Quais cuidados quem tem problema no coração deve tomar no treino?
As doenças cardiovasculares estão entre os problemas de saúde que mais afetam a população de todo o mundo. Por isso, é muito importante darmos atenção tanto à prevenção quanto ao tratamento dessas condições –e a pratica regular de atividade física é fundamental nos dois casos.
Os exercícios podem ajudar em diversas frentes, como na redução da atividade simpática (que fica elevada na insuficiência cardíaca); na formação de novos vasos sanguíneos no coração e na melhora do nível de colesterol bom (HDL) e triglicérides, além de contribuir para o controle do peso.
Principais cuidados no treino
Para evitar que os batimentos do coração aumentem acentuadamente e ocorra algum distúrbio, durante o treino o paciente deve usar um monitor cardíaco durante a atividade física e manter a frequência cardíaca dentro da faixa determinada pelo seu médico –que é estipulada após a análise de exames como o eletrocardiograma e a ergoespirometria de esforço.
Em boa parte dos casos, são recomendadas atividades físicas leves e moderadas. A quantidade total de exercício semanal deve ser de 150 minutos a 300 minutos por semana, ou atingir um gasto maior ou igual a 2000 quilocalorias por semana –a duração do treino é menor quando a intensidade é maior.
Ainda que exercícios aeróbios (caminhada, bike, natação, corrida) sejam os mais prescritos para tratamento e prevenção das doenças cardiovasculares, o treinamento resistido (musculação) é cada vez mais indicado –e especialmente benéfico para pessoas mais velhas, que normalmente sofrem com a perda de massa muscular.
Um cuidado muito importante na musculação é evitar o aumento do duplo produto –que ocorre com a elevação concomitante da frequência cardíaca (FC) e da pressão arterial (PA). Pensando nisso, elaborei algumas recomendações de treino que devem ser aplicadas para os cardiopatas iniciantes:
– Procure manter uma frequência de três treinos por semana, sempre com um dia de descanso entre eles –para recuperação completa do organismo, que geralmente precisa de 24 a 36 horas de descanso.
– Pelo menos no primeiro mês de treino, prefira prioritariamente por exercícios feitos em máquinas.
– Apesar da necessidade de mais estudos científicos comprovando esta teoria, exercícios feitos deitados (no banco reto ou inclinado) são mais eficazes (menor aumento de PA e FC e recuperação mais rápida destas variáveis) e indicados para quem tem cardiopatias.
– Devem ser evitados exercícios "pressóricos" ou seja, que aumentem excessivamente a pressão arterial, como leg press 45º, supino declinado, agachamento completo e outros que envolvam grandes quantidades de grupos musculares, assim como exercícios unilaterais consecutivos (evitando somatória de oclusão).
– O peso deve ser empregado de forma cautelosa, em conjunto ao número de repetições. Cargas entre 55% e 70% do peso máximo que você consegue levantar em uma repetição (1RM) têm sido testadas e bem suportadas por esses pacientes.
– Geralmente, quatro a dez séries por treino (considerando todos os exercícios) são suportadas e adequadas de uma maneira geral no primeiro mês, podendo esse número ser aumentado gradualmente dependendo das adaptações.
– Quatro a dez repetições por exercícios são adequadas para iniciar o treino, na tentativa de não promover aumentos abruptos e concomitantes de FC e PA.
– O período de descanso entre séries e treinos é um dos segredos no programa desses pacientes. Os intervalos superiores a 1 minuto entre as series obrigatoriamente devem ser respeitados, com observação da resposta da FC (usando o frequencímetro) durante a recuperação. Não há tempo padrão ou fixo, devendo a FC diminuir a valores basais (de repouso), para então iniciar nova série de exercício. Além disso, o registro da PA durante repouso, após cada série ou pelo menos entre séries, deve ser realizado na tentativa de conhecer a variabilidade individual do paciente em relação aos demais. Após o segundo ou terceiro mês (aluno já estabilizado e conhecido pelo professor) é indicado o registro da PA nos momentos pré e imediatamente após o treino.
– Deve-se evitar circuitos complexos (bi e tri-set, por exemplo) e grandes volumes de treino durante qualquer época de treinamento.
– Deve-se obrigatoriamente treinar com um frequencímetro e registro mínimo da PA (pré e pós-treino pelo menos).
– Pressão arterial sistólica superior a 150mmHg ou sinais de arritmias impossibilitam o início do treino, devendo o cardiologista particular ser consultado imediatamente.
– Exercícios aeróbios são extremamente necessários e devem ser realizados em conjunto com a musculação. Estudos recentes mostram grandes benefícios do exercício intervalado: caminhadas com variações na inclinação da esteira, dentro de curtos períodos em maiores inclinações.
Procure um profissional qualificado para elaborar seus treinos e que tenha experiência em doenças cardiovasculares.
Vale lembrar que além da prática de atividades físicas, para os portadores de doenças cardiovasculares é muito importante uma nutrição adequada. O consumo de vegetais, frutas, grãos integrais, fibras alimentares, antioxidantes e outras substâncias são essências na prevenção e controle desses problemas. Também é recomendado o consumo moderado de gorduras, além de evitar calorias em excesso.
Referências:
– Fleck S. J. Kraemer W. J. Designing Resistance Training Programs. Fourth Edition, Human Kinetics. (2014).
– Miranda H, Simão R, Lemos A, Henrique B, Dantas A. Baptista L. A. Novaes J. Análise da frequência cardíaca, pressão arterial e duplo-produto em diferentes posições corporais nos exercícios resistidos. Rev Bras Med Esporte _ Vol. 11, Nº 5 – Set/Out, 2005.
– Lamotte M, Niset G, van de Borne P. The effect of different intensity modalities of resistance training on beat-to-beat blood pressure in cardiac Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2005 Feb;12(1):12-7.