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Paola Machado

No BBB, Mari come leite em pó para driblar vontade de doce; troca compensa?

Paola Machado

31/03/2020 04h00

Mari é uma das que mais vemos comendo leite em pó no BBB e Gabi chegou a chorar por não poder consumir o alimento | Crédito: Reprodução TV Globo

No BBB 20, um alimento que parece valer ouro –ou melhor, muitas estalecas– é o leite em pó. O produto é consumido por alguns participantes do programa para driblar a vontade ingerir doces e, na última sexta (27), rendeu uma conversa engraçada entre Mari (uma das que mais vemos comer o alimento) e Gabi, que até chorou por não poder consumir leite pó.

Após a cena, algumas pessoas começaram a me perguntar se a estratégia é saudável e realmente funciona trocar uma sobremesa pelo leite em pó. A resposta não é um simples "sim" ou "não". Mesmo sendo um produto industrializado, o leite pode ser considerado um alimento saudável –abaixo explico melhor sobre como ele é feito e seus valores nutricionais. No entanto, se você tiver vontade de comer doce duas, três vezes ao dia, todos os dias, e nesses momentos atacar a lata de leite em pó, o exagero pode contribuir para o ganho de peso e até prejudicar a saúde.

Do ponto de vista nutricional, a melhor alternativa seria trocar o doce por frutas –também sem exagero. Porém, se comer leite em pó um vez ou outra na semana pó ameniza sua vontade de consumir sobremesa e ajuda  a conter o consumo de doces que tenham uma alta concentração de açúcar, a tática compensa.

É importante saber que a composição nutricional do leite não é completamente diferente da do açúcar. A sacarose presente no açúcar de adição (branco ou de mesa) é composta de glicose e frutose; já e a lactose (açúcar do leite) é composta de galactose e glicose. Ambos são dissacarídeos, pertencendo à mesma classificação dentro de um grupo de carboidratos. Porém, são compostos por dois monossacarídeos diferentes, com funções diferentes.

Quando comparada ao açúcar de adição, a lactose tem impacto metabólico diferente na elevação da glicemia (nível de açúcar no sangue). Logo, diabéticos podem tomar leite de forma controlada (como para todos os alimentos), assim como os seus derivados.

Leite em pó engorda?

Como falei, todo excesso pode trazer prejuízos na balança. Mas não devemos atribuir o ganho de peso a esse ou aquele alimento. O processo de ganho de peso é multifatorial e nada mais é do que o reflexo de seus hábitos diários e da somatória de todas as suas escolhas alimentares ao longo do dia.

Do ponto de vista culinário, muitas pessoas adicionam uma colher de leite em pó em preparações para aumentar o dulçor da receita, o que é válido já que traz um sabor mais agradável –além disso, o leite em pó pode conferir certo grau de cremosidade aos alimentos e bebidas. Essa é uma estratégia útil e que pode ser utilizada. Fique tranquilo, pois não será essa adição que fará você engordar, já que o ganho de peso é um reflexo do excesso calórico de vários alimentos. Duas colheres (sopa) de leite em pó integral oferecem cerca de 130 calorias, o que é bastante aceitável dentro de um contexto calórico diário recomendado de 2000 calorias diárias.

Como é feito o leite em pó

O leite em pó é um produto lácteo produzido pela evaporação/desidratação do leite comum. Durante o processo de industrialização, com o objetivo de aumentar a vida de prateleira do produto e o seu controle higiênico sanitário, submete-se o leite fluído a altas temperaturas. Assim, o alimento sofre um processo chamado de pasteurização, que promove a redução do conteúdo de bactérias a uma temperatura ideal.

Feito esse processo, o leite passa pela centrifugação, separando os seus componentes —água, minerais e gordura – com consequente aquecimento para remoção de grande parte da água. Alguns processos ainda podem ser feitos ao leite para melhora da qualidade e aumentar a sua vida de prateleira –porém, raramente ele recebe conservantes ou estabilizantes, o que não torna o alimento tão prejudicial à saúde como outros produtos industrializados. 

Valor nutricional

Com relação aos aspectos nutricionais, o leite em pó "integral" é semelhante ao leite fresco integral –fonte de proteínas, carboidratos, gorduras (inclusive saturadas) e vitaminas lipossolúveis como A, D, E e K.

Um item importante é que durante o processo de industrialização o ácido graxo saturado do leite sofre um processo de oxidação, conferindo ao alimento um fator pouco saudável e diretamente ligado ao aumento no risco de doenças cardiovasculares –mais um motivo para evitar o consumo excessivo do produto.

*Tabela de Composição Nutricional – USP

É importante reforçar que esse risco não ocorre de forma isolada, uma vez que temos outros fatores como consumo calórico, excesso de açúcares e sedentarismo que reforçam essa situação de risco cardiovascular, mas vale ressaltar que este ainda é um assunto bastante controverso e o Conselho de Laticínios dos EUA explica que os cientistas descobriram que a oxidação do colesterol pode ser minimizada usando baixas temperaturas de processamento, embalagens à prova de oxigênio e armazenando o leite em pó em local fresco e seco, sendo que descartar o leite em pó após o prazo de validade também minimizará a oxidação do colesterol no produto. Outra estratégia possível seria a adição de nutrientes com função antioxidante ao alimento.

Não podemos nos esquecer que cada caso é um caso. O leite não é um vilão, independentemente da sua versão; o consumo de leite e de seus derivados, juntamente com outros alimentos, assegura uma nutrição equilibrada e que contribui com o alcance de nossas necessidades diárias de proteínas, cálcio, magnésio, vitamina D e fósforo predominantemente. 

*Colaboração da nutricionista comportamental e clínica na clínica 12 semanas Dra. Samantha Rhein (Unifesp)

Referências:
TACO – USP.
– BOBBIO, P. A.; BOBBIO, F.O. Química do processamento de alimentos. São Paulo. Livraria Varela. 1992. 151p.
– ESCARABAJAL, Claudia; TENUTA FILHO, Alfredo. Estabilidade oxidativa do colesterol em ovo integral em pó. Rev. Bras. Cienc. Farm.,  São Paulo ,  v. 41, n. 4, p. 483-490,  Dec.  2005 .
INMETRO.
– Oxidized cholesterol in the diet is a source of oxidized lipoproteins in humans Journal of Lipid Research, 2003.
– The role of dietary oxidized cholesterol and oxidized fatty acids in the development of atherosclerosis Molecular Nutrition and Food Research, 2005.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.