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Paola Machado

Medo de se movimentar? Entenda o que é a cinesiofobia

Paola Machado

23/05/2019 04h00

Crédito: iStock

Todos nós em algum momento da vida já sentimos algum tipo de dor. Desde que somos crianças e experienciamos a dor, guardamos essa informação em nosso cérebro como uma memória ruim e cada vez que sentimos uma nova dor, essa memória se potencializa. Conforme crescemos passamos a evitar esses estímulos dolorosos para não acessar essas memórias negativas.

A dor é uma condição comum e é a segunda causa de incapacidade na população. Há muitos fatores como a questão física, biológica, cognitiva, comportamental, social e ocupacional envolvidos nesse processo de dor que influenciam diretamente o porquê de muitas pessoas não se recuperam após um episódio de dor, resultando em um ciclo com sequelas negativas.

Dentre os muitos fatores biopsicossociais que contribuem para o impacto da dor, o medo está entre os mais importantes. O medo é um fator extremamente importante, e nos ajuda a compreender como a dor aguda se torna crônica para algumas pessoas, isso é, por que ela persiste mesmo depois que o tecido lesionado biologicamente já se recuperou.

Medo do movimento

A prevalência de cinesiofobia varia entre 50% a 70% dos casos em pessoas com dor crônica, e pode ser adquirida de duas formas: uma experiência como por exemplo, se lesionar diretamente, ou por aprendizagem pela observação.

Ela é definida como um medo excessivo, irracional e debilitante ao se realizar qualquer movimento, devido a uma sensação de vulnerabilidade para uma lesão dolorosa ou uma nova lesão.

E o que isso significa?

Quem tem cinesiofobia evita ao máximo se movimentar e opta por ficar parado, pois acredita que irá se proteger. Há a crença de que algumas atividades e movimentos provocam potencial lesão, mas o maior problema consiste no ciclo vicioso: a pessoa não se mexe porque dói e dói porque não se mexe.

Dor -> Medo da dor e do movimento -> Tensão + Ansiedade -> Incapacidade Funcional + Pessimismo

Muitas das vezes a cinesiofobia vem acompanhada do efeito nocebo, que é o ato de gerar uma expectativa negativa diante da crença que algo o fará piorar, gerando ansiedade, evitação a dor, a própria cinesiofobia e a catastrofização da dor. O efeito nocebo provoca interpretações errôneas das sensações corporais, como a experiência de um estímulo que na verdade não é prejudicial causar dor intensa, entrando em um ciclo vicioso de dor e medo da dor e do movimento – tensão e ansiedade – incapacidade funcional e pessimismo.

Pessoas com a condição mostram maiores níveis de dor, incapacidade e sofrimento emocional, e baixa de qualidade de vida. Estudos já comprovam o papel da atividade física na diminuição da dor, sendo uma das estratégias de reabilitação de muitas lesões.

A cinesiofobia pode causar um ciclo vicioso negativo uma vez que o medo de se movimentar limita a execução adequada de um movimento ou exercício, e leva à baixa adesão ao tratamento e pode causar frustração tanto para o paciente quanto para o fisioterapeuta.

O diagnóstico é o primeiro passo para que haja um tratamento eficaz. Diversas estratégias de tratamento biopsicossociais e educação do paciente para gerir comportamentos auxiliam na modificação da cinesiofobia. É importante romper o ciclo vicioso pelo reconhecimento e ressignificação da dor. O acompanhamento de uma equipe interdisciplinar é a chave para qualidade de vida.

*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde (UNIFESP), Dra. Renata Luri e da fisioterapeuta (UNIFESP), Dra. Bruna Barreto

Referências:
– Benz, Laurence N.; Flynn, Timothy W. Placebo, nocebo, and expectations: leveraging positive outcomes. 2013.
– George, Steven Z. et al. Clinical investigation of pain-related fear and pain catastrophizing for patients with low back pain. The Clinical journal of pain, v. 27, n. 2, p. 108-115, 2011.
– Goldberg, P., Zeppieri, G., Bialosky, J., Bocchino, C., van den Boogaard, J., Tillman, S., & Chmielewski, T. L. (2018). Kinesiophobia and Its Association With Health-Related Quality of Life Across Injury Locations. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, 99(1), 43–48. doi:10.1016/j.apmr.2017.06.023
– Luque-Suarez, A., Martinez-Calderon, J., & Falla, D. (2018). Role of kinesiophobia on pain, disability and quality of life in people suffering from chronic musculoskeletal pain: a systematic review. British Journal of Sports Medicine, bjsports–2017–098673.doi:10.1136/bjsports-2017-098673

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.