Esqueça dietas restritivas: o importante é não desistir de comer bem
Quantas vezes você começou algo e não terminou? Criou uma expectativa enorme de que conseguiria alcançar todos os seus objetivos e não foi adiante porque "algo se perdeu" no meio do caminho. Várias são as situações em que isso acontece: começar uma rotina de exercícios físicos, mudar a alimentação, criar o hábito da leitura… Normalmente, no início da decisão estamos motivados e temos a certeza de que iremos conseguir, mas no meio do caminho perdemos aquele "brilho no olhar". O "hábito" de fazer dietas é um exemplo muito claro desta condição e para começarmos a detalhar esta conversa, irei contextualizar o significado da palavra.
Dieta (diaitá): significa modo de vida ou ingestão habitual de alimentos. As orientações sobre uma alimentação objetivando a perda de peso começaram a ser registradas por volta de 1800, com Avicena e Wadd orientando práticas extremamente drásticas, como o consumo de sabão por conta de seu efeito laxativo e purgativo. Durante anos foi construída uma ideia de que era necessário "sofrer", passar fome e privações para manter-se num corpo saudável. Mas, nestas situações como fica a mente?
Você já pensou que o seu peso é o reflexo das suas escolhas e experiências, de forma muito mais abrangente, aquilo que resulta no equilíbrio (ou não), entre fatores genéticos, hormonais, ambientais e dietéticos? Então, por que ainda hoje muitas pessoas procuram cultivar hábitos restritivos, pouco saudáveis e por vezes até nocivos em busca de um peso corporal ou aparência física que não são obtidos com este caminho.
Diversas são as publicações científicas que retratam e comprovam o quão ineficaz e por vezes nocivas é a restrição alimentar, pois podemos "cultivar" um círculo vicioso chamado da restrição, compulsão e purgação. Nesse ciclo, podemos observar alguns "gatilhos" ou pistas que podem disparar uma cascata de atitudes relacionadas à sensação de impotência, recaída ou perda daquele "brilho" quer falei a pouco. Observe se você tem algum destes comportamentos:
- Restrição Alimentar ou Pensamento Dicotômico
Categorizar os alimentos em bons ou ruins, saudáveis ou não saudáveis, permitidos ou proibidos constrói uma relação altamente "julgadora" com a comida, esquecendo que as palavras-chave são a moderação e a frequência, sempre evitando atitudes drásticas e pouco educativas.
Desconsiderar que todos os alimentos podem contribuir positivamente fornecendo nutrientes determinantes para o bom funcionamento de seu corpo é um pensamento limitante e equivocado. Observe que não estamos falando de produtos industrializados (processados e ultraprocessados) e, sim, de alimentos como pão, leite, carnes e tantos outros que por vezes são condenados em dietas de moda e intervenções com promessas milagrosas.
- Limitar-se apenas ao peso
A condição de saúde não é medida apenas pela régua do seu peso, lembre-se sempre de que ele é o resultado de algo maior e que devemos olhar atentamente como qualidade de sono, satisfação com relação à vida, nível de estresse, estabilidade emocional, rotina diária… Estes são alguns dos fatores que contribuem com o seu equilíbrio metabólico, escolhas alimentares, disponibilidade e disposição para treinar, vontade de concretizar os seus objetivos etc.
- Comportamento emocional e pouco atento a suas escolhas alimentares
Qual é a relação que você tem com o alimento e qual é o seu critério de escolha? Você come por uma necessidade física real ou para suprir algo emocional ou sensação de um vazio?
Ter um olhar sempre atento e muito consciente sobre o que te impulsiona a comer é o primeiro passo para estabelecer um bom hábito alimentar. Esteja sempre muito presente durante o momento de suas refeições, apreciando-as, pois, comer é bom e precisa ser gostoso. Desligue o celular, respire fundo, observe todas as opções que estão à sua volta e escolha conscientemente a composição de seu prato. Mas não se julgue e muito menos se condene…. Todo o processo gera aprendizado e isso não deve ser um fator que o desmotive e sim que o impulsione a melhorar sempre.
Você se reconheceu em algum desses exemplos que apresentamos? Todos eles podem mascarar comportamentos de risco indesejáveis e que precisam de suporte e auxílio para serem tratados. Não exite –procure a ajuda de um profissional que possa te aconselhar nesta caminhada, cultivando bons hábitos e deixando de lado a ideia de que comer bem limita-se a fazer dieta e cortar carboidratos, fazer jejuns, retirar o açúcar, o sal e a lactose. O importante é se preocupar em comer bem e manter isso para o resto da vida, sem desistir. Comece agora…
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
– J Clin Gastroenterol.Volume 49, Number 8, September 2015.
– Food reward system: current perspectives and future research needs. Nutrition Reviews VR Vol. 73(5):296–307.
– Yumuk et al.: European Guidelines for Obesity Management in Adults, 2015.
– Alvarenga. M, Figueiredo. M, Timerman. F, Antonaccio. C. Nutrição Comportamental. Ed Manole, 2016.