Remédios para emagrecer são estratégia paliativa; estilo de vida deve mudar
A cada dia que passa percebo o uso indiscriminado de medicamentos emagrecedores –por mais sabido que sejam os efeitos colaterais. Para mim, sempre deve estar muito clara a relação causa e consequência. Tratar consequências sempre é uma estratégia paliativa. Vale reforçar que em alguns casos extremos e patológicos é recomendado o uso de medicamentos emagrecedores liberados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com prescrição médica, supervisão, orientação associado a prescrição de exercício físico e alimentação balanceada, entretanto não podemos banalizar o uso.
Antes de qualquer coisa…
Um habito saudável é sempre essencial, queira você emagrecer ou não. Ressaltamos a importância da mudança de estilo de vida independentemente da perda de peso em primeiro lugar. Apesar de existirem inúmeras maneiras de reduzir peso de forma rápida ou tratar a obesidade, as mudanças no estilo de vida são consideradas as estratégias mais eficazes a longo prazo. Isso porque, se não ocorrerem mudanças nos maus hábitos alimentares e não houver a prática regular de exercício físico, o peso volta. Afinal, os fatores que determinam o balanço energético (ingestão e gasto energético) não foram modificados.
Estudos de grupos interdisciplinares têm mostrado a eficácia de se mudar o estilo de vida, promovendo melhoras no metabolismo, na composição corporal, em marcadores de regulação do apetite e inflamatórios. Um estudo recente demonstrou que, em adolescentes obesos, uma terapia interdisciplinar promoveu melhoras na redução da prevalência de síndrome metabólica (30% para 2%), acúmulo de gordura no fígado (33% para 10%), resistência insulínica (83% para 40%), circunferência abdominal alterada (62% para 14%) e triglicérides elevado (17% para 7%). Reduções significativas também são observadas na gordura visceral, gordura corporal, peso, IMC e no colesterol LDL. A terapia interdisciplinar foi realizada durante 1 ano, e caracterizada por orientações nutricionais pautadas na pirâmide alimentar, exercício físico (3 vezes por semana), acompanhamento médico e orientações psicológicas que auxiliam no controle de sintomas de ansiedade, compulsão alimentar e depressão.
Temos outros estudos de grande relevância para serem citados. Segundo o estudo Finish, a perda de peso com mudança de hábitos foi o que teve o melhor impacto na prevenção de diabetes, e esses benefícios permaneceram a longo prazo. Outro estudo é o DPP, que conclui que a mudança do estilo de vida é sempre benéfica, mesmo que não haja perda de peso, pois melhora a composição corporal.
Além disso, as concentrações sanguíneas dos marcadores cerebrais que induzem a fome também reduziram (como AGRP e razão AGRP/NPY). Por outro lado, os marcadores que induzem a saciedade aumentaram, como o α-MSH. Os marcadores de inflamação, que se associam ao desenvolvimento de doenças no coração, diabetes e resistência insulínica, também foram melhorados, pois houve redução do PAI-1, IL-6 e aumento da adiponectina.
Ao se verificar o efeito da magnitude de redução de peso sobre o controle da obesidade, observou-se que a redução média de aproximadamente 7% do peso corporal já promoveu melhoras na sensibilidade insulínica. Além disso, a redução média de 12% ainda agregou benefícios sobre o perfil lipídico no sangue (VLDL e triglicérides). E a redução mais acentuada, de cerca de 19% do peso, promoveu benefícios na redução do colesterol total, LDL e pressão arterial. Em relação aos marcadores inflamatórios que levam as alterações metabólicas e riscos cardiovasculares, a redução de 7% do peso corporal já foi capaz de promover redução significativa destes parâmetros.
Em adultos, os resultados são semelhantes, tratamentos interdisciplinares são capazes de reduzir o peso, IMC, circunferência abdominal, sintomas de compulsão alimentar, ansiedade e depressão, além de melhorar a qualidade de vida. É bom salientar que os aspectos psicológicos estão envolvidos diretamente sobre o consumo alimentar e podem determinar o sucesso ou não de qualquer tratamento para redução de peso.
Sendo assim, gostaria apenas de ressaltar a importância que o controle das nossas escolhas de hábitos e estilo de vida têm em nossa saúde. Portanto, volto a reforçar que o hábito alimentar saudável e o estilo de vida regrado são o segredo para a redução de peso efetiva e prolongada, e que a saúde não é medida apenas por uma redução numérica observada na balança, mas sim, conforme os estudos que relatei acima, pelos efeitos benéficos além da perda de peso.
Misturar emagrecedores e álcool
A indústria farmacêutica conta com inúmeros medicamentos que auxiliam o processo de emagrecimento e muita gente que não precisa utiliza de forma indiscriminada e sem nenhum tipo de supervisão. Todo medicamento deve ser orientado –até mesmo um remédio de dor de cabeça– principalmente por conta de interação medicamentosa. Quantas pessoas usam estimulantes de treino e administram alguns medicamentos, misturam com bebidas e se transformam em pessoas que nunca vimos antes? Quando recomendado temos que saber da interação de medicamentos –seja ele um emagrecedor, um estimulador, um antibiótico etc.
Temos hoje indicações específicas para a prescrição de medicação para obesidade. São diversas classes com mecanismos de ação diferentes, sendo eles estimulantes ou depressores do sistema nervoso central, onde profissionais da saúde habilitados estudam seus efeitos para sempre orientar durante a prescrição. Essas medicações muitas vezes são autoprescritas pelos pacientes, e dependendo da composição dos medicamentos, misturar álcool e emagrecedores pode causar efeitos colaterais indesejáveis e interações medicamentosas graves
Alguns medicamentos emagrecedores contêm estimulantes, que podem aumentar a frequência cardíaca, a respiração e a pressão arterial. O álcool contém deprimentes que retardam os reflexos, diluem o sangue e deixam você sonolento. Ambos podem sobrecarregar o fígado.
Os efeitos da adição de álcool a certos medicamentos para perda de peso podem incluir tontura, depressão ou distúrbios mentais, problemas com concentração, irritabilidade, comportamentos alterados, problemas cardiovasculares e até convulsões.
- Danos no fígado: Álcool e pílulas dietéticas podem causar danos ao fígado quando tomados juntos ou separadamente. Seu fígado filtra tudo o que seu corpo consome, o que ajuda no processo de digestão. Alcoolismo crônico ou abuso de álcool podem causar cirrose hepática. Certos emagrecedores, principalmente alguns vendidos indiscriminadamente e utilizados sem supervisão, estão sob investigação da FDA (Food and Drug Administration) dos EUA para relatos de lesão hepática. Ao combinar álcool e emagrecedores, poderá misturar substâncias potentes para problemas no fígado. Os sintomas da doença hepática incluem pele amarela ou icterícia, insuficiência hepática, aumento do fígado e hipertensão portal.
- Aumento do risco de sangramento: Como o álcool deixa o sangue menos denso e os emagrecedores aumentam a pressão sanguínea, tomá-los juntos pode aumentar o risco de sangramento caso ocorra uma lesão. Um corte simples pode virar um grande sangramento. Certos emagrecedores podem aumentar a pressão sanguínea e adicionar álcool a mistura pode aumentar os efeitos colaterais.
- Aumento do risco de ataques de pânico: Alguns emagrecedores podem aumentar situações de ataques de pânico devido a quantidade de estimulantes que eles contêm. Ao consumir álcool junto com emagrecedores, pode aumentar muito o risco de sofrer um ataque de pânico, além de intensificar os sinais e sintomas, como náuseas, dores de estômago, ondas de calor ou frio.
- Problemas cardiovasculares: O uso de medicamentos para perda de peso estimulantes do sistema nervoso central deve ser evitado com o uso de álcool, especialmente em pacientes com doenças cardíacas. Quando esses medicamentos semelhantes a anfetaminas são combinados com álcool, podem ocorrer efeitos colaterais cardiovasculares perigosos, como batimentos cardíacos acelerados, dor no peito e alterações da pressão arterial.
Muitos medicamentos para perda de peso ou obesidade também são substâncias controladas e têm potencial de dependência e podem ser mal utilizados. Por isso, toda prescrição deve ser de acordo com orientação médica, acompanhada de tratamento multi e interdisciplinar, de acordo com todas as normas e liberação da Anvisa e feita somente quando necessária, em casos extremos e patológicos.
Como se sabe dessa restrição, farmácias manipulam produtos no mercado descrito como "naturais", porém contendo componentes similares (com mesmos efeitos) a medicações controladas, causando danos à saúde. Existe uma grande armadilha nessa situação, pois os danos ao corpo se iniciam em nível celular, então, inicialmente pode-se não se perceber nada e quando a situação se agrava pode ser tarde demais. Medicações para perda de peso têm necessidade de controle e monitoramento, pois no primeiro momento em que surge algum efeito colateral e dano a saúde, alguma conduta já é tomada.
A autoprescrição, além de são se levar a sério os efeitos colaterais por serem "produtos naturais", ainda tem seus efeitos danosos agravados com o uso de álcool ou outras substâncias. Em resumo, suas consequências podem ser insuficiência hepática com alteração de coagulação e sangramento excessivo, insuficiência renal, alteração no nível de consciência, infarto agudo do miocárdio e até morte.
Atenção à automedicação, produtos "naturais", mistura de álcool e emagrecedores e o não acompanhamento com o profissional de saúde. Pode ser uma "ida sem volta".
*Colaboração da médica clínica Dra. Gabriela Iervolino Oliveira (UNIFESP)