Topo

Paola Machado

O diálogo entre o cérebro e o corpo é importante para emagrecer e ter saúde

Paola Machado

03/10/2018 04h00

Crédito: iStock

O provérbio "Mente sã, corpo são" é antigo e quase todo mundo o conhece. Mas dificilmente paramos para analisar a relevância do equilíbrio entre a saúde da mente e do corpo em nossas vidas.

Sabemos que uma mente saudável é capaz de ampliar nossos horizontes e nos levar a lugares jamais imagináveis. No entanto, uma mente doente pode nos corromper e corroer, assim como nos induzir a cometer estragos duradouros ou sem volta em detrimento de nossa saúde.

O nosso corpo responde ou se conecta com as diferentes possibilidades psíquicas, fisiológicas e químicas, de acordo com nossas decisões no dia a dia. Resultado: podemos usufruir de conexões saudáveis entre o corpo e o cérebro, o que nos leva a ter mais saúde; mas podemos também padecer de várias doenças quando desequilibramos este eixo psico-biológico.

A partir daí é que nos propusemos a traçar o nosso primeiro ato. O diálogo entre o corpo e o cérebro. No período do renascimento, mulheres com corpo avantajado eram esculturalmente mais requisitadas e aplaudidas, como é o caso da Monalisa de Leonardo Da Vinci. No entanto, principalmente a partir da década de 1960, o culto ao corpo magro e esbelto modificou muito os conceitos de beleza, levando ao aumento de casos de anorexia e outros transtornos alimentares.

Mas, o que não sabíamos é que tanto a magreza extrema quanto o excesso de peso tornam a saúde física e psicológica fragilizadas; e vice-versa, levando a um ciclo vicioso entre ações e reações não saudáveis. Um exemplo que tenho para dar a vocês é de um paciente obeso que acompanhei. Ele emagreceu, mas teve um quadro de anorexia. Esses casos de transtornos alimentares devem ser tratados de perto para que sejam equalizados e equilibrados.

Desse modo, visando o processo de emagrecimento, nosso corpo e mente devem se conectar de maneira positiva rumo ao equilíbrio e manutenção de nossa saúde. Nossas células de gordura secretam várias substâncias, entre elas a leptina –hormônio que leva ao nosso cérebro-hipotálamo sinais de saciedade. Isso, em condições normais e fisiológicas, permite que possamos interromper uma refeição, aproximadamente, de 20 a 40 minutos após seu início. Assim, conseguimos consumir quantidade suficiente de alimentos e controlar o peso corporal. Portanto, nossas células de gordura são qualificadas para o diálogo com o cérebro e, desse modo, ninguém é obeso porque quer, mas por dificuldades nesse processo.

Por outro lado, você pode estar me perguntando: mas é simples assim? Não, não é simples assim, porque a obesidade não é decorrente somente de resistência a ação do hormônio da saciedade, mas de toda a nossa história familiar e do nosso estilo de vida. Cada uma de nossas ações vai gerar uma reação favorável ou não ao emagrecimento e à nossa saúde, e isso depende de nossas escolhas.

Explorando este conceito da importância do diálogo entre o corpo e a mente, vou dar um exemplo de uma pessoa que quer emagrecer e vai começar mudar a sua história.

Juliana (nome fictício) tem 33 anos e trabalha oito horas por dia há mais de 5 anos. Ela perde duas horas no trânsito para ir ao trabalho e para voltar para casa. Dorme em média seis horas por noite e precisa emagrecer 20 kg. Para tentar perder peso, decidiu levar alimentos saudáveis para o trabalho e comer de três em três horas, mastigando lentamente.

Qual o significado fisiológico destas escolhas? Por que se recomenda uma ingestão alimentar a cada três horas –a cada quatro ou qualquer outro período estipulado pelo seu nutricionista? Por que é importante mastigar lentamente os alimentos?

Seguindo a história de Juliana, quando ela se alimentava em intervalos de tempo muito grandes, o corpo entendia isso como um jejum prolongado. Nesse caso específico –entenda que não estou entrando na questão do jejum intermitente aqui, o ponto é outro, ok? –, o jejum prolongado resulta em um feedback negativo entre o corpo e o cérebro, favorecendo o maior armazenamento de energia (em forma de gordura), para suprir o próximo período de jejum.

Esse diálogo entre o corpo e o cérebro surge a partir de maior secreção de grelina –hormônio da fome, liberado de forma abundante durante o período de jejum. Essa sinalização, proveniente desta e de outras substâncias que são produzidas pelo estômago para se comunicar com o cérebro –centro da fome – somente vai ser interrompida após o início da refeição, quando a leptina irá fazer o seu papel de inibição da fome. Mas, como dissemos anteriormente, não adianta comer rapidamente, pois a leptina pode demorar até 40 minutos para sua efetiva ação no cérebro.

Portanto, deixar de se alimentar ou preferir intervalos grandes entre as refeições e ingerir rapidamente os alimentos não são estratégias positivas para o emagrecimento saudável e, sim, uma forma de piorar o estado de saúde. Isso pode ser controlado favorecendo um diálogo adequado entre sinais do corpo e do cérebro, como vimos anteriormente.

Falta de sono é prejudicial

Comentei que Juliana dormia somente seis horas por dia. Muitos de nós temos esse hábito e, por incrível que pareça, até o nosso tempo curto de sono, fruto da vida moderna, interfere no diálogo entre o corpo e o cérebro. Como isso acontece? Estudos recentes demonstram que o encurtamento do tempo de sono aumenta a preferência por alimentos ricos em gorduras, levando a um ciclo vicioso entre escolhas alimentares e comandos cerebrais equivocados.

Desse modo, Juliana vai precisar mudar também sua rotina de sono, aumentando o tempo que passa na cama para aproximadamente oito horas –isso pode variar de acordo com as necessidades fisiológicas de cada um.

Quanto tempo é preciso emagrecer?

Após ajustar a alimentação e o sono, quanto tempo Juliana vai levar para conseguir emagrecer? Ou ainda, quanto tempo o corpo dela precisa para se adaptar a essas novas mudanças no estilo de vida? Essa resposta não é direta e pode demorar alguns meses. Vai depender da meta final, do tempo em que ela permaneceu acima do peso desejado, das estratégias que ela adotar, do metabolismo diário, se ela é sedentária ou não, se usa medicamentos ou não etc.

Sabe-se que o processo de emagrecimento saudável sugere uma perda de peso corporal ponderada. Isso significa que podemos emagrecer por etapas, perdendo um pouco de peso corporal por vez. Aí, você me pergunta: "Por que devemos emagrecer lentamente e não subitamente?" Respondo: o emagrecimento rápido promove mudanças bruscas no diálogo entre o corpo e o cérebro, onde o primeiro vai sinalizar ao segundo que existe escassez e privação de alimentos. E, pela teoria da eficiência metabólica, cada grãozinho ingerido vai ser mais bem aproveitado de um jeito que ninguém quer, favorecendo o armazenamento de energia na forma de gordura em variados depósitos do nosso corpo. Isso promove o efeito sanfona (ioiô), que em repetidas vezes vai gerar uma resistência ao processo de emagrecimento.

Interação entre os sinais de fome e saciedade no diálogo entre o corpo e o cérebro

Fonte: E-book Saber Emagrecer por Ana Dâmaso e Paola Machado.

Juliana optou pelo emagrecimento saudável e por mudanças duradouras no estilo de vida. Ela, com certeza, vai evitar o efeito sanfona. As escolhas são individuais e podem resultar em benefícios e malefícios ao diálogo entre o corpo e o cérebro. Isso depende muito mais de você do que de seus pares, companheiros e profissionais de saúde. A escolha é sua, você poderá escrever a sua história da melhor forma possível. Mãos à obra.

*Colaboração Profa. Dra. Ana Dâmaso (Universidade Federal de São Paulo) 

Referência: Capítulo do e-book "Saber Emagrecer" disponibilizado na clínica e, em breve, app 12 semanas para conhecimento do processo de emagrecimento com autoria de Ana Dâmaso e Paola Machado. 

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.