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Paola Machado

Lesões por esforço repetitivo são comuns no trabalho: 4 dicas para evitar

Paola Machado

13/06/2019 04h00

Crédito: iStock

Sempre que pensamos em trabalho associamos a responsabilidades, deveres e muitas vezes a uma obrigação da vida, mas ele também faz parte de toda uma construção de identidade, envolvendo desde o bem-estar e aprendizado até a transformações nas nossas relações interpessoais. Basta pensarmos que é nesse ambiente que passamos a maior parte de nossa rotina e isso se torna determinante para a construção e desconstrução do nosso estado de saúde.

A expressão "tempo é dinheiro" influenciou o perfil de toda uma geração há alguns anos, quando as relações no trabalho valorizavam o " rendimento" e a alta carga horária a ser trabalhada era a prioridade. Embora hoje estejamos em um movimento cada vez mais consciente em relação ao cuidado com a saúde e mais engajada com o bem-estar e qualidade de vida, ainda há muitos profissionais e ambientes corporativos que estimulam um ciclo competitivo de carga horária e produtividade, onde as pessoas desrespeitam suas necessidades e impactam negativamente suas vidas, levando ao adoecimento tanto mental quanto físico.

As LER –lesão por esforço repetitivo — e DORT –distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho — representam um grupo de doenças ocupacionais, e representam as 20 principais causas de afastamento por adoecimento no trabalho.

Estão inseridas dentro da gama de distúrbios musculoesqueléticos conhecidos como transtornos traumáticos cumulativos, que acometem trabalhadores dos mais diversos grupos ocupacionais, e que frequentemente, implicam sucessivos afastamentos do trabalho e em limitações em atividades cotidianas.

  • Problemas Inflamação e degeneração, afetando principalmente estruturas como músculos, nervos, tendões, articulações e cartilagens, levando à dor e limitação funcional. Podem levar à incapacidade temporária ou permanente.
  • Causas Não há uma causa única para surgirem. Envolvem aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos, psicossociais e também fatores externos relacionados às condições e à organização do trabalho.

Tipos de LER/DORT mais comuns

  • Lesões no ombro.
  • Sinovite e Tenossinovite.
  • Mononeuropatias dos membros superiores (Lesão nos nervos periféricos, Ex: Síndrome do túnel do carpo).

Estágios de evolução das lesões

  • Grau 1 Sensação de peso e desconforto, dor espontânea durante o trabalho sem interferência na sua execução, dor leve com melhora ao repouso.
  • Grau 2 Dor persistente localizada acompanhada ou não de formigamento e calor com leve sensibilidade. É mais intensa e está presente durante o trabalho de forma contínua, é tolerável e permite a sua execução, mas afeta o rendimento.
  • Grau 3 Dor mais persistente com irradiação mais definida, perda de força muscular, sensibilidade presente, inchaço, a dor intensa está presente quando se movimenta ou se palpa. O repouso só diminui a intensidade mas não cessa a dor por completo e interfere no trabalho. Ela está presente durante o trabalho e fora do mesmo especialmente à noite.
  • Grau 4 Dor muito forte e contínua, sendo pior quando se movimenta. Há a perda de força e controle dos movimentos, presença de inchaço e impossibilita a execução do trabalho. As atividades do cotidiano ficam totalmente prejudicadas. Geralmente associa-se a quadros de depressão, ansiedade e angústia.

Quais os fatores de risco?

Cuidado! Atenção se você trabalha com tarefas repetitivas e monótonas, ou se em sua rotina há excesso de horas trabalhadas e ausência de pausas. Isso é, praticamente 90% das pessoas que conhecemos podem ser inseridas dentro dessa categoria de risco, não é mesmo?

O ambiente em que se trabalha influencia nossa saúde. A ergonomia desfavorável, por exemplo, é trabalhar com computador em uma mesa muito alta e usar a cadeira muito baixa, ou usar o monitor do computador em uma posição fora do eixo da linha da cabeça e olhos que não favoreçam a posição da coluna cervical. Outros exemplos são trabalhar em um ambiente mal iluminado com temperatura inadequada ou muito barulhento.

Relacione-se bem com as pessoas. A saúde também é influenciada pelos relacionamentos interpessoais, o mau relacionamento com colegas de trabalho ou com a chefia, a pressão de metas apertadas e intangíveis podem gerar sofrimento e ansiedade.

4 Dicas para prevenir as LER e DORT

A dica número 1 é identificar os fatores de risco capazes de levar ao desenvolvimento das LER/DORT no ambiente de trabalho; Por exemplo: você sente desconforto toda a vez que senta em uma determinada cadeira da empresa e percebe que aquela cadeira é muito alta para você pois não há como apoiar os pés no chão.

Eliminação dos fatores de risco (se possível); Por exemplo: mude a altura da cadeira de forma que encoste seus pés no chão ou use um apoio de pés e mantenha os joelhos dobrados em 90 graus. As empresas podem investir na adequação do posto de trabalho e em programas de ginástica laboral.

Pausas para descansos e mudanças de postura, por exemplo: se você permanece muito tempo sentado digitando, levante, tome uma água e caminhe. Em alguns países já existem postos de trabalho em que as mesas mudam constantemente de altura ao longo do dia para que o trabalhador alterne entre a posição sentada e em pé, e para que de quebra ele saia do sedentarismo e perca algumas calorias.

Melhorar seu condicionamento físico (prática regular de atividades físicas), por exemplo: Assim como um atleta se prepara para um jogo, temos que nos preparar para sustentarmos nosso corpo durante a nossa rotina de trabalho. Quando se pratica uma atividade física, seu corpo naturalmente se torna mais apto para encarar as jornadas de trabalho e a sua musculatura irá te proteger de se lesionar. Faça da atividade física um estilo de vida.

Impactos no Trabalho

As LER/Dort estão entre os agravos ocupacionais que mais geram sequelas aos trabalhadores: sofrimento pelos sintomas causados, limitações cotidianas, absenteísmo e afastamento do trabalho.

Um erro comum é "trabalhar doente" ou se automedicar para mascarar a dor. Muitas das vezes as pessoas sentem desconforto e continuam exercendo a mesma carga de trabalho por semanas e até meses, trabalhando sob pressão e somatizando uma grande carga de estresse que só prejudica a saúde do corpo. Geralmente as pessoas só buscam ajuda quando a lesão já está instalada de forma crônica o que dificulta o processo de tratamento.

As doenças enquadráveis em LER/DORT podem ser controladas se diagnosticadas no início e tratadas adequadamente. Fique atento se perceber algum desconforto, lembre-se que quanto mais leve o grau e estágio da lesão mais efetivo seu tratamento. Respeite seu corpo e sua mente para ser um profissional bem sucedido e ter uma vida mais saudável.

*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP, Dra. Renata Luri e da fisioterapeuta pela UNIFESP, Dra. Bruna Barreto 

Referências:
– Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Dor relacionada ao trabalho : lesões por esforços repetitivos (LER) : distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort) / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2012.
– DA SILVA, Fábio Alexandre Coutinho; DOS SANTOS, Rogério Rangel; DE MOURA, Roque Antônio. ERGONOMIA 4.0 COMO SOLUÇÃO PARA O ABSENTEÍSMO E PARA PREVENÇÃO DE LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS E DISTÚRBIOS ÓSTEOMUSCULARES NO TRABALHO. CIMATech, v. 1, n. 5, 2018.
– DALE, Alana Pires; DIAS, Maria Dionísia do Amaral. A 'EXTRAVAGÂNCIA'DE TRABALHAR DOENTE: O CORPO NO TRABALHO EM INDIVÍDUOS COM DIAGNÓSTICO DE LER/DORT. Trabalho, Educação e Saúde, v. 16, n. 1, p. 263-282, 2018.
– DELIBERATO, P C Po. Fisioterapia Preventiva: fundamentos e aplicações. São Paulo: Manole, 2002.
– HAEFFNER, Rafael et al. Absenteísmo por distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores do Brasil: milhares de dias de trabalho perdidos. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 21, p. e180003, 2018.
– ZAVARIZZI, Camilla de Paula; ALENCAR, Maria do Carmo Baracho de. Afastamento do trabalho e os percursos terapêuticos de trabalhadores acometidos por LER/Dort. Saúde em Debate, v. 42, p. 113-124, 2018.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.