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Paola Machado

O que tem nas bebidas energéticas? Elas são mesmo prejudiciais à saúde?

Paola Machado

27/02/2019 04h00

Crédito: iStock

O consumo de bebidas energéticas tem aumentado, principalmente entre os jovens. Então, imagine como vai ser nessa semana de Carnaval que a galera vai querer estar a mil?

Considera-se uma bebida energética ou também "Energy Drink", todo o preparado líquido, pronto para ser consumido, e que tenha a adição de um ou mais dos componentes a seguir: cafeína, inositol, glucoronolactona, ou taurina, podendo ainda ter a adição de vitaminas e minerais em até 100% da ingestão diária recomendada.

Não existe um posicionamento consolidado sobre a sua utilização, mas alguns estudos têm relacionado o seu consumo a elevadas taxas de mortalidade, então, para entendermos um pouco melhor, vamos a um breve comentário sobre os seus componentes.

  • Cafeína

Este é o principal ingrediente encontrado em bebidas energéticas e os seus níveis podem variar largamente. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) descreve que a quantidade máxima permitida de cafeína em uma bebida energética é de 35 mg por 100 ml, e para que você tenha uma ideia desta quantidade, temos um comparativo a seguir: uma xícara de café (50 ml), contém cerca de 80 a 120 mg de cafeína, dependendo se for café expresso, coado, dentre outras questões; o chá mate tem cerca de 50 mg e uma latinha de Coca-cola não pode ter mais 65 mg.

Para alguns cientistas, o consumo de 300 mg por dia de cafeína, pode estar associado a diversos efeitos adversos, como hipertensão, parto prematuro e tem até indícios de morte súbita, sem contar comprometimentos neurológicos e ósseos em médio e longo prazo.

  • Guaraná

O guaraná é uma planta da América do Sul que contém um composto chamado guaranina cafeína. Em 1 grama de guaraná é possível obter boa quantidade deste componente altamente estimulante, com também efeito diurético e que pode, de acerta forma, favorecer com um quadro de dependência química. A FDA (Food and Drug Administration) não avaliou em detalhes todas as possibilidades de utilização do guaraná, portanto os riscos e benefícios permanecem desconhecidos.

  • Açúcares

O teor de açúcar pode vir sob a forma de sacarose, glucose ou xarope de milho rico em frutose, variando em quantidades entre 21 g a 34 g em uma lata de energético. Os usuários que consomem duas ou três bebidas energéticas por dia podem ingerir de 4 a 6 vezes a dose máxima recomendada diariamente de açúcar, favorecendo o ganho de peso, alteração no consumo alimentar (intensificação de fome e apetite), sem contar na sobrecarga pancreática e uma propensão ao desenvolvimento de um diabetes no futuro.

  • Taurina

Formada pelo fígado, a taurina é um aminoácido não essencial cuja ação relaciona-se a melhora na sinalização da leptina e da insulina (melhor controle alimentar e metabólico), melhora na regulação da ingestão alimentar e na transformação da glicose em energia. De fato, sabe-se que a taurina pode ajuda no desenvolvimento cerebral, contribuir com a adequada manutenção dos níveis de minerais e água do organismo, além de até mesmo melhorar o desempenho atlético, mas pense que estes efeitos ainda não foram 100% evidenciados como benéficos na prática clínica.

É encontrada naturalmente em frutos do mar, carnes e leite, e em alimentos energéticos (pão, batata, massa); nas bebidas energéticas a sua concentração pode chegar em uma quantidade máxima de 400 mg por 100 ml. É importante comentar que os estudos acerca de seus efeitos positivos ainda não bastante inconclusivos, assim como também não há evidências de que o consumo em grandes quantidades seja benéfico para o organismo, uma vez que tudo o que beira o exagero, não traz benefícios.

  • Ginseng

Há alegações de que o ginseng aumenta a performance atlética, fortalece o sistema imunológico e melhora o humor. Alguns estudos comprovam seus benefícios para o sistema nervoso central, nas doenças cardiovasculares, em processos infeciosos e no câncer, entretanto, do lado oposto, ainda temos muito a esclarecer, principalmente sobre seu mecanismo de ação e também toxicidade, uma vez que encontramos apontamentos na literatura sobre uma provável dose tóxica. Por isto deve ser usado com cautela, já que pode causar efeitos colaterais indesejáveis em doses ainda desconhecidas.

  • Vitaminas B e outros aditivos

Estudos sugerem que as vitaminas do complexo B podem melhorar o humor e até mesmo combater doenças cardíacas e câncer, mas a quantidade contida em cada bebida energética não é suficiente para sugerir qualquer efeito significativo, valorizando cada vez mais a necessidade de uma alimentação que respeite suas preferências, mas que seja nutricionalmente ajustada as suas necessidades nutricionais.

E ai? Conseguiu chegar em alguma conclusão? Vale a pena utilizar um produto que tem resultados tão controversos e inconclusivos? Pense a respeito e ainda considere a seguinte situação, cada vez mais frequente entre os jovens: a mistura de energéticos e bebida alcoólica.

Tem perigo misturar vodca ou bebidas alcoólicas com os energéticos?

O álcool, por si só, já causa vários efeitos, na maioria indesejáveis, ao nosso organismo; considerado uma substância com efeito bifásico, alterna a fase estimulatória, em que contribui com a desinibição, sem uma noção crítica, ocorrendo uma redução do estresse e tensão e um aumento da afetividade; seguida por uma fase depressora, caracterizada pelo cansaço extremo, confusão e fraqueza/fadiga.

Quando a pessoa utiliza muita bebida alcoólica, está dando condições para o desenvolvimento de tolerância do estado depressor e, assim, o indíviduo precisará ingerir cada vez mais e mais bebidas para a obtenção do efeito de felicidade plena.

Já a bebida energética, muitas vezes consumida isoladamente, é relatada por usuários pela melhora do desempenho psicomotor (tempo de reação, atenção, memória imediata e sensações subjetivas de alerta e vigor), do humor e do desempenho físico.

Quando as bebidas destiladas, por exemplo vodca, saque, uísque são combinadas com bebidas energéticas elas se tornam uma mistura perigosa, pois reduzem o efeito "depressor" do álcool, aumentando o efeito estimulante ou a taxa de metabolização nos casos de intoxicação, caminhando junto a falta de limites. Alguns pesquisadores relatam que a combinação pode ser causa de vários acidentes de trânsito, em que o indivíduo faz um juízo errado de suas capacidades psicomotoras, pelo estado euforia exacerbado.

Há também relatos de sensibilidade à combinação, como exemplo, em 2001, a BBC News publicou três casos de morte na Suécia associadas ao uso abusivo de bebidas alcoólicas com energéticos por alterações cardiovasculares, com concomitante atividade física intensa.

Quando a cafeína se mistura com o álcool ocorre o efeito sobre a redução do tempo de perda do reflexo postural induzido pelo álcool, modulação do efeito ansiolítico, aumento do consumo voluntário e aumento da atividade locomotora. Por isto, esta combinação é preocupante, pois ocorre um aumento do uso abusivo do álcool e da dependência.

Temos que levar em conta que algumas pessoas são sensíveis à bebida energética, podendo sofrer de efeitos colaterais com maior intensidade como: insônia, taquicardia (pelo aumento da frequência cardíaca), parestesia (dormência dos membros ou sensação de "formigamento") e aumento da pressão arterial.

Portanto cuidado! Se for beber, preste atenção nas misturas e na quantidade consumida. Vodca e energético é uma mistura que pode te trazer um estado pleno de felicidade momentâneo, mas pode estar associada a vários efeitos adversos de maior gravidade num futuro breve.

Tudo na vida deve ser consumido com moderação, inclusive bebidas energéticas. Procure um médico ou nutricionista para melhor orientação.

*Colaboração da nutricionista Dra. Samantha Rhein (UNIFESP)

Referências:
– http://www.unicamp.br/unicamp/ju/617/estudo-investiga-acao-da-taurina-no-sistema-nervosotexto ("Suplementação de Taurina em animais desnutridos obesos: Análise dos mecanismos moleculares da ação hipotalâmica da insulina e leptina e repercussões no metabolismo energético" – Camargo, RL. Carneiro, EM.)
– Resolução RDC no 273, de 22 de setembro de 2005. Panax ginseng and Panax quinquefolius: From pharmacology to toxicology. Mancuso, C. Santangelo, R. Food and Chemical Toxicology. Volume 107, Part A, September 2017, Pages 362-372.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.