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Paola Machado

Por que os homens perdem peso mais rápido do que as mulheres?

Paola Machado

18/08/2018 11h42

Crédito: iSTock

Por que nós, mulheres, fazemos dieta, treinamos e os homens fazendo bem menos que nós têm muito mais resultado?

Um estudo publicado neste ano pela Diabetes, Obesity and Metabolism avaliou 2224 voluntários (1504 mulheres e 720 homens) com sobrepeso, obesidade e pré-diabetes, que foram submetidos a uma dieta de oito semanas (Cambrigde Weight Plan). A dieta era bem restritiva e de baixa caloria (LED — low-calorie diet) com cerca de 800 calorias e na maior parte líquida — sopas, shakes etc. Foi proposto uma ingestão de 375 gramas de vegetais.

O estudo levou a resultados satisfatórios na resistência insulínica, composição de gordura corporal, massa magra e melhora dos sinais e sintomas da síndrome metabólica por conta do emagrecimento.

Os participantes estavam em estado de pré-diabetes, ou seja, tinham os níveis de glicose sanguínea um pouco elevados, o que aumenta a chance de um quadro de resistência insulínica (calculado de acordo com HOMA-IR) e consequente síndrome metabólica, como já esclarecido em um texto da coluna. Com as intervenções, 35% dos voluntários — homens e mulheres — conseguiram normalizar a glicemia, saindo do estado de pré-diabetes.

Como já era de se esperar, os homens tiveram uma redução do peso corporal 16% maior do que as mulheres.

Apesar da redução de resistência insulínica ter sido similar em ambos gêneros, os homens ainda tiveram reduções maiores na composição corporal de gordura, frequência cardíaca, peptídeo C e menor risco de síndrome metabólica — a redução do quadro de síndrome metabólica reduz o risco doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes etc.

As mulheres tiveram uma melhora mais acentuada de pontos importantes para a saúde, como no colesterol HDL, que é o colesterol "bom", efetivo para a saúde cardiovascular; e também na densidade mineral óssea, que pode levar a problemas ósseos e quadros de sarcopenia. E também uma redução maior de circunferência de quadril.

Essa é uma comprovação científica com um número significante de voluntários, que mostra que nossa linha de raciocínio e os questionamento, de fato, procedem.

Mas por que isso acontece?

Os homens têm uma composição corporal mais beneficiada que as mulheres; com uma maior quantidade de músculos e, consequentemente, uma taxa metabólica basal (TMB) maior. Temos que levar em consideração que o organismo do homem funciona diferente do organismo da mulher e nunca podemos padronizar uma dieta.

No caso do estudo há um padrão de 800 calorias ingeridas. Agora questiono: já que os homens começam com um metabolismo mais beneficiado, será que eles não teriam um gasto calórico maior? Claro que sim.

Os homens quando engordam costumam depositar mais gordura visceral (as que envolvem os órgãos internos) comparado a mulheres. Quem não tem um tio ou um amigo que tem aquela barriga bem evidente, que o pessoal costuma chamar de "barriga de cerveja"? Dessa barriga que estou falando. Já as mulheres têm uma maior quantidade de gordura corporal subcutânea, evidente nas coxas, quadris e distribuída por todo o corpo.

No processo de emagrecimento os homens reduzem a quantidade de gordura visceral melhorando ainda mais sua taxa metabólica basal (lembra que eu disse que o metabolismo do homem, por natureza, já é melhor?) e ajudando a emagrecer mais rápido. Já nas mulheres a redução da gordura subcutânea não implica em uma melhora efetiva no risco metabólico, pois depende de outros fatores como o aumento de massa muscular com a prática de exercícios e também redução de gordura visceral e abdominal para uma melhor resposta metabólica.

Esse estudo enfatiza que a mobilização de gordura abdominal mais evidente em homens quando comparado a mulheres com uma redução mais acentuada de gordura subcutânea interfere diretamente no resultado metabólico.

O estudo tem algumas limitações como a quantidade de calorias da dieta, a dieta padronizada para todos do grupo, algumas mulheres estarem em menopausa (levando a uma maior deposição de gordura abdominal e, no período de emagrecimento por reduzir mais esse tipo de gordura, tem um resultado melhor) e também ser uma estratégia de curto prazo, não mostrando as evidências positivas desses resultados no decorrer da vida.

Referências:
– Christensen, P.; et al. Men and women respond differently to rapid weight loss: Metabolic outcomes of a multi‐centre intervention study after a low‐energy diet in 2500 overweight, individuals with pre‐diabetes (PREVIEW). Diabetes, Obesity and Metabolism.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.