Topo

Paola Machado

Parar de consumir cálcio pode ser ruim para quem costuma ter pedra no rim

Paola Machado

01/11/2019 04h00

Crédito: iStock

Por que é formado o cálculo renal (a popular pedra no rim)? O processo de cristalização não gera cálculos em todas as pessoas. Para isso ocorrer, deve haver um desequilíbrio entre promotores — cálcio, ácido úrico, oxalato, sódio, cistina, outros — e inibidores da formação dos cristais — citrato, magnésio, amino glicanos.

Alguns fatores influenciam a formação de cálculo, são eles:

  • Fatores epidemiológicos Gênero, idade, hábitos dietéticos, clima, ocupação, genética.
  • Estados de hiperexcreção — que são alterados pela a alimentação Hipercalcemia idiopática, hiperexcreção de ácido úrico, hiperoxalúria, cistinúria.
  • Anormalidades do pH urinário Em quadros de síndrome metabólica, por exemplo, o pH torna-se ácido, podendo levar a cristalização.
  • Redução do volume urinário Ocorre devido à redução da ingestão hídrica.
  • Deficiência de inibidores da cristalização Hiporcitratúria, magnésio, GAGs etc.

Todos esses fatores podem levar a distúrbios metabólicos que deixa o paciente mais suscetível a ter a patologia.

  • Problemas de hipercalciúria pode desenvolver cálculos constituídos por oxalato de cálcio.
  • Problemas de hiperuricosúria pode desenvolver cálculos constituídos por ácido úrico puro ou associado com oxalato de cálcio.
  • Problemas de cistinúria pode desenvolver cálculos constituídos por cistina.
  • Problemas de acidose tubular renal pode desenvolver cálculos constituídos por fosfato de cálcio.

Hipercalciúria idiopática

O cálcio é fundamental para nossa saúde óssea. Ele é proveniente da absorção intestinal pela alimentação ou da reabsorção óssea. Pela alimentação absorvido principalmente no jejuno e o pH baixo favorece para sua absorção. A absorção intestinal de cálcio pode ser divida em ativa saturável, a qual é mediada pela vitamina D e envolve a proteína ligadora de cálcio (Ca-Bp) e uma passiva, que pode corresponder a difusão simples ou facilitada. Entretanto, é o rim que vai regular, através da reabsorção de cálcio, todo o processo — que pode favorecer hipercalcemia.

A normocalcemia, ou seja, para a concentração de cálcio estar normal as mulheres tem que estar com o cálcio urinário < 250 mg e homens < 300 mg (ou < 4 mg/kg/24h para ambos gêneros).

Foi realizado em 1993 um grande estudo e longitudinal pelo pesquisador Curhan et al. com mais de 45 mil homens sadios por 8 anos para avaliar quem formou cálculo renal nesse período. Após isso a população foi separada por quintis. A incidência de cálculo era inversamente proporcional a ingestão de cálcio. Por isso, quanto menor a ingestão de cálcio, mais a possibilidade de se formar cálculo — o que muitos ainda pensam no oposto, já que o cálcio urinário pode estar elevado.

Anos depois, em 2002, Borght et al. recrutou pacientes com hipercalciúria. Dividiu em dois grupos, sendo um grupo com restrição de cálcio e o com restrição proteína e sal. Acompanharam por 60 meses, a incidência cumulativa de recorrência, e notaram o mesmo resultado, isto é, quanto menos cálcio na alimentação, maior a recorrência de cálculo.

Qual razão disso? No intestino formam complexos entre oxalato e cálcio dentro da luz intestinal. Assim, como não são absorvidos, em situações normais, são excretados nas fezes. Porém, quando não ingerimos cálcio, o oxalato fique livre e não tem com quem se ligar, por isso é cristalizado no rim.

Por que a restrição deve ser evitada?

  1. Ausência de clara definição entre os tipos de hipercalciúria — absortiva, renal ou óssea.
  2. Induz a hiperoxalúria secundária.
  3. Estudos prospectivos mostram que a recriação de cálcio aumenta a recorrência de cálculos.
  4. Predispõe a osteopenia devido ao balanço negativo de cálcio.
  5. A ingestão de outros nutrientes, como proteína, cloreto de sódio, oxalato e potássio, também afetam a excreção de cálcio.

Como já descrito aqui na coluna, as principais fontes de cálcio são:

As principais fontes de cálcio são os leites e seus derivados (queijos, iogurtes),  e vegetais folhosos verdes escuros (espinafre e couve). A ingestão de alimentos dos grupos dos leites e derivados ainda contribuem para a ingestão de vários nutrientes, como vitamina D, vitamina A, vitamina B12 e fósforo.

De acordo com o Conselho Federal de Nutricionistas, a quantidade correta do mineral, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), oscila entre 300 mg e 1.300 mg por pessoa, a depender da idade. Para obter o necessário por dia, indica-se o consumo de alimentos fontes de cálcio, como leite e seus derivados. Os frutos do mar também têm alto índice de cálcio. Para vegetarianos, veganos e intolerantes a lactose, recomenda-se o consumo de vegetais verdes folhosos, leguminosas, gergelim, algas, amêndoas, couve-flor, peixes e tofu.

A TACO (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos) determina:

  • Leite e derivados: em 100 ml de leite de vaca contém cerca de 120 mg de cálcio, já em uma fatia de queijo (20 g) a quantidade média de cálcio é de 140 mg 5.
  • Soja: 100 g do extrato solúvel de soja possui cerca de 359 mg de cálcio, outra opção seria o tofu, em 100 g contém 81 mg de cálcio 5.
  • Sementes: a cada 10 g de gergelim há 82,5 mg de cálcio; na linhaça em 10 g tem 21,1 mg e cálcio 5. Colocar sementes na salada é uma ótima opção para adicionar estes alimentos no dia a dia – uma colher de chá de cada uma já deixará sua salada verde bem especial.
  • Sardinha: em 100 g da sardinha assada contém 438 mg de cálcio 5.
  • Folhas verdes escuras: em 100 g de espinafre refogado contém 112 mg de cálcio, a couve refogada 177 mg de cálcio, o agrião 133 mg de cálcio e a rúcula 117 mg de cálcio 5.
  • Brócolis: em 100 g do brócolis cozido contém cerca de 51 mg de cálcio 5.
  • Quiabo: em 100 g de quiabo há 112 mg de cálcio 5.
  • Grão-de-bico: em 100 g de grão-de-bico cozido contém cerca de 49 mg de cálcio 6.]

Como exposto no início do texto, há vários fatores que podem desenvolver os cálculos, como a hiperoxalúria, hipercalciúria, hiperuricosúria, cistinúria etc. Aos poucos vou explicando cada uma delas para vocês.

Referências:
– Tabela brasileira de composição de alimentos-TACO. NEPA-UNICAMP, 2011.
– Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Conselho federal de nutricionistas
– Curhan, et al. New Engl J Med 328:833, 1993.
– Borght, et al. New Engl J Med 346:77, 2002.
– Hellberg IP: Nephrol Dial Transplant 15:117, 2000.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.