Dor na sola dos pés ao acordar ou ao correr? Saiba o que causa o problema
Você sente uma dor na sola do pé ao pisar no chão quando acorda, ao levantar-se após muito tempo sentado ou durante a corrida? Esse desconforto pode estar associado à síndrome da dor no calcanhar plantar (PHPS), mais conhecida como fascite plantar, e é a causa mais comum de dor nos pés.
O que é a fáscia plantar e qual a sua função?
A fáscia plantar é um tecido com propriedade elástica que recobre toda a planta dos pés. Ela se origina no osso do calcanhar e se insere nos tendões dos músculos dos dedos dos pés.
Funções da fáscia:
- Durante a caminhada, a fáscia cria uma tensão que mantém os pés levemente arqueados e se alonga conforme os pés se movimentam.
- Age como uma estrutura de suporte do arco longitudinal do pé.
- Auxilia no amortecimento do impacto durante a marcha.
O que é a fascite plantar?
É uma dor intensa em facada/queimação na região da fáscia longitudinal dos pés (sola ou planta dos pés), em especial na região do calcâneo, que piora na parte da manhã ao apoiar os pés no chão ou após um longo período parado na mesma posição. Inchaço e sensação de calor no local podem estar presentes devido à inflamação.
Dados apontam uma maior incidência da fascite em mulheres na fase do climatério, homens e mulheres na faixa dos 40 a 70 anos e atletas, principalmente os corredores.
Causas
Existem várias causas associadas, sendo a principal de origem mecânica, envolvendo forças que comprimem a região da fáscia do pé, gerando microtraumas, degeneração e inflamação.
Há fatores de risco associados que podem sinalizar a importância do cuidado com os pés:
- Obesidade.
- Encurtamentos musculares.
- Corrida prolongada.
- Sapatos mal ajustados, uso de salto alto ou salto baixo.
- Marcha inadequada.
- Pé cavo (arcos altos/muito arqueados) e pé plano (popularmente conhecido como pé chato). Tanto os pés cavos quanto os planos interferem na biomecânica da marcha, pois não apresentam a curvatura fisiológica dos pés, causando maior impacto e tensão na fáscia plantar durante a caminhada e piorando durante a corrida, predispondo à inflamação.
- Envelhecimento. Durante o envelhecimento há uma redução gradual de colágeno e líquidos no coxim adiposo do calcanhar (uma estrutura localizado no calcanhar responsável por absorver o impacto durante a marcha), levando à redução na espessura e altura do coxim, gerando impactos.
Tenho esses sintomas, como saber se esse é meu diagnóstico?
O diagnóstico é clínico, por meio de anamnese, história clínica e exames físicos. Podem ser solicitados exames complementares que podem confirmar o diagnóstico ou descartar outras causas de dor no calcanhar. Radiografias simples podem descartar lesões ósseas ou fraturas por estresse e ajudar a determinar a cronicidade da doença.
Como posso me prevenir?
- Evite ganho de peso, pois toda sobrecarga extra é gerada sobre as estruturas do arco do pé.
- Alongue. Em especia os corredores, que devem fazer alongamentos na fáscia plantar associados a alongamento dos músculos sóleo e gastrocnêmio (panturrilhas).
- Mantenha-se ativo. Tão importante quanto alongar é fortalecer a musculatura do corpo todo, em especial dos músculos da perna e até os músculos dos pés conhecidos, como musculatura intrínseca do pé.
- Evite usar um calçado sem amortecimento, ou menor ou maior que seu pé durante a corrida. Caminhada ou corrida sem calçado adequado pode causar estresse e levar à lesão da fáscia plantar. Estas atividades podem provocar o aparecimento precoce da fascite plantar, antes dos 40 anos.
- Evite o uso de calçados com salto alto ou baixo (por exemplo, rasteirinhas). Tanto o salto muito alto quanto aquela rasteirinha sem amortecimento do impacto podem de forma gradual provocar microlesões.
- Use palmilhas ortopédicas sob medida. Elas podem ser úteis para corrigir alterações anatômicas que predispõem a impactos e microtraumas na fáscia. Podem ser um bom investimento por se adaptarem em qualquer calçado.
2 dicas simples para aliviar desconfortos na sola dos pés
- O gelo é sempre uma boa opção quando há um processo de dor e inflamação aguda, pois alivia a dor e inibe que o processo de inflamação seja exacerbado.
- Massagear e pressionar a sola dos pés pode aliviar a tensão da fáscia e desconfortos, você pode usar garrafinhas com água congelada e bolinhas de tênis para massagear a sola dos pés.
Como usar a seu favor os dois benefícios?
Encha com água uma garrafinha pet de 500 ml, congele e use a garrafa congelada para passar sob a sola dos pés. Lembre-se que 10 minutos são suficientes para se beneficiar. Observe a necessidade de usar uma toalha para proteger a pele caso tenha sensibilidade.
Em caso de dor, procure um profissional de saúde para mais orientações e tratamento adequado.
Tratamento
Na maior parte dos casos, o tratamento é conservador e consiste em repouso, abordagem medicamentosa para controlar a dor e a inflamação (anti-inflamatórios, analgésicos, infiltrações com corticoides e fisioterapia para tratamento da fascite plantar). Pesquisas recentes apontam o uso do laser, ultrassom, terapias por ondas de choque, terapia manual, exercícios de alongamento da fáscia plantar e de grupos musculares específicos em pernas e o uso de palmilhas como formas eficazes no controle da dor.
Além disso, estudos mostram que palmilhas ortopédicas sob medida podem auxiliar no tratamento de forma complementar, dando suporte ao arco longitudinal dos pés, diminuindo o impacto no calcanhar durante a marcha. Além disso, exercícios de propriocepção (estimulam que o corpo reconheça seu posicionamento no espaço), exercícios de fortalecimento e alongamento muscular geram o equilíbrio neuromuscular, melhorando também a biomecânica da marcha.
A cirurgia é indicada somente como último recurso. Caso após 6 a 12 meses o tratamento conservador não tenha gerado melhoras.
Lembre-se que sem o tratamento adequado a dor pode se tornar crônica, tornando o tratamento mais longo e custoso. Além disso, a dor da sola dos pés pode impactar em alterações na marcha e compensações, o que pode até lesionar outras estruturas como os joelhos, quadris e até a coluna.
*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela Unifesp, Renata Luri e da fisioterapeuta pela Unifesp, Juliana Satake