É possível ter benefícios à saúde mesmo treinando em um local poluído?
A poluição do ar é um problema comum das grandes cidades e traz grandes riscos à saúde. O problema tem sido associado ao aumento de mortes prematuras, causadas principalmente por doenças isquêmicas do coração e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além de diabetes, hipertensão e outros problemas.
Os poluentes e seus efeitos no corpo
Os principais poluentes do ar são:
– Material particulado São partículas finas e microscópicas, originadas de veículos movidos à diesel e fontes industriais. Essas pequenas partículas podem cruzar o epitélio e cair na circulação, promovendo a inflamação local, estresse oxidativo e desencadeando o comprometimento da função pulmonar, cardiovascular e imunológica.
– Ozônio Gerado pela reação entre a luz ultravioleta e as emissões dos motores de combustão interna, sendo prejudicial para a saúde pulmonar.
– Dióxido de enxofre Produzido por usinas — fundadoras, refinadoras e elétricas — que utilizam combustíveis fósseis para gerar energia. Não afeta pessoas saudáveis, mas a exposição causa broncoconstrição em asmáticos.
– Monóxido de carbono Derivado da queima de combustíveis fósseis — carvão, óleo, gasolina e madeira — e também da fumaça do cigarro, pode ligar-se à hemoglobina e formar a carboxihemoglobina, reduzindo a capacidade de transporte de oxigênio do organismo.
– Dióxido de nitrogênio Gerado por veículos automotores, motores de combustão interna, usinas termelétricas, siderúrgicas, incêndios florestais, calor gerado pelos relâmpagos e atividade microbiana nos solos. Proporciona ao ser humano uma agradável sensação ao ser inalado. Isso porque ele tem propriedades anestésicas, porém é tóxico para pessoas e animais e a exposição de longa duração provoca danos sérios à saúde, aumentando a sensibilidade a asma e bronquite, além de ser irritante para os pulmões e diminuir a resistência a infecções respiratórias.
Treino x poluição
Você sabe que a atividade física promove inúmeros benefícios à saúde. Agora, será que indivíduos saudáveis que realizam exercícios em ambientes poluídos vão aproveitar esses benefícios? Ou a qualidade ruim do ar vai anular os efeitos positivos do treino?
Um estudo recente publicado pelo The Lancet mostrou que a caminhada gerou efeitos benéficos tanto em locais contaminados quanto naqueles com ar mais puro. Os efeitos positivos foram observados até em pacientes com doença pulmonar e cardiopatia isquêmica, no entanto, a intensidade de seus efeitos foi menor do que em participantes saudáveis.
Os pesquisadores avaliaram os efeitos sobre as respostas respiratórias e cardiovasculares de adultos idosos durante a prática de caminhada por uma rua movimentada, com altos níveis de poluição, comparando seus dados com a mesma prática em uma área livre de trânsito e com níveis mais baixos de poluição.
E o desempenho?
O desempenho físico em ambientes poluídos tendem a diminuir.
– Atletas, quando expostos a ambientes com materiais particulados, tendem a ter uma redução do desempenho, além de ficarem mais suscetíveis a doenças pulmonares.
– Atletas expostos ao ozônio têm uma redução da função pulmonar e respiratória diretamente proporcional à concentração de ozônio.
– Atletas expostos ao monóxido de carbono tendem a diminuir a capacidade de transporte de oxigênio, afetando as respostas fisiológicas ao exercício submáximo.
Cuidados ao treinar
Dentre tantas informações, o melhor de tudo é prevenir. O índice de qualidade do ar (IQA) é uma medida que considera seus cinco principais poluentes, como o ozônio no nível do solo, material particulado, monóxido de carbono, dióxido de enxofre e dióxido de nitrogênio. Essas informações costumam ser oferecidas pela previsão de tempo local e devem ser adequadas ao indivíduo, pois algumas pessoas sofrem mais com os sintomas que outras.
Seguem algumas orientações gerais:
– Reduza a exposição ao poluente antes do exercício, pois os efeitos fisiológicos dependem da duração e da exposição da dose do poluente.
– Mantenha-se longo de áreas em que se pode receber uma dose "extra" de monóxido de carbono, como locais de fumantes, regiões de muito trânsito e ambientes urbanos.
– Não programe atividades ao ar livre nos períodos em que os poluentes estão em seus níveis mais altos (entre 7h e 10h e 16h e 19h), principalmente por conta do tráfego de veículos.
Alguns cuidados poderão, com certeza, evitar desconfortos e melhorar o seu desempenho.
Referências:
– Münzel, T.; et al. Effects of gaseous and solid constituents of air pollution on endothelial function. European Heart Journal; 39 (38); Págs: 3543 – 3550; 2018.
– Sinharay, R.; et al. Respiratory and cardiovascular responses to walking down a traffic-polluted road compared with walking in a traffic-free area in participants aged 60 years and older with chronic lung or heart disease and age-matched healthy controls: a randomised, crossover study. The Lancet; 391 (10118) Página: 339 – 349; 2018.
– Raven, P. Effects of air pollution on physical performance. In Encyclopedia of Physical Education, Fitness and Sports: Training, Environment, Nutrition and Fitness. Edit by Stull G. and Cureton T. Salt Lake City. UT: Brighton, 1980, pp. 201-216.
– Scott K. Powers & Edward T. Howley. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. Nona edição. Ed. Manole. 2017.