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Paola Machado

Síndrome metabólica: como a alimentação pode ajudar a controlar problema?

Paola Machado

12/03/2019 04h00

Crédito: iStock

A síndrome metabólica é considerada como uma doença crônica. Ela é caracterizada por um conjunto de alterações metabólicas, que incluem glicemia elevada ou diabetes mellitus, excesso de colesterol ou triglicérides no sangue, redução de HDL-c, elevação de pressão arterial e excesso de gordura na região abdominal.

A combinação de todas essas alterações é denominada de síndrome metabólica, e a sua presença aumenta o risco de doenças cardiovasculares e mortalidade. Portanto, o controle precisa ser realizado tão logo se diagnostique qualquer uma dessas alterações.

O principal fator envolvido no desenvolvimento da síndrome metabólica é a obesidade –e, consequentemente, todos os fatores que levam ao acumulo de gordura corporal, como ingestão alimentar hipercalórica, sedentarismo, ingestão excessiva de açúcar e gorduras.

O tratamento convencional inclui mudanças no estilo de vida, como dieta e prática de exercício físico. O tratamento medicamentoso muitas vezes é necessário, a depender da indicação médica.

Como a alimentação pode ajudar no controle da síndrome metabólica?

A dieta é considerada uma estratégia importante e imprescindível para o controle das alterações metabólicas. Entretanto, importante ressaltar que deve ser realizada junto a outras estratégias mencionadas.

Um recente artigo publicado por pesquisadores canadenses da Universidade de Quebec reforça as principais estratégias para a prevenção e tratamento da síndrome metabólica, como hábitos alimentares, comportamento alimentar adequado e prática de exercício físico. Atualmente, a capacidade dos nutrientes e compostos bioativos influenciarem a expressão genética e o metabolismo (nutrigenômica e metabolômica) são estratégias possíveis de ser consideradas e adotadas na prática clínica, bem como a modulação da microbiota intestinal.

A perda de peso é uma das prioridades no tratamento da síndrome metabólica em indivíduos com obesidade e sobrepeso. A redução da gordura corporal já contribui para minimizar o quadro de síndrome metabólica, por isso, a dieta de restrição calórica se faz necessária em alguns casos.

Comportamento e hábitos alimentares

  • Deve-se priorizar os alimentos in natura e integrais, garantindo o consumo de 20 a 30 gramas de fibras ao longo do dia. As fibras produzem efeitos benéficos sobre o controle glicêmico e lipídico.
  • Deve-se evitar o consumo de açúcar e produtos e bebidas que o contenham.
  • Devem ser evitados alimentos gordurosos em geral, como carnes gordas, embutidos, laticínios integrais, frituras, gordura de coco, molhos, cremes e doces ricos em gordura.
  • Priorizar o consumo de alimentos fontes de ômega 3, como salmão, sardinha, cavala e arenque. Sementes e óleo de chia e linhaça também são consideradas fontes de ômega 3.
  • Evitar o consumo de alimentos fontes de ácidos graxos trans, pois aumentam o LDL-colesterol e triglicerídeos e reduzem a fração do HDL-colesterol. A maior contribuição desses ácidos graxos na dieta origina-se do consumo de óleos e gorduras hidrogenadas, margarinas duras e shortenings (gorduras industriais presentes em sorvetes, chocolates, produtos de padaria, salgadinhos tipo chips, molhos para saladas, maionese, cremes para sobremesas e óleos para fritura industrial).
  • O consumo de sal de cozinha deve ser limitado a 6 g/dia.
  • Padrão alimentar baseado na dieta DASH e Dieta Mediterrânea pode ser uma opção terapêutica na síndrome metabólica quando associado a uma intervenção no estilo de vida. Estas dietas preconizam o consumo de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas, laticínios com baixo teor de gordura total, gordura saturada e trans e colesterol, alta quantidade de gordura monoinsaturada (azeite e abacate) e ácidos graxos ômega 3. Elas ainda fornecem altas quantidades de potássio, magnésio e cálcio.
  • Fracionamento: a dieta deve ser fracionada em 5 a 6 refeições ao dia.
  • Nutrigenômica e metabolômica: diversos estudos científicos confirmam que os compostos bioativos presentes em alimentos são capazes de modular a expressão de genes que minimizam as alterações metabólicas. Estes compostos bioativos podem atuar aumentando a sensibilidade à insulina, reduzindo a produção de triglicerídeos , colesterol e inclusive o acúmulo de gordura corporal.

  • Modulação da microbiota intestinal: a alteração de microbiota intestinal também está relacionada ao desenvolvimento de síndrome metabólica, devido ao processo inflamatório subclínico ocasionado por partículas bacterianas que ativam o sistema imunológico levando à inflamação. Portanto, a alimentação equilibrada, rica em fibras é essencial para manter uma microbiota saudável. Em alguns estudos clínicos, a utilização de probióticos também vem sendo apontado como estratégia para redução de alterações metabólicas, como resistência à insulina, dislipidemias e hipertensão arterial.

*Colaboração da nutricionista Dra. Deborah Masquio (UNIFESP)

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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.