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Paola Machado

O que a mamãe em fase de amamentação pode ou não pode comer

Paola Machado

26/02/2019 04h00

Crédito: iStock

A fase de lactação ou amamentação é considerada um período de grande importância para a nutrição da criança.

O aleitamento materno fornece uma diversidade de benefícios à saúde do bebê, como nutrientes em quantidades adequadas e suficientes nos primeiros seis meses de vida e fatores imunológicos que protegem a criança de doenças infecciosas.

Benefícios em longo prazo também já são reconhecidas pelo aleitamento materno, como redução no risco de desenvolvimento de obesidade, diabetes mellitus e síndrome metabólica. Atualmente, recomenda-se o aleitamento materno de maneira exclusiva por seis meses.

O contato com diferentes sabores e a formação do paladar da criança iniciam-se em fases precoces da vida, começando na fase de gestação e lactação. Estudos científicos comprovam esta relação. Sabe-se que o líquido amniótico e o leite materno possuem sabores que são recebidos pelo feto na fase intra-uterina e pelo bebê durante a lactação por meio dos hábitos alimentares materno.

Portanto, a alimentação da mamãe pode contribuir na formação das preferências alimentares da criança já durante a gestação e na fase de aleitamento materno, impactando de maneira bem evidente no desenvolvimento.

Um aspecto importante a ser considerado é que a fase de lactação é uma fase de grande demanda energética. A mamãe que está amamentando exclusivamente o seu bebê chega a gastar quase 700 kcal ao dia para garantir a produção láctea. Desta maneira, quando apresentam um estilo de vida saudável, tendem a reduzir o peso e alcançar seu peso pré-gestacional com mais facilidade.

O que deve ser incentivado à mamãe na fase de amamentação?

  • Frutas, verduras e legumes

O consumo destes alimentos é extremamente importante na alimentação da mamãe lactante, pois são as principais fontes de vitaminas e minerais pela alimentação. A composição de vitaminas do leite materno depende do consumo alimentar da mãe, o que reforça a necessidade de uma alimentação saudável pela nutriz.

Estudos também comprovam que o consumo destes alimentos na fase de lactação aumenta a aceitação do bebe na fase de alimentação complementar, gerando um impacto positivo na aceitação alimentar nos primeiros anos de vida da criança.

  • Variedade de alimentos

A variedade dos alimentos é de fundamental importância para garantir o aporte dos diversos nutrientes, que serão importantes para garantir a composição adequada do leite materno. A variedade de ingestão alimentar na fase de lactação também aumenta a exposição com variedade de sabores à criança.

  • Hidratação

Na fase de lactação, recomenda-se aumentar a ingestão de água, pois as nutrizes estão mais vulneráveis a desidratação, em especial em regiões mais quentes do país. Portanto, garantir a correta hidratação, no mínimo 2 litros de água por dia é uma prática fundamental.

  • Consumo de ácidos graxos polinsaturados

As gorduras polinsaturadas são de dextrema importância para a formação do sistema nervoso central do bebê, da retina, para a regulação positiva na expressão de diversos genes que regulam o metabolismo e as reservas corporais de gordura.

Na fase de amamentação, o bebê recebe estes ácidos graxos via leite materno, o qual contém proporções diretamente relacionadas à ingestão alimentar da mãe. Por isso, recomenda-se ingestão de fontes alimentares de ômega 3, obtidos por alimentos como peixes e sementes. A necessidade de suplementação de ômega 3 deve ser avaliada por um médico ou nutricionista, com base na ingestão alimentar materna.

O que não deve ser incentivado na fase de amamentação?

  • Consumo de álcool

O consumo de bebida alcoólica não é recomendadona fase de amamentação, pois é transferido ao leite materno de maneira muito eficiente. A quantidade de álcool do leite materno é proporcional à ingestão materna. O pico de concentração do álcool no sangue após a ingestão ocorre em torno de 30 a 90 minutos e sua eliminação ocorre após 2 horas.

Os efeitos do álcool no bebê incluem sonolência, sono profundo, fraqueza e ganho de peso inadequado, comprometendo inclusive o desenvolvimento. Portanto, as mães devem ser desestimuladas a ingerirem bebidas alcoólicas em qualquer fase da lactação.

  • Cafeína

Em estudos experimentais, o consumo de cafeína no período perinatal (gestação + sete dias após o nascimento) em doses moderadas alterou o desenvolvimento e o comportamento da prole. Em humanos, não existem evidências comprovadas. Assim, as recomendações para ingestão de cafeína na fase de lactação pela mãe corresponde a uma dose máxima de 200 a 300 mg de cafeína, o que equivale a 2 a 3 xícaras de café por dia.

  • Gordura trans

Os ácidos graxos trans (AGT) estão presentes no sangue e leite materno em quantidades proporcionais à ingestão materna. Portanto, são disponibilizados ao bebê be e possivelmente incorporados em diversos tecidos do organismo fetal e do neonato. As principais fontes alimentares de ácidos graxos trans são os alimentos ultraprocessados, ou seja, alimentos industrializados.

Estudos experimentais revelam que a ingestão de gordura trans durante a gestação e lactação pode interferir no controle da fome e da saciedade da geração futura, alterar o metabolismo e a disponibilidade de ácidos graxos polinsaturados, contribuindo para alterações metabólicas e maior risco de doença cardiovascular.

  • Restrição calórica

A fase de amamentação não deve ser uma fase de restrição na ingestão de calorias, pois a ingestão insuficiente de calorias pode prejudicar a produção de leite materno. A nutriz deve estar consciente que o processo de amamentação por si só já promove redução de peso, pois é um ato que envolve grande gasto calórico.

*Colaboração da nutricionista Dra. Deborah Masquio (UNIFESP)

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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.