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Paola Machado

Burnout: conheça os sinais e como prevenir a exaustão física e mental

Paola Machado

18/06/2019 04h00

Crédito: iStock

Estava pensando esses dias como o trabalho se torna algo automático e não prestamos atenção no quanto estamos sobrecarregados. É tanta coisa que temos de fazer ao mesmo tempo que, se pararmos para pensar, estouramos. Mas, como tudo na vida, temos que saber dosar, saber a hora de dar uma pausa e, principalmente, saber quanto temos que despender de tempo para cada atividade para não cairmos em um problema que está se tornando muito comum: o burnout.

Burnout é um estado de exaustão física e mental que pode tirar o foco e disposição no trabalho e até trazer uma sensação de infelicidade no emprego ou carreira que antes o fazia feliz. Com isso, você fica desmotivado para praticar exercícios, ter uma vida social ativa, estar com os amigos ou interagir com as pessoas que ama.

O que é o burnout?

Na década de 1970, o psicólogo Herbert Freudenberger conceituou o burnout como uma grave condição de estresse que leva a uma exaustão física, mental e emocional severa. Esse é um estado muito pior do que a fadiga comum, pois o esgotamento é tão intenso que torna difícil para as pessoas lidarem com o estresse e com as responsabilidades do dia a dia.

Quem sofre de burnout muitas vezes sente que não têm mais nada para oferecer e pode até ter dificuldades de sair da cama ao acordar. Pode adotar uma visão pessimista em relação à vida e sentir-se desesperançado —similar aos quadros depressivos e de pânico.

Essa condição não desaparece sozinha e, se não for tratada, pode levar a doenças físicas e psicológicas graves, como depressão, doenças cardíacas e diabetes.

Qualquer pessoa que esteja continuamente exposta a altos níveis de estresse pode sofrer de burnout, mas pessoas que sofrem de transtornos e comportamentos compulsivos têm o risco aumentado de desenvolvimento do problema.

Quais são os sinais do burnout?

  • Exaustão Sentir-se fisicamente e emocionalmente esgotado. Podem aparecer sintomas físicos como dores de cabeça, dores de estômago e alterações do apetite ou do sono.
  • Isolamento social Pessoas com burnout tendem a se sentir sobrecarregadas e, como resultado, podem parar de socializar e confiar em amigos, familiares e colegas de trabalho.
  • Fuga Insatisfeito com as exigências do trabalho (e a pressão que a própria pessoa se coloca), quem "tem" burnout pensa em estratégias o tempo todo para se ausentar de alguma forma. Em casos extremos, pode recorrer a drogas, álcool ou comida como forma de reduzir a dor emocional.
  • Irritabilidade O burnout pode fazer com que as pessoas percam a calma com amigos, colegas de trabalho e familiares mais facilmente. Lidar com estressores normais, como preparar-se para uma reunião de trabalho, levar as crianças à escola e cuidar de tarefas domésticas comuns também podem começar a parecer um problema insuperável, especialmente quando as coisas não correm como o planejado.
  • Doenças frequentes O burnout, como qualquer outro estresse de longo prazo, pode reduzir a atividade do sistema imunológico, tornando a pessoa mais suscetível a resfriados, gripes e insônia. Além disso, pode levar a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

Estágios do burnout

O burnout não surge de uma vez e a pessoa que sofre dessa síndrome pode passar por 12 estágios:

Estágio 1 – Ambição excessiva. Comum para pessoas que estão iniciando em um novo emprego ou realizando uma nova tarefa. Muita ambição pode levar ao esgotamento.

Estágio 2 – Trabalhar mais do que deve. Querer ser sempre mais ou fazer mais do que de fato precisa fazer, muitas vezes por pressão interna, leva ao estresse excessivo.

Estágio 3 – Negligenciar suas necessidades. Você começa a sacrificar o autocuidado,  como dormir, exercitar-se e comer bem.

Estágio 4 – Culpar os outros e gerar conflitos. Em vez de reconhecer que você está se dedicando mais do que deve e até se pressionando, começa a culpar seu chefe, as exigências de seu trabalho ou colegas por seus problemas.

Estágio 5 – Não ter mais tempo para estar com quem ama. Nesse estágio você não tem mais tempo para estar com ninguém e só se ocupa com necessidades relacionadas ao trabalho. Convites sociais para festas, passeios e jantares começam a parecer penosos, em vez de agradáveis.

Estágio 6 – Negação. A impaciência com aqueles ao seu redor torna-se persistente. Em vez de assumir a responsabilidade por seus comportamentos, você culpa os outros, vendo-os como incompetentes, preguiçosos e arrogantes.

Estágio 7 – Exclusão. Você começa a se excluir do convívio familiar e dos amigos.

Estágio 8 – Mudança de comportamento. Aqueles que estão no caminho para sofrer um burnout mais intenso podem se tornar mais agressivos e brigar com pessoas próximas sem nenhum motivo.

Estágio 9 – Despersonalização. A pessoa começa a sentir-se separada da sua vida e da sua capacidade de controlá-la.

Estágio 10 – Sentimento de vazio e ansiedade. O burnout pode desencadear comportamentos de busca por emoções para lidar com o problema, como uso de substâncias, jogos de azar ou comer demais.

Estágio 11 – Depressão. A vida perde seu significado e você começa a se sentir sem esperança.

Estágio 12 – Colapso mental e físico. O problema pode afetar sua capacidade de lidar com você e com as pessoas. Torna-se necessário orientação médica, psiquiátrica e terapêutica.

O burnout pode fazer com que você ganhe peso

Além de todos os problemas mentais e físicos do burnout, ele pode comprometer seu processo de emagrecimento ou até mesmo fazer com que você engorde. Um estudo de pesquisadores da Universidade da Geórgia descobriu que os adultos que se sentem sobrecarregados ou esgotados muitas vezes adotam uma série de comportamentos não saudáveis ​​que podem levar ao ganho de peso.

Os pesquisadores recrutaram quase 1.000 homens e mulheres que estavam trabalhando em empregos de tempo integral. Eles pediram que respondessem perguntas sobre suas cargas de trabalho, assim como seus sentimentos de exaustão ou esgotamento. Eles também pediram aos participantes do estudo que relatassem seus hábitos alimentares e de exercícios.

Os resultados mostraram que os funcionários com carga de trabalho mais pesada ou mais exigente são mais propensos a comer emocionalmente e sem parar —ou sem pensar. Eles também tendem a escolher alimentos que têm mais gordura.

O estresse crônico do trabalho se manifesta em comportamentos e hábitos de saúde negativos. A psique humana e o corpo físico têm uma quantidade finita de energia. Quando a energia se esgota, os sistemas podem não funcionar na capacidade ideal. Quando se trata de alimentação e hábitos de exercício, a pessoa sobrecarregada pode simplesmente estar tão esgotada pelo trabalho que a mente inconscientemente ou conscientemente não trabalha em harmonia. Quando esse ciclo se repete, formam-se fortes vias neurais, e os comportamentos nocivos tornam-se um hábito.

Como prevenir o burnout

  • Exercício Não só o exercício é bom para a nossa saúde física, como também pode nos dar um impulso emocional. Você não precisa passar horas na academia para aproveitar esses benefícios. Protocolos intervalados de alta intensidade (HIIT) ou caminhadas curtas são maneiras oportunas de fazer do exercício um hábito diário.
  • Alimentação balanceada Ingerir alimentos saudáveis pode ajudar muito a sua saúde mental. Adicione no menu alimentos ricos em ômega-3, como óleo de linhaça, nozes e peixes, pois o nutriente ajuda a dar um impulso em seu humor.
  • Bons hábitos de sono Nosso corpo precisa de tempo para descansar e se reernegizar, e é por isso que hábitos saudáveis ​​de sono são essenciais para nosso bem-estar. Evite cafeína antes de dormir, estabeleça um ritual relaxante antes de irvpara a cama e desligue os celulares para que seu sono tenha qualidade.
  • Peça ajuda Durante momentos estressantes, é importante procurar ajuda, tanto de amigos e familiares, quanto de profissionais de saúde

Como lidar com pessoas que estão sofrendo de burnout ?

A informação é importante para não perdermos a paciência com quem amamos. Por isso, ajude.

  • Ouça Antes de querer "corrigir" aquela pessoa, ofereça-se para ouvir as dificuldades do seu amigo ou familiar. Essa pessoa precisa desabafar e ter alguém para conversar pode fazer um muita diferença. Muitas vezes as pessoas precisam de alguém para falar sobre seu estresse e sofrimento.
  • Valide sentimentos e preocupações Quando amigos e familiares estão sentindo os efeitos do esgotamento, ofereça validação. Exemplo: "Você é bom, mas está trabalhando muito e eu entendo que esteja esgotado".
  • Ofereça ajuda específica Indivíduos que estão esgotados muitas vezes estão cansados ​​demais para pensar em como os outros podem ajudá-los. Se convive com essa pessoa, detecte os maus hábitos e auxilie nos bons hábitos. Ofereça uma refeição de qualidade, leve para caminhar etc.
  • Gestos gentis Envie flores, uma mensagem de texto ou um cartão para lembrar que o indivíduo não está sozinho e têm pessoas que se preocupam com ele.

O burnout precisa ser detectado o quanto antes e  se informar sobre o problema pode evitar vários problemas severos.

Referências:
– Padilla, H.M.; et al. Health behavior among working adults: Workload and exhaustion are associated with nutrition and physical activity behaviors that lead to weight gain. Health Psychology. 2019.
– Kaschka W.P., et al. Burnout: A fashionable diagnosis. Dtsch Arztebl Int. 2011.
Depression: What is burnout?
– Heinemann, L.V., et al. Burnout research: Emergence and scientific investigation of a contested diagnosis. SAGE Open. 2017.
– Hall-Flavin, D.K. Natural remedies for depression: Are they effective? Mayo Clinic. 2018.
Roskam I, et al. (2017). Exhausted parents: Development and preliminary validation of the parental burnout inventory. Front. Psychol. 2017.
– Smith, M., et al. Burnout prevention and recovery. 2016.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.