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Paola Machado

Você já comeu alguma Panc? Sabe o que é?

Paola Machado

05/09/2019 04h00

A ora-pro-nóbis é uma PANC rica em proteína | Crédito: iStock

Crédito: iStock

As Panc são Plantas Alimentícias Não Convencionais; alimentos ainda pouco consumidos pela maioria das pessoas, mas que têm ganhado espaço e força nas prescrições dietéticas de nutricionistas e também no conhecimento popular.

O consumo regular e correto traz inúmeros benefícios à saúde, além de ser altamente sustentável. Na maioria das vezes, esses alimentos ocorrem de forma espontânea na natureza, uma vez que nascem e se desenvolvem sem maiores cuidados culturais, em meio a outras plantações, sendo muitas vezes confundidos com matos, ervas daninhas e plantinhas sem relevância nutricional.

Uma Panc pode ser nativa ou trazida de outros países, ser espontânea ou cultivada, portanto, ela não precisar ser "da região" para receber esta denominação, mas a acessibilidade local e a climática sem dúvida contribuem com a redução do seu custo e o aumento na concentração de componentes nutricionais bioativos.

A utilização destes alimentos traduz um resgate cultural da nossa identidade alimentar e de práticas agrícolas, preservando o meio ambiente, já que se desenvolvem em meios naturais sem a necessidade de insumos e da derrubada de novas áreas.

Em se tratando destes alimentos, a grande dúvida está relacionada com a sua utilização em nossa alimentação cotidiana, e a resposta é muito simples: deve ser feita da mesma forma que utilizamos os vegetais ou frutas –in natura, refogadas, como recheio de tortas, panquecas, em omeletes, como sobremesas. Ou seja, encontramos grande diversidade em sua forma de preparo, sem contar que você pode ousar e descobrir adaptações no preparo que o agradem.

Segundo Pollan (2008), "mais de dois terços das calorias consumidas diariamente vêm de apenas quatro vegetais cultivados em escala mundial e vinculados aos grandes impérios alimentares: milho, soja, trigo e arroz, sendo que deles muitos ainda são transgênicos. Logo, muitas características como cor, sabor, forma e nutrientes são ignoradas em programas de melhoramento, em função do parâmetro produtividade. A adaptação ao ambiente e a variabilidade genética das plantas espontâneas proporcionam maior rusticidade a estas espécies, contribuindo para a concentração de altos teores de minerais e princípios ativos". Ou seja, ao utilizamos as Panc, estamos proporcionando uma nutrição mais eficiente, já que estas plantas desempenharão com maior eficácia a sua função nutricional.

Vou te contar quais são alguns destes alimentos: bertalha, taioba, ora-pro-nobis, jambu, vinagreira. Você já provou? A partir do jambu, por exemplo, podemos fazer deliciosas geleias ou calda. E com a taioba um rolinho de carne moída! Experimentar novos sabores aumenta o nosso repertório de preferências e enriquece a alimentação; como consequência o corpo agradece tornando-se saudável e abastecido; porém, ao introduzir estes alimentos em sua dieta, atente-se à parte que está utilizando, certificando-se de que é a indicada para que não ocorra o risco de toxicidade ou efeitos indesejados.

Vale um lembrete: não é só porque uma planta é reconhecida como Panc que necessariamente será orgânica; isto depende de sua forma de cultivo, ou seja, a não utilização de veneno ou adubo químico.

Para começar a colocar em prática a utilização das Panc, surpreenda-se com seus benefícios:

Mangaba — hancornia speciosa gomes

  • Propriedades nutricionais Contém vitamina C, vitamina A, folato, betacaroteno, fenóis, flavonoides e fibras; desempenha função antioxidante e saciadora. Em linhas ainda experimentais, o seu extrato parece induzir vasodilatação e diminuição da resistência periférica, que pode resultar em um efeito anti-hipertensivo.
  • Como utilizar? A partir da polpa, podemos fazer sobremesas (tortas, bolos), geleias, compotas, sucos e sorvetes.
  • Observações importantes A polpa é rica em taninos e látex, portanto, alérgicos ao látex não podem consumir este alimento. O cozimento sob pressão por 15 a 20 minutos pode reduzir a concentração destes componentes, o que é recomendado. Uso criterioso na forma crua.

    Ora-pró-nobis — pereskia aculeata mill

    • Propriedades nutricionais Nas folhas encontramos maior quantidade de proteína vegetal disponível. Possui ainda boa quantidade de cálcio, magnésio, vitamina A, vitamina C, triptofano, zinco e fibras.
    • Como utilizar? Sua folha pode ser consumida em refogados e como ingrediente de sopas, omeletes e pães.
    • Observações importantes A parte comestível indicada tem ácido oxálico, portanto, recomenda-se o cozimento para melhorar a sua digestibilidade e aproveitamento dos nutrientes presentes.

    Azedinha — rumex acetosella l.

    • Propriedades nutricionais Alimento rico em ferro vegetal, fibras e ácido fólico. Atua na prevenção da anemia, tem efeito saciador e antioxidante.
    • Como utilizar? Pode ser utilizada no preparo de pratos doces, sucos e geleias.
    • Observações importantes Recomenda-se a utilização na forma crua de forma moderada (sucos). Deve ser evitada por quem não pode consumir carambola.

    Celósia — celosia argentea l.

    • Propriedades nutricionais Alimento rico em potássio, ácido fólico, fibras e flavonoides. Desempenha ação antioxidante, saciadora e de controle de líquidos corporais.
    • Como utilizar? As folhas podem ser utilizadas na forma refogada ou no vapor.
    • Observações importantes Utilizar folhas cozidas e sementes negras. Também chamada de espinafre africano, crista-plumosa ou suspiro.

    Almeirão do campo — hypochaeris chillensis

    • Propriedades nutricionais As suas folhas têm alto teor de cálcio, zinco, fósforo e potássio, atuando na manutenção óssea, controle de líquidos corporais, crescimento e imunidade.
    • Como utilizar? Pode ser consumida na forma de saladas, refogados e em sopas, sempre utilizando as folhas.
    • Observações importantes Para preservar a quantidade de potássio do alimento, é recomendado o preparo no vapor.

    *Colaboração da nutricionista comportamental e clínica na clínica 12 semanas Dra. Samantha Rhein (UNIFESP).

    Referências:
    – KELEN, M.E.B. Plantas alimentícias não convencionais (PANCs): hortaliças espontâneas e nativas. Porto Alegre: UFGRS, 2015.
    – MACEDO, A. PANC – Plantas Alimentícias não Convencionais. Ações de resgate e multiplicação promovem a sua volta ao campo e à mesa. Hortaliças em Revista EMBRAPA. Ano VI – Número 22 – Maio a Agosto de 2017.
    – PASCHOAL, V; GOUVEIA, I; SOUZA, N.S. Unconventional Food Plants (PANCs): the potential of Brazilian biodiversity. Revista Brasileira de Nutrição Funcional.
    – POLLAN, M. O dilema do onívoro: uma história natural de quatro refeições. Rio de janeiro: Intrínseca, 2008.
    – RANIERI, G.R. Guia prático sobre Pancs: plantas alimentícias não convencionais. 1ª ed. Instituto Kairó, 2017.
    – https://foodsafetybrazil.org

    Sobre a autora

    Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

    Sobre a coluna

    Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.