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Paola Machado

Como o exercício pode ajudar no tratamento do transtorno bipolar

Paola Machado

31/07/2019 04h00

Crédito: iStock

De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), cerca de 4% da população adulta mundial sofre de transtorno bipolar e essa prevalência vale também para o Brasil, o que representa 6 milhões de pessoas no país.

O transtorno bipolar é uma doença mental marcada por mudanças extremas de humor. Os sintomas podem incluir estado de euforia (mania) e episódios de depressão. Segundo o presidente da ABTB, "a depressão é geralmente igual ou superior a 15 dias (podendo chegar a 2 anos), a mania dura pelo menos uma semana e a hipomania (euforia leve) demora ao menos quatro dias. E tudo isso é intercalado com fases de normalidade".

As pessoas com transtorno bipolar podem ter dificuldade em gerenciar tarefas do dia a dia, no trabalho e em manter relacionamentos. Não há cura, mas existem muitas opções de tratamento disponíveis que podem ajudar a controlar os sintomas.

Tipos de bipolaridade

  • Bipolar I É definido pelo aparecimento de ao menos um episódio maníaco e períodos de depressão profunda. Este tipo de transtorno bipolar afeta igualmente homens e mulheres.
  • Bipolar II Não apresentam os episódios completos. Pessoas com este tipo de transtorno bipolar experimentam um episódio depressivo maior, que dura pelo menos duas semanas. Elas também têm pelo menos um episódio hipomaníaco que dura cerca de quatro dias. Acredita-se que esse tipo de transtorno bipolar seja mais comum em mulheres.
  • Ciclotimia Pessoas com ciclotimia têm episódios de hipomania e depressão. Esses sintomas são mais curtos e menos graves que a mania e a depressão causadas por transtorno bipolar I ou bipolar II.

As causas não são claras e envolvem fatores genéticos, anormalidades na estrutura ou função cerebral ou fatores ambientais, como estresse extremo, experiências traumáticas e doenças. O diagnóstico — que envolve exames físicos, avaliações da saúde mental, diário de humor e critério diagnóstico — deve ser feito com um médico que dirá que tipo de transtorno bipolar o paciente tem.

Sintomas

Existem três sintomas principais que podem ocorrer com o transtorno bipolar: mania (euforia) , hipomania (euforia leve) e depressão.

  • Quando está passando por um estado extremo de euforia, o paciente podem se sentir excitado, impulsivo, eufórico e cheio de energia. Durante esses episódios, também pode se envolver em comportamentos de gastos extremos e compulsivos, uso de drogas e até sexo sem proteção.
  • A hipomania está geralmente associada ao transtorno bipolar II. É semelhante à mania, mas não é tão grave. Ao contrário da mania, a hipomania pode não resultar em nenhum problema no trabalho, na escola ou nas relações sociais. No entanto, pessoas com hipomania ainda percebem mudanças em seu humor.
  • Já durante um episódio de depressão, o paciente pode sentir sintomas de tristeza profunda, desesperança, redução de energia, falta de interesse em atividades de que antes gostavam, períodos de muito pouco ou muito sono, pensamentos suicidas.

Exercício físico e transtorno bipolar

O transtorno bipolar é gerenciado com medicações e terapia. No entanto, estudos demonstraram que, para algumas pessoas, incluir exercícios no seu tratamento pode trazer benefícios adicionais.

Para a maioria das pessoas, o exercício pode ter um efeito positivo no humor. Quando você se exercita, seu corpo libera endorfinas, que são conhecidas como substâncias químicas que fazem com que você se sinta bem. É por isso que o exercício é frequentemente recomendado para pessoas com depressão e até como estratégia para combater o estresse.

Por conta desses benefícios, treinar pode ajudar algumas pessoas com transtorno bipolar. Um estudo demonstrado em uma revisão descobriu que, para algumas pessoas com transtorno bipolar, o exercício ajudou a aliviar os sintomas hipomaníacos, que são menos graves do que os sintomas maníacos. Além do mais, ajudou as pessoas a dormir melhor e proporcionou um efeito calmante para algumas pessoas. Os exercícios do estudo incluem caminhar, correr e nadar.

No entanto, essa mesma revisão observou que, para outras pessoas com transtorno bipolar, o exercício pode exacerbar os sintomas maníacos. Isso poderia causar um efeito "espiral" piorando tanto nos episódios maníacos quanto nos hipomaníacos.

Por isso, o exercício físico deve ser muito bem orientado por um profissional experiente na patologia e também liberado pelo seu médico, que deve acompanhar se para aquele paciente os sintomas estão melhorando ou não.

O exercício deve ser visto como estratégia coadjuvante. Em um estudo de 2013, os pesquisadores utilizaram um protocolo que combinava exercícios, alimentação e atividades que visam bem-estar para pessoas que tinham sobrepeso e transtorno bipolar. Os resultados foram positivos na melhora de saúde em geral e peso, além de reduzir os sintomas de depressão. No entanto, eles notaram que seus resultados também indicaram que o exercício pode piorar os sintomas maníacos.

O transtorno bipolar pode afetar mais do que apenas o humor. Se a pessoa tem essa condição, corre um risco maior de ter outros problemas de saúde, tais como obesidade, AVC (acidente vascular cerebral), doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. Essas condições não só aumentam a preocupação para saúde em geral, como podem aumentar os sintomas da bipolaridade.

Uma possível razão para esses riscos de saúde é o aumento do comportamento sedentário associado à condição. Um estudo de 2017 constatou que pessoas com doenças mentais eram mais sedentárias do que pessoas sem doença mental; e, quando associavam o grupo de pessoas com doenças mentais, as pessoas com transtorno bipolar eram ainda mais sedentárias.

Além do mais, a obesidade pode ser um problema para pessoas com transtorno bipolar, já que o ganho de peso pode ser causado pelo uso de certos medicamentos. Os remédios  — antidepressivos, antipsicóticos, combinações antidepressivas-antipsicóticas, estabilizadores de humor — podem causar alterações metabólicas ou mesmo aumentar o apetite.

Assim, associar uma alimentação saudável ao exercício ideal pode ajudar a reduzir os sintomas bipolares, bem como diminuir o risco aumentado de certas condições de saúde associadas ao transtorno bipolar. Para pessoas com transtorno bipolar é recomendado exercitar-se por 30 minutos, de 3 a 5 dias por semana. Exercícios de meditação associados ao treinamento podem também ajudar muito. Porém, é de extrema importância a liberação médica para não aumentar os sintomas de euforia. Se liberado, é essencial que fale com o médico sobre agravamento de dores ou mesmo aumento de sintomas maníacos. É essencial que encontre o plano de exercícios certo, tendo em mente que diferentes tipos de exercícios funcionam para pessoas diferentes.

Referências:
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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.