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Paola Machado

Anorexia e bulimia: entenda como identificar e tratar esses transtornos

Paola Machado

07/02/2019 04h00

Crédito: iStock

Não comer por opção ou por condição? Comer em excesso ou não comer absolutamente nada? Os transtornos alimentares, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), são um dos problemas de saúde mais preocupantes da humanidade.

Nos países subdesenvolvidos, o número de mortes pela falta de comida, por condição, aumenta. Já nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a preocupação é com os questões como o sobrepeso, a obesidade, a anorexia e bulimia. Mas por que isto acontece?

Os transtornos alimentares (TA) são transtornos psiquiátricos com critérios diagnósticos baseados em características psicológicas, comportamentais e fisiológicas. No entanto, existe considerável variabilidade na gravidade e no tipo de TA.

Uma revisão sobre "Eating Disorders" (2011), publicada na Pediatrics in Review, considera que estes transtornos em crianças e jovens são um sério problema de saúde mental, podendo envolver, no caso da anorexia e bulimia, fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Ainda enfatiza que os transtornos alimentares afetam muito mais as mulheres do que os homens.

Os melhores tratamentos usam como base terapias, como a cognitivo-comportamental (TCC), terapia de comportamento dialético, psicoterapia psicodinâmica e diferentes formas de terapias familiares. Elas são realizadas por psiquiatras e psicológicos, juntamente com a intervenção de um nutricionista que entenda desse tipo de comportamento.

O que precisamos entender é que qualquer transtorno deve ser visto com mais sensibilidade por parte do profissional, familiares e amigos. Como parte do paciente a vontade de mudar, a motivação e confiança nas pessoas próximas é importante para ele entender e iniciar o tratamento.

Como detectar um transtorno?

Anorexia

É caracterizada por alterações extremas do hábito alimentar, consideradas patológicas (anorexia nervosa, subtipo restritivo), associadas a outros comportamentos voltados para o controle do peso, como abuso de drogas laxativas e anfetaminas (presente nos inibidores de apetite), vômitos induzidos e exercícios físicos exagerados (anorexia nervosa, subtipo bulímico).

Existem dois tipos de anorexia:

– Restritivo Prevalecem comportamentos voltados ao controle da ingestão alimentar, como refeições restritivas (ex.: hipocalóricas, de baixo teor lipídico, hipoprotéicas), diminuição do número de refeições diárias ou jejum, que pode ser de algumas horas ou períodos mais longos.

– Bulímico (binge-eating / purging) Prevalecem comportamentos purgativos como vômitos, diarreia decorrente do abuso de laxantes; uso/abuso de inibidores do apetite e laxantes, prática de exercício excessivo voltado à perda de peso, além dos comportamentos restritivos que também podem estar presentes.

Dentre os principais sintomas estão:

  • Vontade de sempre estar magro e culto pela magreza. Medo intenso de ganhar peso ou tornar- se "gordo", mesmo estando abaixo do peso.
  • Distorção de imagem corporal, problema na maneira de vivenciar sua forma ou peso corpóreo, influência indevida da forma ou peso corpóreo na autoavaliação, ou negação da seriedade do baixo peso atual.
  • Recusa em manter o peso mínimo para a idade e a altura, por exemplo, perda de peso e manutenção desta em 15% ou mais do esperado, ou ausência de ganho de peso esperado para aquele período de crescimento, levando a um peso menor do que 85% do esperado.
  • Transtornos de ansiedade generalizada (TAG).
  • Transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
  • Fobia social.
  • Depressão.

Em crianças e adolescentes, o médico deverá se atentar na perda de peso rápida ou grave (saindo do percentual de crescimento), exercício ou dieta em excesso, preocupação em contar as calorias dos alimentos e preocupação excessiva com o peso e com a forma do corpo.

Bulimia

A bulimia nervosa pode acontecer de forma isolada ou estar associada à anorexia. Caracteriza-se por episódios de compulsão alimentar (ingestão de grandes quantidades de alimentos dentro de um período de duas horas) e perda de autocontrole. Esse transtorno se divide em 2 subtipos:

– Tipo sem purgação O indivíduo usa outros comportamentos compensatórios inadequados, tais como jejuns ou exercícios excessivos, mas não se envolve regularmente na autoindução de vômitos ou no uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas durante o episódio atual.

– Tipo Purgativo Este subtipo descreve apresentações nas quais o indivíduo se envolve regularmente na autoindução de vômito ou no uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas durante o episódio atual. A pessoa costuma utilizar os próprios dedos para provocar o vômito ou objetos que estimulem o reflexo de vômito. É comum que esses pacientes escondam seus hábitos alimentares compulsivos e seus métodos purgativos por um sentimento de vergonha.

Dentre os sintomas estão:

  • Cometer excessos alimentares e ter comportamentos compulsivos –e por impulso –, associados a estratégias compensatórias inadequadas ou purgação — indução de vômito, uso de laxativos ou mesmo emagrecedores, excesso de treino, alternar a compulsão ao alimento a longos períodos de jejum.
  • Similares à anorexia nervosa, indivíduos com bulimia nervosa também exibem psicopatologia, incluindo o medo de estar acima do peso.
  • Transtornos de humor (depressão, bipolaridade, ansiedade), usando, muitas vezes, medicamentos para combater estes altos e baixos.
  • Comportamentos de alto risco, como tabagismo, uso excessivo de drogas ou álcool, promiscuidade sexual ou extremos, como furtos.

Em crianças e adolescentes, o médico deverá se atentar a preocupação excessiva com a forma do corpo ou com o peso corporal, idas frequentes ao banheiro após as refeições e inchaço nas glândulas parótidas.

Como tratar os transtornos alimentares

Primeiro de tudo, é importante a atenção e o carinho familiar para que os sinais e sintomas não se potencializem. Para qualquer transtorno, é necessário ter paciência e buscar uma equipe especializada, que realize uma intervenção específica.

O foco principal é ajudar as pessoas a atingir um peso corporal saudável ou IMC para a sua idade, pois o ganho de peso é fundamental para apoiar outras mudanças psicológicas, físicas e de qualidade de vida, que são necessárias para a melhoria ou recuperação.

É necessário incluir a psicoeducação sobre o transtorno, incluir monitoramento de peso que deve ser feito pelo profissional –e nunca pelo paciente –, conciliado a um processo de entendimento sobre a imagem corporal. Esse processo deve envolver familiares ou o responsável pelo paciente, já que todos precisam entender o transtorno e ajudar.

O episódio de compulsão alimentar nem sempre é planejado e geralmente é desencadeado por alguns sentimentos negativos, como a raiva, o estresse e a baixa autoestima, ou ainda após restrições alimentares ou jejuns prolongados.

Entre os episódios compulsivos, os indivíduos com o transtorno restringem seu consumo calórico total e selecionam preferencialmente alimentos com poucas calorias, evitando alimentos que considerem com um alto teor de calorias ou que provavelmente induzirão a um ataque de hiperfagia.

O tratamento ideal deve ser feito por uma equipe multidisciplinar: psiquiatra, psicólogo, nutricionista, terapeuta ocupacional, pediatra ou clínico geral. A internação deve ser considerada em certos casos mais extremos, quando há negação do tratamento ou mesmo quando o transtorno encontra-se em estágios mais avançados. As medicações são reservadas para o tratamento de comorbidades. A comunicação entre os membros da equipe deve ser intensa para que as abordagens sejam coerentes e consistentes, facilitando assim que o jovem ou adulto e sua família consigam beneficiar-se de todos os esforços a eles destinados.

Referências:
– Position of the American Dietetic Association: Nutrition Intervention in the Treatment of Eating Disorders. Journal of the AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. 2011.
– Eating disorders: recognition and treatment. NICE guideline. 2017.
– Fleitlich, B.W.; et al. Adolescent onset anorexia nervosa.  Jornal de Pediatria – Vol. 76, Supl.3, 2000.
– Carnier, June. Transtornos alimentares e obesidade. / June Carnier. –1. ed. – São Paulo: Weight Science, 2014.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.