Faz mal estalar os dedos e outras articulações? A que sons ficar atento?

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Estalar o dedo ou o pescoço é um hábito comum. Cerca de 25% a 45% da população estala alguma articulação de forma consciente, sendo isso para algumas pessoas mais do que um hábito, é praticamente um vício.
Estalar não costuma fazer mal, desde que não cause dor. Sua avó acreditava que estalar dedos podia engrossá-los, saiba que é um mito que já caiu por terra.
Mas alguns pesquisadores associam o hábito a danos, incluindo lesão nos músculos, tendões e até em cápsula articular. Outros associam à diminuição da força e alteração em amplitude de movimento. Além disso, a ciência vem relacionando a efeitos deletérios como o risco de frouxidão ligamentar e até de doença degenerativa. No entanto, ainda não há um consenso.
Ciência explica de onde vem o estalo
Há anos cientistas avaliam os efeitos dessa prática para compreender de onde vem o som e como ele se forma.
- Como ocorre? Há concordância na literatura quanto à formação de uma bolha como parte do mecanismo do estalo. Mas o processo pelo qual a bolha é formada e a origem exata do som de quebra não é claro.
- O que se sabe hoje? Cientistas explicam que temos nas articulações um líquido que preenche o espaço da articulação, chamado líquido sinovial que age como um lubrificante e contém gases como oxigênio, nitrogênio e dióxido de carbono. Quando movemos a articulação de uma forma extrema ou rápida existe um afastamento dos ossos, criando um espaço, uma bolha de ar. No momento em que essa bolha é movida se ouve o estalo.
- Pode ocorrer na coluna? Pode sim. Na coluna há uma série de pequenas articulações. O movimento do fluido, contido nestas articulações, causa os estalos que você escuta quando torce o tronco ou quando se estica. Após ficarmos um dia todo sentados na mesma posição em frente ao computador, a coluna tende a estalar naturalmente.
Sensação de Alívio
Quem nunca provocou propositalmente um estalo para aliviar algum desconforto momentâneo que atire a primeira pedra. Estudos comprovam que as pessoas associam o barulho do estalo à sensação de alívio. Nas articulações possuem conjunto de terminações nervosas chamados Orgãos Tendinosos de Golgi que são estimulados quando estalamos e consequentemente, os músculos em torno da articulação relaxam. Além disso, alguns estudos apontam para a liberação de neurotransmissores relacionados ao prazer e bem-estar com o estalo.
A percepção de que vértebra está "realinhada" após estalar está mais relacionada com esses benefícios. Mas não há milagres, a ciência comprova que para manutenção a longo prazo de uma coluna saudável há a necessidade de realizar um tratamento de forma mais ativa, através de exercícios de alongamento e principalmente, fortalecimento. Por isso, estalar sozinho não será a solução de todos os seus problemas.
Fique atento a outros sons
Você sabia que as articulações podem fazer sons diferentes: estalo, crepitações, etc e muitas vezes, podem passar a sensação de que está "fora do lugar".
- Movimento das articulações, tendões e ligamentos Dependendo da angulação do movimento você pode sentir um estalo quando o tendão retoma sua posição original ou seus ligamentos tensionarem.
- Ranger e crepitar Articulações podem crepitar pela perda de cartilagem lisa e devido à rugosidade da superfície articular. Esse processo pode estar associado a uma condropatia e em alguns casos, o não tratamento pode evoluir para um desgaste articular severo.
- Ressalto Ocorre nas camadas que revestem o músculo, conhecida como fáscia. Quando a fáscia é estimulada de forma abrupta, principalmente em pessoas sedentárias. Quem nunca sentiu um estalo na escápula quando mexe o ombro?
Embora um estalo não gere dor na fase inicial, procure um profissional da saúde para avaliar o seu alinhamento postural e a qualidade articular, pois estalar de forma rotineira pode causar ou indicar algum dano articular. Sabemos que a prevenção é o melhor caminho para ter qualidade de vida.
*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela Unifesp, Dra. Renata Luri e da fisioterapeuta pela Unifesp, Dra. Angela May