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Paola Machado

Trigger points: saiba o que é e como tratar pontos doloridos nos músculos

Paola Machado

04/04/2019 04h04

Crédito: iStock

Trigger Points ou pontos gatilho miofasciais (PGM) são pequenas áreas hipersensíveis, com aspecto de nódulo, localizadas em faixas mais endurecidas e palpáveis do músculo, que podem estar presentes em qualquer pessoa. Esses pontos podem causar dor local ou referida, espontaneamente ou sob estimulação mecânica, isso é, quando pressionados.

Estima-se que os PGM estejam relacionados com a principal causa de dor em 30% a 85% das pessoas com distúrbios musculoesqueléticos. Os PGM estão associados a alterações histológicas, como o encurtamento dos sarcômeros envolvidos e hipóxia tecidual, e alterações bioquímicas como a liberação excessiva de acetilcolina e diminuição de pH, que influenciam o processo de sensibilização do sistema nervoso central e periférico. Além disso, acredita-se que esse fenômeno se deve ao "enclausuramento" das terminações nervosas nas fibras musculares, desencadeando a sensibilização.

Tipos de PGM

  • Latentes ou Ativos PGM Ativo produz dor espontânea, já o PGM latente não produz dor espontânea e é apenas doloroso à palpação. Ambos podem estar presentes de forma concomitante e causam redução da capacidade funcional, além de induzir a musculatura à ineficiência mecânica.

Como ocorrem?

Embora a fisiopatologia não esteja totalmente elucidada, a literatura aponta para uma crise energética na qual o consumo de energia muscular excede o suprimento de energia, um distúrbio neuromuscular.

É hipotetizado que o repetitivo recrutamento neuromuscular leva à sobrecarga, gerando alterações da concentrações de marcadores bioquímicos e resultando na contração dos sarcômeros musculares locais formando os PGM. Associado a isso, os vasos sanguíneos são comprimidos e a hipóxia local ocorre, o que gera estímulos nocioceptivos nocivos e altera negativamente a modulação autonômica que perpetua esse ciclo por meio de de feedback positivo.

Síndrome da Dor Miofascial

A síndrome dolorosa miofascial (SDM) é caracterizada por dor muscular distribuída  regionamente, associado a PGMs encontrados em um ou mais músculos e tecidos conjuntivos. É uma das causas mais comuns de dor musculoesquelética, acometendo os músculos, tecido conectivo e fáscias, principalmente da região cervical. Pode ocorrer isoladamente ou associada a vários fatores, tornando, assim, difícil o diagnóstico e o tratamento.

Clinicamente, manifesta-se:

  • Presença de ponto-gatilho (PGM);
  • Espasmo muscular segmentar;
  • Dor regional referida e o envolvimento de tecidos moles e variados graus de dor.

Além desses sintomas, pode estar associada a fatores perpetuantes que podem ser mecânicos, emocionais, metabólicos, viscerais e de privação de sono. Esses sintomas e fatores em conjunto levam ao aumento da sensibilidade, rigidez, fraqueza muscular, diminuição da amplitude de movimento e disfunção autonômica.

A estimulação mecânica dos PGMs pode causar dor local e referida, disfunção motora e autonômica. Devido à resposta contrátil local, ou seja, alta sensibilidade à pressão digital, os portadores do PGM manifestam fuga motora, denominados sinais de ressalte, ou dor referida em locais próximos, o que confirma a presença de ponto gatilho.

Diagnóstico

No paciente portador da SDM, o diagnóstico é realizado pela história clínica e exame físico, principalmente a palpação dos PGMs.

Tratamento

Quando o diagnóstico é estabelecido, deve-se escolher o tipo de tratamento a ser empregado para a SDM. O objetivo na fisioterapia é eliminar o PGM, restaurar a amplitude de movimento e restabelecer a função e a força muscular.

Existem diferentes abordagens que têm sido usadas incluindo ultrassom terapêutico, técnicas de compressão isquêmica, alongamento, agulhamento (dry needling), terapia manual e liberação miofascial. O fisioterapeuta é responsável pelas escolha de diferentes abordagens para cada caso especificamente.

A liberação do músculo e da fáscia é chamada de liberação miofascial. Pode ser realizada por meio da pressão manual sobre os PGM e não é uma massagem relaxante. Esse tratamento, apesar de eficaz, pode causar sensação de desconforto durante sua realização.

Os benefícios da liberação miofascial se embasam:

  • A liberação miofascial fornece uma força externa que pode separar os sarcômeros e reduzir a compressão nos vasos sanguíneos.
  • Efeito imediato na redução da dor local.
  • Gradualmente há a hiperemia reativa, em que o fluxo sanguíneo aumenta –necessário para o reparo celular e a remoção de substâncias químicas que induzem a dor.

A liberação miofascial eficaz considera o tempo de recuperação tecidual e a característica do PGM. Associado ao tratamento dos PGM é importante a orientação, abordagem articular, recrutamento de musculatura estabilizadora, restabelecendo o recrutamento neuromuscular correto para evitar a sobrecarga e a formação de novos PGM.

Os tratamentos adequados com profissionais da área de saúde podem interromper continuamente o ciclo evitando regressão e permitir a recuperação em longo prazo. Caso a manifestção dos sintomas seja recorrente ou intensa, é importante que se procure um médico especializado para se excluir outras possíveis causas do desconforto.

*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP, Dra. Renata Luri e da fisioterapeuta Bruna Barreto.

Referências:
– MORASKA, Albert F. et al. Responsiveness of Myofascial Trigger Points to Single and Multiple Trigger Point Release Massages: A Randomized, Placebo Controlled Trial. American journal of physical medicine & rehabilitation, v. 96, n. 9, p. 639-645, 2017.
– Trigger Point Dry Needling. (2017). Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 47(3), 150–150.doi:10.2519/jospt.2017.0502
– SIMONS, David G.; TRAVELL, J. G.; SIMONS, L. S. Myofascial Pain and Dysfunction: The Trigger Point Manual, Volume 1. Upper Half of Body. Baltimore, Williams and Wilkins, 1999.
– Dommerholt, J et al., A critical overview of the current myofascial pain literature – February 2019, Journal of Bodywork & Movement Therapies, https://doi.org/10.1016/j.jbmt.2019.02.017
– QURESHI, Naseem A.; ALSUBAIE, Hamoud A.; ALI, Gazzaffi IM. Myofascial Pain Syndrome: A Concise Update on Clinical, Diagnostic and Integrative and Alternative Therapeutic Perspectives. International Neuropsychiatric Disease Journal, p. 1-14, 2019.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

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