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Paola Machado

Com poder anti-inflamatório, gengibre reduz dores, náuseas e até gases

Paola Machado

12/12/2019 04h00

Crédito: iStock

O gengibre é uma especiaria bastante utilizada na culinária, conferindo sabor às preparações salgadas e doces, mas também é bastante reconhecido por suas propriedades curativas. No campo da fitoterapia, é reconhecido por suas propriedades farmacológicas e medicinais, sendo muito comercializado por sua diversidade de efeitos.

A grande maioria dos estudos valida a efetividade do gengibre em situações de má digestão, diarreia, náuseas, vômitos, desconfortos abdominais, flatulências (gases), sendo que muitas vezes terminar uma refeição com uma infusão que contenha gengibre pode ser bastante útil para quem sente aquela sensação de "peso" assim que termina a refeição. Algumas literaturas recomendam a sua utilização em processos inflamatórios como artrite reumatoide e reumatismo, por sua atividade antioxidante e anti-inflamatória. Além dessas propriedades já reconhecidas do gengibre, estudos recentes sugerem a presença de propriedades anticancerígenas, mas com dados ainda experimentais.

O provável mecanismo de combate ao tumor ocorre pela presença do composto 6-gingerol, que inibe o crescimento celular, porém este efeito ainda está sendo estudado, tendo resultados promissores inicialmente em ratos. Além disso, uma outra suposição relaciona-se com uma provável inibição na produção do fator chamado de crescimento epidérmico e que participa do processo de transformações neoplásicas; frente a estes resultados, podemos considerar o gengibre um promissor alimento quimiopreventivo e anti-tumoral, mas não podemos nos esquecer de que ele deve fazer parte de uma terapia complementar, não substituindo os tratamentos convencionais.

A quantidade de nutrientes com ação funcional, bem como a composição nutricional sofre influência direta da localização geográfica do cultivo. O rizoma é a parte comercial da planta e é fonte de antioxidantes, com componentes ativos como os óleos essenciais, local em que podem ser encontradas substâncias fenólicas, cetonas aromáticas conhecidas como gingeróis, além de shogaóis, zingibereno, falandreno, canfeno, cineol, broneol, citral e carboidratos.

Podemos encontrar carboidratos, proteínas, vitaminas do complexo B, minerais e ácido cítrico em sua composição, além da enzima zingibaína que colabora para o bom funcionamento do organismo humano e na prevenção de doenças. A ciência ocidental confirmou muitas das indicações tradicionais do gengibre e constatou que que ele possui atividades antieméticas, anti-inflamatórias e espasmolíticas; estimula secreção gástrica e a salivação; estimula a circulação periférica e aumenta a motilidade gástrica.

O gengibre foi reconhecido como seguro pelo FDA (Food and Drug Administration), sendo considerado como um aditivo alimentar, mas atenção, o seu uso também pode ser o causador de problemas relacionados a coagulação portanto cautela na utilização para pacientes que tomam altas doses de anticoagulantes varfarinicos.

Podemos encontrá-lo sob várias formas comerciais como, em em pó, e a raiz é utilizada de várias formas: decocção, infusão, extrato, tintura e xarope.

Pessoas com hipertensão também devem utilizar o rizoma de forma controlada, o aumento do metabolismo causado pelo efeito termogênico do gengibre pode elevar a pressão, caso seja utilizado em excesso. Apesar de sua propriedade contra náuseas, mulheres grávidas devem evitar o uso até a décima semana de gestação.

Apesar dos benefícios do 6-gingerol, do 6-soagol e de alguns dos fitoquímicos da série dos paradóis, eles podem gerar efeitos tóxicos ao nível de algumas linhagens celulares. Destaca-se ainda que algumas propriedades químicas do rizoma do gengibre, exceto o 6- paradol, possuem efeitos tóxicos em nível da pele.

Alguns estudos trazem um valor de 1 g a 1,5 gramas do gengibre como referência para os efeitos desejados, mas vale ressaltar que para cada função provavelmente teremos um mecanismo de ação e uma dose indicada logo, muito ainda precisa ser estudado e concluído porém, sabemos que você só tem a ganhar se consumir o rizoma deste alimento de forma frequente em infusões, temperos e preparações, mas não se esqueça das contraindicações.

O gengibre é portanto, um ingrediente multifuncional com vários benefícios à saúde, e que além de tudo confere um toque aromático e bastante agradável às preparações, desde chás, doces até carnes e demais pratos salgados.

*Colaboração da nutricionista comportamental e clínica na clínica 12 semanas Dra. Samantha Rhein (UNIFESP).

Referências:
– Hu, SM et al., 8-Hingerol regulates coloretal cancer cell proliferation and migration through the EGFR/STAT/ERK pathway. Int J Oncol 2019.
– Tsakiridis I et al., The Management of Nauseas and Vomiting of Pregnancy: synthesis of National Guidelines. Obstet Gynecol Surv. 2019.
– Magalhaes MT et al., Gengibre (zingiber officinale roscoe) brasileiro: aspectos gerais, óleo essencial e oleoresina. Parte 2 – secagem, óleo essencial e oleoresina. Cienc. Tecnol. Aliment (online), 1997.
– Kamali A, et al., The Efficacy of Ginger and Doxedetomidine in Reducing Postoperative Nauseas And Vomiting in Patients unseegoing Abdominal Hysterectomy. Alten Ther Health Med. 2019.
– Mustafa I., Comparison of Phytochemicals, antioxidant and Anti inflammatory properties of Sub Oven and Freeze Dried Ginger Extracts. Foods, 2019.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

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