Você nem imagina, mas tem um tipo de gordura que combate danos no cérebro

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As pessoas costumam ter medo das gorduras e dos carboidratos — é até um pouco difícil falar deles.
Como os carboidratos, que tem os complexos (bons para consumo) e os simples (não tão indicados), as gorduras têm as saturadas, que são consideradas "ruins", e as insaturadas, que são consideradas "boas", como já esclarecido no texto anterior.
Antes de começar esse texto, acredito ser de devida importância a interpretação do mesmo. Quando cito que um nutriente é bom, é necessário avaliar com um profissional a quantidade recomendada de acordo com suas necessidades nutricionais.
Nosso corpo não funciona como uma receita de bolo. É claro que coloco sempre aqui as recomendações de ingestão de acordo com estudos e o guia alimentar, porém isso não anula a necessidade de um profissional para avaliar suas necessidades de acordo com sua rotina e hábitos.
Agora vou te dizer uma coisa que pode parecer incoerente: você sabia que a gordura combate à obesidade?
Não podemos bater o martelo que a obesidade é causada por um só fator, pois já é bem esclarecido que é uma patologia crônica e multifatorial. Um dos fatores é a alimentação indevida, com o balanço calórico descompensado e a ingestão excessiva de alguns alimentos considerados não saudáveis, como as gorduras saturadas e trans.
As gorduras saturadas em excesso e as trans, podem causar diversos malefícios ao nosso organismo, como depósito de gorduras, hipertensão, aumento de riscos cardiovasculares, excesso de peso (consequentemente levando à patologias como a síndrome metabólica).
Pesquisas mostram que hábitos não saudáveis, como a ingestão excessiva dessas "gorduras ruins", combinado a um estilo de vida sedentário, aumenta o estado inflamatório hipotalâmico, levando à morte de neurônios (tipo POMc) responsáveis pelo controle de fome e saciedade e gasto energético.
O acúmulo de gorduras saturadas no cérebro é deletério nessa sinalização e no comportamento alimentar, fazendo com que o indivíduo crie um ciclo de fome constante e, consequentemente, aumentando o peso.
A regulação via hormônios leptina e grelina também são muito discutidas, porém não foi o foco desse artigo e, como o tema obesidade rende alguns livros, não vou colocar em questão nesse texto a questão da regulação hormonal. Deixarei para um próximo texto, ok?
O mais interessante é que, uma pesquisa publicada na Revista FAPESP, em 2016, e na Revista Norte americana Diabetes, em 2015, realizada na Unicamp, mostrou que os ácidos graxos insaturados — como o ômega 3 — são capazes de promover o nascimento de neurônios e, até, reverter danos no cérebro de pessoas obesas, causados pelas dietas ricas em gorduras saturadas.
A gordura insaturada é capaz de combater os danos da gordura saturada no cérebro!
Os pesquisadores utilizaram um marcador de proliferação celular, chamado BrdU. O que aconteceu foi que o consumo de gorduras insaturadas fazia com que ocorresse a neurogênese, por meio da expressão do marcador pela cor verde fluorescente. Esse processo de neurogênese, formação de novos neurônios, estimulada por ômega-3 ocorre, predominantemente, no hipotálamo.
No cérebro temos um sistema de proteção que evita a entrada de substâncias perigosas presentes no sangue chamada barreira hematoencefálica. Essa barreira é como uma peneira. Por ser semipermeável, algumas substâncias passam e outras não. Os estudiosos sempre acharam que as gorduras não conseguiam passar por ela, porém, em 2005, descobriram que a gordura poderia sim atravessar a barreira de proteção, podendo causar efeitos positivos ou negativos diretamente nessas regiões.
O impacto de uma alimentação rica em gorduras saturadas (ruins) ocorre em regiões bem delimitadas do cérebro, sendo que ocorre o rompimento da barreira, inflamação hipotalâmica crônica e morte dos neurônios tipo Pomc. Esse é o primeiro lugar que acontece a desorganização da barreira hematoencefálica.
Acredita-se que na barreira existe um "modulador", que "decide" quem passará ou não, chamado tanicitos, que quando ocorre uma dieta rica em gordura saturada ocorre a perda de coesão e controle, levando a efeitos deletérios.
Alguns dos estudos foram realizados em camundongos e esse é um fator limitante, já que o estudo tenta reproduzir em humanos o que acontece nos animais e esses modelos aceleram os processos, principalmente metabólicos, por conseguirem administrar quantidades calóricas "desumanas". Por esse motivo, há o emprego de técnicas não invasivas, como a ressonância magnética, que permite observar as ativações cerebrais em tempo real.
Um outro estudo realizado pela revista Diabetes, compara o hipotálamo de obesos mórbidos, ex-obesos (que foram submetidos a cirurgia bariátrica) e pessoas magras. As pessoas mais magras sentiam-se saciadas mais rapidamente quando comparadas às obesas, após a ingestão de glicose. Já os ex-obesos ficavam no nível intermediário de saciedade.
Porém, esse feito não ocorre em todos obesos, não é porque a pessoa está acima do peso que têm, necessariamente, uma inflamação hipotalâmica. Como disse no começo do texto, a obesidade é multifatorial, e nunca está sozinha no desenvolvimento. Ela pode estar associada à diversos fatores, e até mesmo, por exemplo, ação da dopamina e pelo fato da pessoa ser "viciada" em comer, um comportamento compulsivo.
A obesidade infantil pode estar vinculada a genética em até 10%, que também ocorre essa ativação da região hipotalâmica.
O importante é detectarmos a multifatoridade da obesidade e controlar e prevenir sabendo a causa da patologia.