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Paola Machado

Quando é necessário suplementar vitaminas e minerais?

Paola Machado

29/10/2019 04h00

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As vitaminas e os minerais são nutrientes considerados essenciais para o funcionamento do nosso corpo. Geralmente não são produzidos pelo organismo, assim precisam ser ingeridos pela alimentação em quantidades recomendadas para que todas as suas funções sejam desempenhadas.

As principais fontes alimentares de vitaminas e minerais são alimentos in natura, ou seja, frutas, verduras, legumes, carnes, ovos, peixes, grãos, etc. A deficiência de uma determinada vitamina e ou de um mineral pode levar a diversas consequências, portanto, garantir a ingestão alimentar dentro do recomendado é uma das estratégias para se evitar uma vasta gama de doenças.

Qual é a recomendação de vitaminas e minerais?

São estabelecidos valores de referência para ingestão de nutrientes, os quais são periodicamente revisados por órgãos competentes como FAO e o Instituto of Medicine dos Estados Unidos.

As recomendações de vitaminas e minerais foram estabelecidas de acordo com a faixa etária e sexo. Portanto para cada faixa de idade existem recomendações especificas. As Dietary Reference Intakes (DRI) constituem as mais recentes recomendações de valores de nutrientes adotados pelos Estados Unidos e Canadá, amplamente utilizados no Brasil. Dentro dos conceitos das DRIS, foram sugeridos quatro conceitos de valores de referência para consumo e prescrição de micronutrientes:

  • Necessidade média estimada (Estimated Average Requirement – EAR) É um valor de ingestão diária de um determinado nutriente que supre a necessidade de metade (50%) dos indivíduos saudáveis de uma determinada faixa etária e sexo.
  • Ingestão dietética recomendada (Recommended Dietary Allowances -RDA) Indica um valor de nutriente que atende a necessidade de 97% a 98% dos indivíduos saudáveis do mesmo sexo e estágio de vida.
  • Ingestão adequada (AI) Valor de consumo recomendável, quando não se tem estabelecido os valores de RDA de um determinado nutriente. Este valor de referência é indicado quando os valores de EAR ou de RDA ainda não foram determinados.
  • Limite máximo tolerado (UL) Valor mais alto de ingestão diária prolongada de um nutriente que, aparentemente, não oferece risco de efeito adverso à saúde em quase todos os indivíduos de um estágio de vida ou sexo. É importante esclarecer que existem valores de limite para ingestão de nutrientes. De fato, os micronutrientes podem ser nocivos em doses que às vezes são apenas um pouco superiores aos valores de recomendação.

Quando suplementar vitaminas e minerais?

Antes de realizar qualquer tipo de suplementação, é necessário que seja realizada uma avaliação cautelosa da quantidade ingerida pela alimentação, analise de marcadores bioquímicos e avaliação clínica de sintomas. As investigações devem ser realizadas por médico ou nutricionista e incluem:

  • Biomarcadores para micronutrientes A dosagem da concentração serica de algumas vitaminas e minerais não podem ser traduzidos como valores absolutos de ingestão, mas são capazes de refletir a quantidade ingerida. O uso destes biomarcadores são capazes de refletir variações nos conteúdos de micronutrientes entre os compartimentos corporais, bem como processo de absorção e excreção, contribuindo para uma analise mais ampliada da situação de cada vitamina e mineral.
  • Avaliação do consumo alimentar O profissional habilitado para avaliar detalhamente o consumo alimentar é o nutricionista. Existem alguns instrumentos que podem ser utilizados para avaliar a ingestão de uma determinada vitamina ou mineral, como um registro alimentar ou questionário de frequência alimentar. Esta avaliação geralmente é realizada durante a consulta com o nutricionista.
  • Avaliação clínica A deficiência de uma determinada vitamina ou mineral geralmente manifesta-se na forma de sinais e sintomas, como alterações de pele, visão, cicatrização, queda de cabelo, cabelos secos, alteração de apetite e no paladar, alterações nas unhas, alterações de hormônios, etc.

Portanto, a suplementação é indicada quando estes fatores são avaliados conjuntamente e indicam deficiência de uma determinada vitamina ou mineral.

É melhor utilizar suplemento pronto ou manipulado ?

Depende. Geralmente, o uso de suplementos prontos é mais prático e mais barato. Entretanto, como as doses e os tipos de nutrientes são fixos na composição de cada suplemento, nem sempre atendem integralmente a necessidade de cada indivíduo, podendo apresentar doses maiores ou inferiores a necessidade. Dentre os produtos existentes no mercado, é necessário avaliar cautelosamente todos os itens presentes em cada produto. Um médico – como nutrólogo ou clínicio geral – ou nutricionista são profissionais capacitados para realizar a análise.

Já o uso de suplementos manipulados possibilita a individualização das doses de vitaminas e minerais. Assim, a formulação pode conter exatamente os tipos e as quantidades realmente necessárias de nutrientes para cada indivíduo. Adicionalmente, existem relações e proporções que devem ser respeitadas entre os micronutrientes prescritos e que devem ser consideradas no momento da prescrição. É importante que os manipulados sejam obtidos em farmácias de manipulação que sejam de sua confiança.

Suplementação não substitui alimentação saudável

A suplementação de vitaminas e de minerais não substitui a necessidade de uma alimentação saudável e equilibrada, nem tampouco traz benefícios adicionais à pessoas que não necessitam de suplementos.

Além do mais, os micronutrientes provenientes dos alimentos apresentam melhor absorção e aproveitamento pelo organismo humano do que os encontrados nos suplementos.

Outro ponto é que a suplementação indiscriminada e vitaminas e minerais traz riscos de toxicidade, e conhecer a necessidade de cada paciente é fundamental antes de suplementar. Portanto, se um nutriente faz bem em pequena quantidade, não significa que uma grande quantidade traria proporcionalmente mais benefícios. Muito pelo contrário!

Embora a suplementação de micronutrientes não seja recomendada rotineiramente para a população no geral, algumas políticas publicas elaboradas pelo Ministério da Saúde preconiza a suplementação de alguns micronutrientes para grupos de riscos e estágios de vida, como gestantes e crianças.

Antes de suplementar, consulte seu médico ou nutricionista.

*Colaboração da Dra. Deborah Masquio, nutricionista clínica funcional, clínica 12 semanas e pesquisadora da UNIFESP.

Referências:
– Cozzolino SMF. Biodisponibildiade de nutrientes.4 ed. Barurei, 2012.
– Carreiro D. Suplementacao nutricional na prática clínica. 1 ed São Paulo , 2015.
Padovani RM et al. Dietary reference intakes: aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006.
– Paschoal V; Marques N; Santana V. Suplementacao nutricional. Colecao Nutricao Clinica Funcional. 1 ed. São Paulo, 2013.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

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