O ambiente em que você vive está influenciando no seu peso?
Desenvolver obesidade ou estar obeso é uma condição que vai muito além do que vemos. A composição corporal de gordura quando está elevada, mesmo a pessoa sendo aparentemente magra, pode refletir em uma condição de sobrepeso, obesidade ou obesidade muito elevada.
Muitas vezes analiso pessoas com o peso na balança baixo –e índice de massa corporal abaixo do normal –, mas composição corporal de gordura altíssima. Por esse motivo, a obesidade tem que ser observada, alertada e acompanhada, pois ela pode se manifestar de formas distintas, visualmente ou não.
Há vários fatores que levam à obesidade, mas hoje quero discutir um pouco sobre ambientes obesogênicos ("que fazem você engordar"), pois todos vivemos ou passamos por esses lugares.
O ambiente obesogênico é um "local" que tem condições propícias para desenvolver a obesidade. Ele promove o acesso amplo e facilitado a alimentos de alta densidade energética e pouco saudáveis, repletos de carboidratos e gorduras e pobres em micronutrientes.
Algumas famílias têm rotinas e ambientes obesogênicas na medida em que desconhecem ou desprezam regras de alimentação saudável e de prática de atividades físicas. O ambiente obesogênico pode, inclusive, estar relacionado a eventuais companhias no trabalho, na escola, em um grupo de amigos. A presença de outras pessoas pode proporcionar aumento da quantidade de alimento consumida e do teor calórico total da refeição. Quando alguém se alimenta em grupo, por exemplo, pode ter maior desinibição, acrescida de maior duração das refeições –com consequente maior exposição aos alimentos calóricos, comuns em bares e alguns restaurantes. E quanto maior o número de pessoas presentes, maior a quantidade de comida e bebida consumidas.
O estudo "Variation in the Heritability of Child Body Mass Index by Obesogenic Home Environment", publicado no Jama Pediatrics em 2018, analisou a interação epigenética em gêmeos. A pesquisa foi realizada usando dados transversais de 925 famílias (1.850 gêmeos) e os dados foram analisados no período de julho a outubro de 2013 e em junho de 2018.
Os pais dos gêmeos analisados responderam a uma série de perguntas relacionadas ao ambiente familiar, focando em questões associadas ao ambiente obesogênico. Essas questões estavam relacionadas à alimentação da casa, nível de atividade física dos pais e crianças e influências de produtos calóricos e industrializados divulgados na mídia.
Os resultados apoiam a hipótese de que genes relacionados à obesidade estão mais fortemente associados ao IMC em ambientes domésticos obesogênicos. E eles aumentam o risco de obesidade em crianças com carga genética para desenvolver o problema.
Por isso, modificar o ambiente familiar desde cedo pode evitar o ganho de peso, sendo particularmente importante para crianças geneticamente em risco de obesidade. Isso não significa restringir –pois acredito que a proibição e restrição na infância muitas vezes leva à curiosidade e o querer fazer o que é proibido por aventura — e, sim, implementar a variedade na combinação e escolha dos grupos alimentares, juntando a alternativas de hábitos saudáveis –incluindo rotina de exercícios, brincar e redução de horas sentado –, além de uma boa oferta de alimentos saudáveis durante o dia, como frutas, legumes e verduras.