulo de gordura, além de potencializar o aumento das células de gordura de homens e mulheres.

Alguns produtos plásticos são livres de bisfenóis A –eles apresentam a informação BPA free na embalagem –, porém, muitas vezes, a substância é substituída por outro componente similar chamado bisfenol S. Esse tipo de bisfenol é tão tóxico quanto o outro; sendo que ambos imitam a ação do estrogênio (hormônio feminino. As alterações no estrogênio podem alterar o desenvolvimento de crianças e causar puberdade precoce.

Vale ressaltar que, por precaução, alguns países, inclusive o Brasil, optaram por proibir a importação e fabricação de mamadeiras que contenham Bisfenol A, considerando a maior exposição e susceptibilidade dos indivíduos usuários deste produto.

O que fazer para ficar longe das substâncias que engordam

No dia a dia, nem sempre é possível ter certeza de quais materiais plásticos contêm disruptores endócrinos. Afinal, aquele pote antigo que você pegou emprestado da sua mãe já não tem a embalagem faz tempo, a garrafinha que ganhou de brinde na academia veio sei lá de onde. Então, o melhor é tomar alguns cuidados como:

– Trocar os talheres de plástico por talheres de aço inoxidável.

– Trocar itens da cozinha de plástico por materiais de vidro (que é inerte e não reage com alimentos) ou de aço inoxidável –atente-se: os materiais de aço devem evitar arranhões, para que não sejam expostos os metais utilizados na fabricação.

– Em lanchonetes, evite consumir ketchup, mostarda e maionese que não estão na embalagem original e ficam armazenadas naquelas bisnagas de plásticos.

– Para treinar, prefira por garrafinhas de aço inox. Além das de plástico, cuidado com as de alumínio, que também costumam ser revestidas por uma camada de plástico por dentro. Por isso, preste muita atenção na fabricação e componentes quando escolher uma garrafa de plástico ou alumínio.

– Os pais devem ficar atentos aos brinquedos das crianças em fase oral, pois elas costumam levar todos à boca. Veja com atenção a composição do produto.

– Pesquisas mostram que ferver as garrafinhas plásticas libera ainda mais as substâncias tóxicas –quando elas estão presentes em sua composição, claro. Para se ter uma ideia, um estudo mostrou que quando as garrafas plásticas foram preenchidas com água em temperatura ambiente, o bisfenol A foi lixiviado a uma taxa de 0,2 para 0,8 nanogramas por hora. Depois, ao serem expostas à água fervente, as garrafas com o produto químico passaram para uma taxa de 8 a 32 nanogramas por hora.

Apesar de não estar ainda elucidado o papel dos disruptores endócrinos sobre o impacto no aumento crescente de obesos, indícios apontam que a etiologia do ganho de peso é bem mais complexa do que se acredita ser. Portanto, quanto mais longe você conseguir ficar de possíveis causadores de problemas, melhor.

Referências:
– Chun Z. Yang; et al. Most Plastic Products Release Estrogenic Chemicals: A Potential Health Problem That Can Be Solved. Environmental Health Perspectives. 2011.
– Pontelli, R.C.N.; et al. Impact on human health of endocrine disruptors present in environmental water bodies: is there an association with obesity? Ciênc. saúde colet. 21 (3) Mar 2016.
– Bern, H et al. 1992. "Statement from the work session on chemically-induced alterations in sexual development: the wildlife/human connection". pp 1-8 in Chemically-Induced Alterations in Sexual and Functional Development: The Wildlife/Human Connection. eds T Colborn and C Clement, Princeton Scientific Publishing Co., NJ, U.S.
– Colborn, T, D Dumanoski and JP Myers. 1996. "Our Stolen Future." Dutton, NY.
– Vandenberg, L et al. 2012. "Hormones and endocrine-disrupting chemicals: low dose effects and nonmonotonic dose responses." Endocrine Reviews 33:378-455.
– Koppe, JG et al. 2006. "Exposure to multiple environmental agents and their effect." Acta Paediatrica Supplement 221: 59073.
– Heindel, JJ et al. 2015. "Developmental origins of health and disease: Integrating environmental influences." Endocrinology, 156(10): 3416-3421.
– Brown RE, Sharma AM, Ardern CI, Mirdamadi P, Mirdamadi P, Kuk JL. 2016. "Secular differences in the association between caloric intake, macronutrient intake, and physical activity with obesity". Obesity Research and Clinical Practice, 10(3): 243-255.
– Grun, F and Blumberg, B. 2006. "Environmental Obesogens: Organotins and Endocrine
Disruption via Nuclear Receptor Signaling". Endocrinology 147(6): S50–S55.
– Pedreira, G.; et al. Disruptores Endócrinos E Sua Relação com a Obesidade. International Journal of Nutrology. 2018.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.