Topo

Paola Machado

Contar ou não contar as calorias? Entenda se a estratégia vale a pena

Paola Machado

29/05/2019 04h00

Crédito: iStock

Atualmente, encontra-se muito em discussão entre os profissionais da área da saúde a importância e relevância da contagem de calorias da dieta. Já se sabe há muitos e muitos anos que o balanço energético é determinado pelo consumo e pelo gasto calórico.

O acúmulo de gordura corporal ou a dificuldade em perder peso está relacionada a um balanço energético positivo.

  • Balanço energético positivo: Refere-se ao consumo calórico acima da quantidade calórica que você gasta em um dia, o que em longo prazo promove ganho de peso e obesidade.
  • Balanço energético negativo: Refere-se ao consumo calórico abaixo da sua necessidade energética diária.

Hoje é cada vez mais debatido o sentido real da nutrição e da dieta em nossas vidas. Atualmente suscita-se uma grande discussão: contar ou não calorias?

Como calcular a necessidade energética?

Na prática clínica, a necessidade energética de uma pessoa é estimada pelo uso de equações matemáticas que consideram variáveis como peso, idade, altura e nível de atividade física. Um cálculo complexo que foi originado de muitos estudos científicos para ser determinado.

A aplicação destas equações fornece a necessidade energética total (NET) que corresponde a quantidade de calorias necessárias para manter o seu peso, considerando as suas dimensões corporais e o quanto você se movimenta por dia.

A partir deste cálculo, estima-se o valor energético da dieta (VET) e então realiza-se a distribuição das calorias entre os macronutrientes: carboidratos, proteínas e lipídeos.

Exemplo de equações:

Por que não contar calorias?

Muitas linhas de atuação atualmente defendem que o que se come é o mais importante do que o quanto se come. Parcialmente isso é explicado pela diferença de composição dos alimentos, principalmente quando se compara alimentos in natura ou minimamente processados com alimentos ultraprocessados.

O consumo de 65 kcal de uma maçã é completamente diferente de 65 kcal fornecidos por uma barrinha de cereal. Veja o quadro comparativo.

O consumo de 65 kcal proveniente de uma maçã será acompanhado de componentes e nutrientes oferecidos pela natureza, incluindo compostos antioxidantes. Já o consumo de calorias provenientes de alimentos ultraprocessados são acompanhados de uma grande quantidade de ingredientes produzidos industrialmente.

Contagem de calorias não significa alimentação saudável

Algumas pessoas que se fixam em contagem de calorias, esquecem de pensar na qualidade do alimento escolhido. Como vimos anteriormente, as calorias de produtos ultraprocessados são acompanhadas de adição de açúcar, sódio e muitas substâncias produzidas industrialmente (aditivos químicos).

Os efeitos do consumo excessivo de açúcar e sódio são confirmadamente relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes mellitus e hipertensão arterial, respectivamente. Adicionalmente, os efeitos dos aditivos químicos na saúde humana ainda não estão completamente elucidados, prova disso são os efeitos sobre a microbiota intestinal.

Dieta de restrição calórica nem sempre são benéficas

A ingestão calórica de uma quantidade de calorias inferior à sua necessidade energética (NET) pode te levar a perda de peso. De fato, é o que se espera e acontecerá na maioria dos casos. Entretanto, nem sempre uma dieta restritiva trará benefícios. Muitas pessoas tornam-se vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos alimentares e comer transtornado após seguirem um período de dieta restritiva.

A dieta restritiva pode levar a sensação de fadiga, cansaço e baixo rendimento. Ou até mesmo levar a compulsão alimentar após o período de dieta, o que leva ao famoso efeito io-io ou efeito sanfona. Esta situação desregula o equilíbrio fisiológico dos hormônios envolvidos na fome e saciedade e prejudica o processo de emagrecimento.

Foco na comida e não na culpa

A comida faz parte da nossa rotina diária. Comer é um ato que realizamos várias vezes ao dia e todos os dias da nossa vida. Por isso, sugere-se que criemos uma boa relação com o alimento, e não estabeleçamos uma relação de culpa.

Recomenda-se que no momento da alimentação seja valorizado às sensações que a ingestão dos alimentos nos proporciona, como o estímulo sensorial, textura, sabor e mesmo prazer ao ingeri-lo. O segredo é mantermos uma relação de consciência e moderação com o que se come.

Efeitos na microbiota intestinal

Hoje sabe-se da diversidade de efeitos que uma microbiota intestinal desempenha em nosso organismo. Diversas doenças crônicas estão relacionadas ao desequilíbrio da microbiota do intestino, como síndrome metabólica, resistência à insulina, obesidade e esteatose hepática não alcoólica.

Entre os determinantes da microbiota intestinal, destaca-se o padrão alimentar. De acordo com estudos recentes experimentais, tem-se observado que o consumo de aditivos pode estar relacionado a alterações de microbiota intestinal.

Quando contar calorias?

Existem situações onde se recomenda o cálculo de necessidade energética e distribuição de macronutrientes para alcance de condutas dietoterápicas específicas. Pessoas em situações patológicas muitas vezes precisam de uma quantidade limitada e específica de calorias e nutrientes. Exemplo destas situações: pacientes em obesidade, desnutrição ou restrição proteica (exemplo de pacientes renais).

Portanto, o nutricionista deve analisar cada situação e verificar a melhor conduta a ser adotada em cada caso.

*Colaboração da nutricionista e pesquisadora Dra. Deborah Masquio

Referências:
– ROCA-SAAVEDRA P, Mendez-Vilabrille V, Miranda JM, Nebot C, Cardelle-Cobas A, Franco CM, Cepeda A. Food additives, contaminants and other minor components: effects on human gut microbiota-a review. J Physiol Biochem. 2018 Feb;74(1):69-83. doi: 10.1007/s13105-017-0564.
– ASSUNÇÃO, S.S.M.; CORDÀS, T.A.; ARAÚJO, L.A.S.B Atividade Física e Transtornos
Alimentares Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo,v. 29, n.1, p. 4-13, 200.
– MORGAN, C.M.; VECCHIATTI, I.R.; NEGRAO, A.B. Etiology of eating disorders:
biological, psychological and socio cultural determi eterminants. Revista Brasileira de
Psiquiatria , São Paulo, v.24, supl.3, p.18-23, 2002.
– BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 156 p.
– BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica : obesidade / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.
– UNICAMP. Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA – UNICAMP.- 4. ed. rev. e ampl.. — Campinas: NEPA- UNICAMP, 2011. 161 p.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.