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Paola Machado

Obrigar seu filho a "raspar o prato" pode causar problemas alimentares

Paola Machado

22/06/2018 04h00

Crédito: iStock

Qual tipo de mensagem estamos transmitindo as nossas crianças quando o assunto é alimentação? Quem nunca ouviu ou pronunciou: "você não sairá da mesa antes de limpar o prato"!

Hoje, sabemos que esta prática é totalmente prejudicial e responsável por desregular nosso mecanismo de fome e saciedade; resultando em adultos com história de transtornos alimentares diversos.

A criança come o que ela gosta, isso é fato! Mas sabemos que a preferência alimentar está totalmente ligada a familiaridade que o individuo tem com um certo alimento. Ou seja, a criança gosta daquilo que ela conhece e está acostumada a ver em casa ou na escola. Porém, o amor nem sempre acontece no primeiro encontro e cabe a nós, pais e cuidadores, ter muita paciência no momento da refeição minimizando situações de estresses que só prejudicam o aprendizado.

Outra consideração que podemos fazer a respeito é que nós nascemos com a capacidade de auto regulação calórica, veja um exemplo: o bebê amamentado no peito. Ele para de mamar quando está satisfeito; fecha a boca e recusa o peito caso a mãe tente oferecer novamente. O contrário também é verdadeiro, se ele sente fome, logo dá seu jeito de pedir o leite materno.

Infelizmente, perdemos esta capacidade dependendo de nossas experiências alimentares. A pressão no momento da refeição, uma distração e ou até mesmo questões emocionais são fatores externos que interferem na quantidade ingerida.  E olha que não precisamos fazer muita' pressão para a criança associar a refeição ou o alimento a momentos desagradáveis, de descontrole e, por consequência diminuir ou ate mesmo aumentar a ingestão dos alimentos.

Eu, que também sou mãe, sei de algumas dificuldades no quesito alimentação "da cria", podem acreditar!!! O que eu posso orientar é para que tenhamos muita paciência durante as refeições dos nossos pequenos.  O estresse gera inapetência (falta de apetite), pois aumenta a liberação de cortisol. As emoções negativas comprometem o funcionamento intestinal, resultando em uma diminuição da sua função.  Sem falar de fatores intrínsecos que também modificam a ingestão alimentar e que "fogem" do nosso controle, incluindo prematuridade, baixo peso ao nascer, DRGE (doença do refluxo), APLV (alergia a proteína do leite de vaca), nascimento de um irmão, entre outros.

Por isso, sejamos compreensivos com as nossas crianças.

E qual é o nosso papel? Exemplificando, nós vamos arrumar e preparar a festa de aniversário da criança, mas o protagonista do evento será ela. Compre as frutas, verduras e legumes e deixe-os acessíveis (corte, descasque, prepare); sente a mesa com ela; consuma os alimentos que você tanto deseja que ela coma.

Diante disso, papais e cuidadores, vamos fazer um acordo? Vocês cuidam da qualidade das refeições, oferecendo alimentos de verdade e as crianças decidem a quantidade que desejam consumir.

Lembrem-se que em alguns dias você também não  tem muita fome, já em outros precisam de um pouquinho a mais para saciá-la. Já passamos por situações que não queríamos experimentar algo novo e depois comemos sem problema. Vamos viver sem excessos e nem carências.

Para acalmar o nosso coração eu recomendo o livro "Meu filho não come" (Editora Timo) do pediatra espanhol Dr. Carlos Gonzalez. No princípio pode parecer um banho de água gelada, mas ele irá te ajudar e a confiar na capacidade do seu filho em se alimentar.

Comer é mais do que jogar lenha na fogueira ou abastecer um carro. Comer é mais do que escolher um alimento e dar para uma criança. Comer e dar de comer reflete nossa atitude e relacionamento com nós mesmos, com os outros e com as nossas histórias. Comer tem relação com autor respeito, nossa conexão com nossos corpos e compromisso com a vida.

(Ellyn Satter, 2007)

*Colaboração Nutricionista Dra. Lívia Tissot

Referências:
– Nutrição comportamental. Capitulo 17. Nutrição comportamental no atendimento de crianças e adolescentes. Maria Luiza Petty, Manoela Figueiredo, Priscila Koritar, Sophie Deram, Carolina Pascoal. Ed Manole (2015).
– Meu filho nao come. Carlos González .Ed Timo L.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.