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Paola Machado

Testosterona, GH e IGF-1: qual o papel desses hormônios no ganho muscular?

Paola Machado

29/06/2018 04h00

Crédito: iStock

Você já deve saber que treino e alimentação adequados são essenciais para os resultados na academia. Mas, para que a síntese proteica ocorra e, consequentemente, o aumento da massa muscular aconteça, são necessários vários processos no organismo. E diversos hormônios estão envolvidos neles.

Dentre os hormônios "clássicos" específicos para o anabolismo muscular encontram-se testosterona, GH (hormônio do crescimento) e IGF-1 (fator de crescimento semelhante a insulina). A seguir, vou explicar melhor sobre cada um deles. Mas, antes, quero deixar claro que esse texto está falando de hormônios que seu corpo produz naturalmente, de maneira saudável, e não de hormônios sintéticos administrados de forma irresponsável, para ganhos estéticos. 

Testosterona

A testosterona é um hormônio esteroide sintetizado nos testículos e ovários. Entre todos os hormônios, a substância é a que possui o maior efeito anabólico –por meio de diversos mecanismos, como aumento da síntese proteica miofibrilar, indução da proliferação de células satélites e formação de novos mionúcleos, inibição da degradação proteica etc.

Após treinos de musculação, quanto maior a massa muscular envolvida nos exercícios, maior o aumento transitório no nível testosterona. Isso acontece ao fazer exercícios multiarticulares que envolvem diversos músculos de uma só vez, como agachamento, flexão de braços, supino, remadas, pulley costas. Porém, o aumento não exerce grande influência direta sobre a resposta hipertrófica a ponto de valer a pena fazer treinos malucos, voltados para o aumento natural do hormônio.

O efeito suprafisiológico –hormônios alterados cronicamente acima dos níveis fisiológicos, como no caso de quem administra esteroides anabólicos — é totalmente diferente do aumento transitório e fisiológico durante e pós-treino.

Não preciso dizer que o uso de anabolizantes pode trazer problemas como aumento de acne, queda de cabelo, impotência sexual e até câncer, certo? Esse é um assunto complexo que vou aprofundar em outro texto.

GH

O GH (hormônio do crescimento) é sintetizado e secretado pela glândula hipófise anterior. Ele tem sua concentração sanguínea aumentada após sessões de musculação. Sua maior ação é por meio da estimulação de liberação de IGF-1 no fígado e em outros tecidos, como os músculos. A síntese de proteínas miofibrilares –efeito esperado no músculo para quem quer hipertrofiar — não é estimulada pelo GH,  sendo este hormônio mais associado a síntese de colágeno em tendão humano.

Neste sentido, o GH tem um papel mais importante para a diminuição de lesões em atletas, assim como redução de gordura, por ter efeito lipolítico.

Resumidamente, o GH tem ação destacada no crescimento corporal somente durante a fase de desenvolvimento, não estando relacionado diretamente a hipertrofia muscular adulta.

IGF-1

O IGF-1 é um hormônio que recentemente passou a ser muito falado entre quem treina. Ele exerce "influência" na hipertrofia muscular. Porém, baixo nível da substância no organismo não limita o ganho de massa, pois existe hipertrofia mesmo na ausência de receptores para IGF-1. Este hormônio possui variações ou isoformas –IGF-1Ea, IGF-1Eb, IGF-1Ec ou MGF — sendo a isoforma MGF (fator de crescimento mecânico) a mais associada com indução de síntese proteica miofobrilar, que é necessária na hipertrofia, por ser liberada e agir dentro do músculo.

Resumidamente, o IGF-1 pode estimular síntese proteica em maior grau (localmente via MGF) ou menor grau (no sangue), não sendo um fator dependente para que haja síntese proteica miofibrilar e consequentemente hipertrofia.

Saiba que não existe um supertreino que provoque o aumento de MGF ser tão grande ao ponto de trazer grandes respostas hipertróficas.

Preciso fazer treinos malucos de 400 repetições para aumentar os hormônios?

Não. Se você realizar um treino adequado, que trabalhe o corpo todo sem estressar excessivamente o organismo, se alimentar corretamente e não tiver nenhum problema de saúde, seus hormônios vão se manter dentro de um nível adequado (e saudável), capaz de favorecer o ganho de massa.

Então os hormônios não fazem diferença alguma na musculação?

Sim, eles fazem e você entenderá a diferença. Eles são importantes, porém não tanto como você pensava. A variação hormonal fisiológica é importante para o organismo quando mantida em níveis normais de oscilação. Ou seja, quedas e aumentos tradicionais que ocorrem ao longo do dia, causados pelos exercícios de força, um sono decente e boa alimentação.

Em casos de diminuição crônica e exagerada nas concentrações de testosterona, GH e IGF-1, ocorre grande prejuízo na resposta hipertrófica, auxiliando acontecimento do quadro oposto, ou seja, atrofia muscular.

Em casos de aumento crônico e exagerado (anabolizantes), ocorre o oposto, ou seja, aumento rápido e exagerado de massa muscular assim como aumento de risco para desenvolvimento de câncer que você não desenvolveria sem usar essas substâncias. Ou você realmente acha que hormônio tem receptor somente no músculo?

Portanto, se você tem hormônios abaixo do normal há prejuízo para a massa muscular. Se o nível está extremamente acima você vira super-homem, mas assume os efeitos colaterais por sua conta e risco. Se a taxa hormonal oscila naturalmente, o crescimento do seu músculo não é direcionado por ele, pois hipertrofia é muito mais complexa do que variação fisiológica hormonal pós-treino.

Caso esteja mais curiosos e tenha tempo, não deixe de ler um estudo de Wilkinson et al., 2006 (ver referências no fim do texto) que mostra hipertrofia na perna de jovens que executaram exercícios de forma unilateral, sem aumento na concentração de testosterona e IGF-1 pós-treino durante 8 semanas.

Portanto, treine bem, coma bem e durma bem para deixar os hormônios em sua variação fisiológica normal. Caso esteja seguindo essa tríade, não se preocupe com a resposta do hormônio em seu treino diariamente.

*Colaboração Palestrante  e Prof.  Rafael Miranda

Referências:
– Velloso CP. Regulation of muscle mass by growth hormone and IGF-1. British Journal of Pharmacology (2008) 154, 557–568.
– Spangenburg E. E. Derek Le Roith, Chris W.Ward and Sue C. Bodine. A functional insulin-like growth factor receptor is not necessary for load-induced skeletal muscle hypertrophy. J Physiol 586.1 (2008) pp 283–291.
– Doessing S. Katja M. Heinemeier, Lars Holm, Abigail L. Mackey, Peter Schjerling, Michael Rennie, Kenneth Smith, Søren Reitelseder, Anne-Marie Kappelgaard, Michael Højby Rasmussen, Allan Flyvbjerg and Michael Kjaer.Growth hormone stimulates the collagen synthesis in human tendon and skeletal muscle without affecting myofibrillar protein synthesis. J Physiol 588.2 (2010) pp 341–351.
– Wilkinson SB, Tarnopolsky MA, Grant EJ, Correia CE, Phillips SM. Hypertrophy with unilateral resistance exercise occurs without increases in endogenous anabolic hormone concentration. Eur J Appl Physiol. 2006 Dec;98(6):546-55.
– West DW, Burd NA, Tang JE, Moore DR, Staples AW, Holwerda AM, Baker SK, Phillips SM. Elevations in ostensibly anabolic hormones with resistance exercise enhance neither training-induced muscle hypertrophy nor strength of the elbow flexors. J Appl Physiol (1985). 2010 Jan;108(1):60-7.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.