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Paola Machado

Como sei se posso fazer cirurgia bariátrica? E como devo proceder?

Paola Machado

15/02/2019 04h00

Crédito: iStock

A obesidade é uma doença crônica e evolutiva, que tem controle e atinge aproximadamente 20% da população brasileira. O problema está relacionada a inúmeras doenças, como diabetes pressão alta, dislipidemias, esteatose hepática e alguns tipos de câncer.

O tratamento da obesidade é baseado em reeducação alimentar, atividade física orientada por profissional qualificado e, em alguns casos, intervenção medicamentosa. Porém, há que pessoas passam por todas essas etapas do tratamento e não conseguem, por inúmeros motivos, emagrecer –sendo que isso pode prejudicar e muito a saúde do indivíduo. Por isso, a cirurgia bariátrica entra como estratégia para alguns indivíduos que não obtiveram sucesso pelas vias tradicionais.

Como eu sei se tenho indicação para fazer a cirurgia bariátrica?

Esta é uma pergunta frequente nos consultórios médicos e muito importante para se definir se o tratamento será clínico ou cirúrgico.

O primeiro ponto a ser falado é que a cirurgia bariátrica é uma intervenção para tratamento de uma doença e não possui cunho estético. Dito isto, vamos entender quem tem indicação para a cirurgia.

O indivíduo candidato à cirurgia bariátrica deve possuir o diagnóstico de obesidade por pelo menos cinco anos e ter realizado tratamento clínico nos últimos dois anos. Além disso, deve ter o quadro clínico de obesidade severa.

E o que é obesidade severa?

A obesidade é definida pelo excesso de gordura corporal, e um método subjetivo utilizado para se fazer este diagnóstico é o cálculo do IMC (índice de massa corporal), sendo que:

  •  IMC igual ou menor que 25 – peso normal.
  • IMC entre 26 e 30 – sobrepeso.
  •  IMC entre 31 e 35 – obesidade grau I.
  • IMC entre 36 e 40 – obesidade grau II.
  • IMC maior que 40 – obesidade grau III.

A obesidade severa deve ser detectada junto com a análise clínica e exames laboratoriais e de imagem específicos, para avaliar se há comprometimentos mais graves no organismo, sendo que esta é definida como:

  • Obesidade grau II associada a duas ou mais doenças que são agravadas pela própria obesidade.
  • Obesidade grau III associada a diversas patologias, sendo a mais grave e com risco de morbidade.

Sabendo agora que você pode ser um candidato a cirurgia bariátrica, o que fazer?

A procura de um profissional médico qualificado é fundamental para que não ocorra uma cirurgia desnecessária. Tudo começa com a avaliação de um endocrinologista, que seja credenciado junto à Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e fará uma avaliação clínica completa, avaliando as possíveis causas de obesidade, podendo ou não indicar uma cirurgia bariátrica.

O segundo passo é procurar uma equipe interdisciplinar que possa promover as orientações de saúde alimentar (nutricionista e/ou nutrólogo), de saúde mental (psicólogo e/ou psiquiatra) e práticas de atividade física (fisioterapeuta e/ou profissional de educação física), pois estes cuidados são fundamentais para o sucesso da cirurgia bariátrica.

As orientações de saúde alimentar estarão voltadas para um processo de reeducação alimentar, que se inicia no período de pré-operatório. Ele vai ensinar o indivíduo a se adaptar com a nova vida. Não existe uma restrição alimentar, o que será implementado é uma alimentação saudável, estimulando a boa escolha dos alimentos, uma mastigação eficaz e uma frequência alimentar correta. Uma perda de 10% do peso, no período pré-operatório, está relacionada a um melhor resultado da cirurgia.

As orientações de saúde mental, além de uma avaliação psicológica, que pode até contraindicar o procedimento, também ajudarão no melhor entendimento da cirurgia. Neste caso, não se trata de terapia psicológica e sim de orientações que serão necessárias para uma melhor adaptação do indivíduo no processo pós-operatório, ajudando-o a ter um melhor entendimento de si mesmo –imagem corporal, medos e angustias — e um melhor relacionamento com a família e o meio social.

O incentivo à prática de atividades físicas após a recuperação cirúrgica –e quando houver liberação médica — é fundamental para um bom resultado cirúrgico, pois durante o processo de emagrecimento ocorre uma perda de massa magra e de massa gorda, e isto interfere diretamente no metabolismo basal.

Quem nunca ouviu a seguinte frase: "Eu não como nada e não consigo emagrecer"? Isto é bem verdade nos pacientes bariátricos que não realizam atividade física, o que chamamos de "efeito platô". Por que isso ocorre? Com a perda de massa magra ocorre uma diminuição do metabolismo basal, ou seja, precisamos de menos calorias para manter as funções normais do nosso corpo, e mesmo comendo pouco o paciente para de perder peso.

Aí é que entra a atividade física de esforço orientada por um profissional de educação física qualificado, pois o ganho de massa magra fará com que o metabolismo basal, bem como todo o processo de regeneração muscular, consuma mais energia favorecendo a perda de peso continuada, fugindo do tão temido "efeito platô".

Os tipos de cirurgia

Sabendo agora que a cirurgia bariátrica é bem mais que uma cirurgia, ou seja, é um programa que envolve toda um trabalho interdisciplinar, vamos falar um pouco sobre a cirurgia em si.

Existem diversos tipos de cirurgia, porém no Brasil só cinco são autorizados, e os métodos mais utilizados são

  • Derivação Gástrica em Y-de-Roux (Bypass Gástrico);
  • Gastrectomia Vertical (Sleeve Gástrico).

As duas técnicas são eficazes e promovem uma perda de peso duradoura. Para realizar qualquer procedimento bariátrico é necessária uma avaliação cardiológica, bem como uma avaliação pulmonar pré-operatória para diminuirmos os riscos de complicações cardiorrespiratórias da cirurgia.

Todo paciente bariátrico será submetido a uma endoscopia digestiva alta para verificar a vitalidade do estômago, a uma ultrassonografia do abdome para verificar a ausência de doenças hepática e abdominais. Além disso, é preciso avaliar a função renal, de coagulação e outros distúrbios que possam interferir no procedimento cirúrgico.

O cirurgião que realiza as cirurgias bariátricas são os cirurgiões gerais ou do aparelho digestivo com certificação de área de atuação em cirurgia bariátrica, e que devem estar associados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

Enfim, cirurgia bariátrica auxilia no tratamento da obesidade, portanto não é um procedimento estético, devendo ser indicado em casos de obesidade severa, e acompanhado por uma equipe interdisciplinar composta por médicos, cirurgiões, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e educadores físicos, para que o resultado obtido possa ser efetivo e duradouro.

*Colaboração do médico Mariano Menezes, cirurgião do aparelho digestivo e mestre em ciências cirúrgicas pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)

Referências:
– www.sbem.org.br
– www.sbcbm.org.br
– Ministério da Sáude – Brasil. Vigitel 2015.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.