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Paola Machado

Adultos que vivem com crianças tendem a comer mais gorduras

Paola Machado

20/09/2018 04h00

Crédito: iStock

Quando eu nem imaginava ter filhos, malhava como "louca" e comia de forma contida demais. Meu café da manhã tinha  frutas e queijo branco; o almoço era um prato cheio de saladas, purê e um grelhado; fazia um lanchinho saudável no meio da tarde; na janta repetia o almoço, só que em porções reduzidas, e antes de dormir comia outro lanchinho leve.

Doces? Amava, mas não faziam muito parte do meu dia. Eu nem os via. Gorduras? Salgadinhos? De jeito nenhum.

Depois que tive filhos, claro que sempre tive muita atenção com a alimentação deles. Porém, permito que saiam um pouco da rotina e comam algumas besteirinhas de vez em quando. É gostoso e não há nenhum problema se for algo moderado. Mas, eu estou no meio disso tudo, e acabo entrando na roda e comendo como eles, saindo da minha rotina. Meu metabolismo não é mais o mesmo, não tenho 10 anos e depois de certa idade tudo se torna uma corrida incansável para queimar os excessos e evitar o acúmulo de gordura. E muitos pais passam por situação parecida.

Uma pesquisa realizada pelo Colégio de Medicina da Universidade de Iowa (EUA) mostrou que adultos que vivem com crianças tendem a comer mais gorduras do que os que moram sozinhos ou não tem criança em casa.

O que preciso pontuar é que nada disso é culpa, de forma alguma, da criança. O grande problema é a falta de controle e excessos cometidos pelos adultos –que sabem que o alimento está lá escondidinho para um dia qualquer e "tascam" uma guloseima.

De acordo com a Dra. Helena Laroche, autora do estudo, "as escolhas alimentares ruins podem acontecer devido à correria do dia a dia dos pais, como forma de facilitar a refeição –quem não dá, muitas vezes, salsicha com miojo para os filhos? Também ocorre por conta da publicidade dos alimentos dirigida às crianças."

Ter todas estas guloseimas e besteiras em casa faz com que os adultos, quando estão apressados, nervosos ou ansiosos, consumam o que nao devem –até com mas frequência que as crianças e, muitas vezes, sem perceber os efeitos negativos que aquele produto pode oferecer.

Esta ênfase nos adultos comerem de forma diferente na presença de crianças no lar traz uma grande preocupação.

Laroche e pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA) analisaram dados da Nutrition Examination Survey. Os estudiosos observaram questionários detalhados de alimentos dados a 6.600 adultos que vivem com ou sem filhos menores de 17 anos. O levantamento era sobre o que os adultos comiam durante um período de 24 horas.

A análise do estudo foi a seguinte:

  •  Adultos que vivem com crianças comeram 5 gramas de gordura a mais por dia do que a necessidade diária estipulada, totalizando cerca de 91 gramas em comparação a 86,5 gramas do que ingeriam os adultos que não vivem com crianças.
  •  Os adultos que vivem com crianças comeram cerca de 2 gramas a mais de gordura saturada por dia ou cerca de 12 gramas a mais por semana. Isso significa que eles também têm mais propensão a doenças cardiovasculares.
  • As crianças consumiam os alimentos "ruins" só quando eram oferecidos a elas, já os adultos comiam de forma livre, compulsiva e sempre por situações ligadas à emoção.

Como resolver o problema em casa

Você deve implementar regras e não ter alimentos pouco saudáveis em casa. Isso é importante para as crianças mudarem seus hábitos e crescerem com um pensamento saudável. Eu, por exemplo, troquei a sobremesa do dia a dia, que antes era uma besteira, por uma fruta.

É importante que os pais percebam e reconheçam o efeito que o filho tem de mudar os hábitos da família, principalmente na dieta. Porém, o que você deve lembrar é que quem faz as compras é você, quem toma as rédeas da situação também.

Sou a favor de todos comerem, de vez em quando e com moderação, alguma besteirinha. Nós merecemos. Mas aprenda a se policiar, saber os momentos legais para sair da dieta. É sempre a escolha dos pais que acaba refletindo no hábito da casa.

Repense, estipule regras e mude.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.