Por que coronavírus é mais perigoso para quem tem diabetes?
- Nota da autora: em decorrência de novos estudos, a hipótese de que medicamentos que bloqueiem o sistema renina angiotensina, amplamente usados em doenças que frequentemente acompanham o diabetes tipo 2, como a hipertensão, poderiam ser maléficos para pacientes que se infectam com covid-19 passa a ser questionada e alterada. A nova hipótese é de que esses medicamentos tenham efeito benéfico na infecção. Evidências pré-clínicas mostram que o bloqueio do sistema renina angiotensina reduz a progressão da covid-19. Estudos em 2005 mostraram que ratos tratados com losartana (a qual bloqueia o sistema renina angiotensina) tiveram redução da lesão pulmonar após aspirarem uma proteína do SARS-CoV. Precisamos de mais estudos robustos para responder a dúvida em relação ao coronavírus e tais fármacos: se há malefício ou benéfico ou se são neutros na infecção. O que temos certeza no momento é que não se deve suspender tais medicações, visto os inúmeros benefícios nos pacientes diabéticos, como a redução de eventos cardiovasculares. Sempre converse com seu médico! (Atualizado em )4/05/2020)
A primeira morte no Brasil por causa do coronavírus foi de um paciente acima de 60 anos, que sofria de hipertensão e diabetes.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) já havia elencado que idosos e indivíduos com essas comorbidades estão no grupo de risco e podem desenvolver casos mais graves de covid-19.
O Journal of American Medical Association (JAMA) relata uma taxa mais alta de mortalidade por casos entre aqueles com as seguintes condições pré-existentes:
- 10,5% para doenças cardiovasculares
- 7,3% para diabetes
- 6,3% para doença respiratória crônica
- 6,0% para hipertensão
- 5,6% para câncer
No caso do diabetes, as pessoas com a doença enfrentam maiores riscos de complicações ao lidar com infecções de uma maneira geral, e isso provavelmente ocorre com a covid-19.
De acordo com a endocrinologista da Unifesp Dr. Lian Tock, "primeiro precisamos ver se o diabético esta com medicação adequada. Se sim, este paciente está metabolicamente equilibrado e com as defesas imunológica ok. Mas infelizmente o diabético que não tem controle adequado do problema, como se trata de uma doença crônica, altera toda a parte metabólica do seu organismo, levando a problemas cardiovasculares, alteração renal, alteração oftalmológica, ou seja, um organismo em estresse metabólico, afetando a defesa imunológica. Qualquer doença crônica faz com que as defesas do corpo fiquem comprometidas e impede que o nosso sistema imunológico atue com eficácia".
O fato é que com níveis de glicemia altos temos uma resposta imune mais baixa, levando a uma menor proteção contra doenças. Então esses indivíduos correm um risco maior de ficarem doentes e imunossuprimidos. No entanto, para o diabético, seja tipo 1, seja tipo 2, com bom controle glicêmico, o risco é bem menor.
Outra hipótese para pessoas com diabetes terem maior risco é que, de acordo com publicação recente do JAMA, os coronavírus se ligam às células-alvo por meio da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), que é expressa ("liberada") pelas células epiteliais do pulmão, intestino, rins e vasos sanguíneos.
Medicamentos usados nas doenças que acompanham com frequência diabetes tipo 2 aumentam a expressão da ECA2, o que facilitaria a infecção por coronavírus. No entanto, até o momento, as sociedades brasileira de diabetes e de cardiologia reforçam que o tratamento deve ser mantido, conforme as diretrizes, pois não há evidências do efeito negativo dessas classes medicamentosas no contexto da covid-19.
Vale reforçar que todas as investigações são recentes pois trata-se de uma doença nova e, pensando em ciência, tudo pode mudar.
Pacientes mais vulneráveis
De acordo com comunicado recente da Sociedade Brasileira de Diabetes, "as pessoas com diabetes vulneráveis e que provavelmente terão resultados piores se contraírem covid-19 são aquelas com:
- Longa história de diabetes
- Mau controle metabólico
- Presença de complicações e doenças concomitantes
- E especialmente os idosos, independentemente do tipo de diabetes.
Como falei, o risco de complicações na pessoa com diabetes bem controlado é menor, tanto para o diabetes tipo 1 quanto para o tipo 2. Por isso, é essencial estar com um bom controle glicêmico, o que implica em uma hemoglobina glicada dentro do alvo estipulado pelo seu médico (lembrando que a meta do valor da hemoglobina glicada é individualizado e existem patologias que falseiam esse valor, como as anemias).
Como o controle glicêmico é a chave para o sucesso, monitorar frequentemente sua glicemia e ajustar medicações em geral ou insulinas – sempre com orientação médica – pode prevenir complicações não apenas desta nova virose como também do próprio diabetes."
Você deveria estocar suprimentos para diabetes?
No momento, a Sociedade Brasileira de Diabetes não recomenda a compra para estoque de insulinas, canetas, cateteres ou cânulas de bomba por receio de falta de material. Também não recomenda qualquer tratamento para aumentar a imunidade. A SBD estará disponível para esclarecer qualquer dúvida em seu site e vigilante a atualizar os informes para as pessoas com diabetes, caso seja necessário.
Pensando nessa população, é importante se programar e se planejar, mas não acabar com os estoques que existem. Quando as pessoas sofrem de patologias que dependem de medicamentos para o tratamento, temos que nos conscientizar do quanto estamos vulneráveis e dependentes da fabricação e distribuição ininterruptas de suprimentos de monitoramento de glicose, insulina e medicações orais que sustentam a vida e, sem eles, pode haver um sério dano a saúde.
Se programe como já faz e não se esqueça do monitoramento de glicose. Fique alinhado com seu médico para que ele te dê orientações e assistência necessária para superar o que está por vir.
*Colaboração dos endocrinologistas Dra. Ana Mari David Fernandes (IAMSPE CRM 163138), Dra. Sthefanie Pallone (UNIFESP CRM 188219), Dr. Lian Tock (UNIFESP).