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Paola Machado

Sedentarismo e má alimentação podem levar ao acúmulo de gordura no fígado

Paola Machado

14/12/2018 04h00

Crédito: iStock

O acúmulo de gordura corporal na região abdominal (gordura visceral) é muito perigoso para nossa saúde, pois pode levar à síndrome metabólica, acarretando na resistência à insulina, problemas cardiovasculares, diabetes e esteatose hepática não alcoólica, doença que afeta até 39% da população mundial.

As esteatoses hepáticas são caracterizadas pelo acúmulo de gordura no fígado e classificadas como alcoólicas –provocadas pelo consumo excessivo de bebidas– e não alcoólicas (EHNA).

A EHNA é  uma manifestação hepática da síndrome metabólica, que caracteriza-se pela presença de gordura no hepatócito, que são as células encontradas no fígado capazes de sintetizar proteínas. Ela pode variar em esteatose hepática simples, esteatose-hepatite não alcoólica, cirrose e hepatocarcinoma (câncer).

Também conhecida por doença hepática gordurosa, gordura no fígado ou fígado gorduroso, a condição é cada dia mais comum, podendo atingir 50% dos diabéticos, 57% a 74% dos obesos e até 90% dos obesos mórbidos.

Os mecanismos envolvidos no desenvolvimento e progressão da esteatose não são bem esclarecidos. Porém, a resistência à insulina, o estado inflamatório, o sobrepeso, o diabetes, fatores genéticos, má alimentação, perda de peso muito rápida e o estilo de vida sedentários são gatilhos para o desenvolvimento dessa patologia.

A primeira hipótese que pode desencadear o desenvolvimento da EHNA é a resistência insulínica. A influência de fatores genéticos e ambientais leva à resistência insulínica periférica, aumentando os ácidos graxos não esterificados. Assim, há um maior influxo dos ácidos graxos do hepatócito e aumento da lipogênese hepática, ou seja, ocorre um acúmulo de gordura no fígado.

A segunda hipótese refere-se ao acúmulo de gordura visceral, que também contribui para o desenvolvimento de resistência insulínica. O tecido adiposo visceral –gordura ao redor dos órgãos vitais, que costuma ser observada em pessoas com maior circunferência abdominal — é composto por células inflamatórias que aumentam a liberação de adipocinas (proteína do tecido adiposo) inflamatórias — como a leptina e TNF-alfa, reduzindo a secreção de adiponectina (proteína responsável pela regulação da glicose no sangue e degradação dos ácidos graxos) e adipocinas anti-inflamatórias. Isto é, pode ocorrer um acúmulo de gordura no fígado, progredindo até para um quadro de cirrose.

A grande maioria dos pacientes não sente nenhum tipo de sintoma, porém, em estágios mais avançados, podem surgir desconfortos abdominais, fadiga, mal-estar, perda de apetite, aumento do fígado, hepatomegalia, insuficiência hepática.

A detecção da doença ocorre por meio de exames clínicos, exames de sangue e de imagem (ultrassonografia, ressonância magnética e tomografia computadorizada). Em alguns casos é preciso realizar uma biópsia hepática. Uma vez detectada a alteração, é indispensável estabelecer o diagnóstico diferencial com outras patologias secundárias, como drogas e medicações, exposição a toxinas ambientais, alterações metabólicas etc.

A influência dos exercícios sobre a esteatose hepática

Todos sabemos os benefícios da prática esportiva e a inclusão de estratégias de estilo de vida ativo no dia a dia. O gasto energético proporcionado por atividades físicas auxilia na redução do peso, contribuindo para a diminuição de doenças associadas a excesso de gordura no corpo.

Como grande parte da população que sofre de EHNA tem sobrepeso ou obesidade, exercícios combinados –envolvendo treinos de musculação para melhorar a qualidade e manutenção de massa magra e atividades aeróbicas — são importantes para que o paciente reduza o peso de forma eficiente, melhorando a qualidade de vida.

Estudos apontam que a combinação de exercícios aeróbicos e resistidos apresenta resultados mais satisfatórios na redução de massa corporal, como já exposto aqui na coluna, bem como na prevenção e tratamento da obesidade e de suas comorbidades, quando comparados ao exercício isolado. O exercício combinado reduz a síndrome metabólica, melhorando o processo inflamatório, incluindo o aumento na concentração de adiponectina e o controle de fatores de risco da obesidade.

No entanto, há necessidade de novos estudos para reforçar os benefícios da prática de atividade física no combate à EHNA.

O tratamento da esteatose hepática deve ser focando na redução da composição corporal de gordura e melhora da homeostase da glicose e da resistência insulínica. E o exercício melhora a sensibilidade insulínica muscular, reduzindo a resistência insulínica na EHNA.

Saiba que o quadro pode ser influenciado mais pela intensidade do que a duração de exercício ou volume total.

A influência da alimentação sobre a esteatose hepática

A ingestão alimentar excessiva ou a alta ingestão de carboidratos e/ou lipídios pode levar à elevação de glicose, insulina e ácido graxo livre no plasma. Por esse motivo, a dieta inadequada pode desenvolver a resistência à insulina e contribuir para o acúmulo de gordura no fígado.

As orientações gerais para diminuir o risco de doenças hepáticas são:

  • Redução da ingestão de gorduras.
  • Redução da ingestão de carboidratos simples.
  • Aumento do consumo de antioxidantes, como vitamina E e magnésio.
  • Balanço adequado entre consumo e gasto calórico.
  • Redução ponderada da massa corporal.

Vale enfatizar que a redução brusca da massa corporal pode levar à fibrose hepática e aumento dos ácidos graxos livres nas células do fígado.

É importante ressaltar que para o tratamento e prevenção é necessário intervenção de uma equipe multi e interdisciplinar.

Referências:
– Nutrição e exercício na prevenção de doenças. Segunda edição. Ana Dâmaso. Cap. 13 com colaboração de Aline de Piano Ganen, Lian Tock e Ana Dâmaso. Guanabara Koogan. 2012.
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– Tock, L.; et al. Non-alcoholic fatty liver disease in obese adolescents after multidisciplinary therapy. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2006.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.