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Paola Machado

Os coletes para melhorar a postura funcionam?

Paola Machado

22/08/2019 04h00

Crédito: iStock

Desconfortos em coluna são cada vez mais comuns e estão relacionados ao estilo de vida sedentário e à rotina de trabalho intensa que leva ao estresse e à redução da qualidade de vida.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 8 em cada 10 pessoas terão dores nas costas ao longo da vida e estima-se que 40% destas irão desenvolver um quadro de dor crônica (que persiste mesmo sem um quadro inflamatório agudo). Devido a esse aumento de pessoas com queixas de dores envolvendo a coluna, surgem várias alternativas de tratamento para reduzir as dores e "melhorar a postura". Algumas técnicas são eficazes e respaldadas pela ciência, enquanto outras nos fazem questionar seu real papel.

Vi na internet um anúncio sobre coletes para melhorar a postura… 

O uso de coletes para a coluna se tornou mais conhecido após atletas aparecerem utilizando o dispositivo durante jogos e treinamentos. Um exemplo é o colete chamado "Putti", que promete o alívio e a correção postural por meio da estabilização muscular. Esses coletes podem ajudar nas dores e desconfortos numa fase inicial e aguda de dor, mas se tornam prejudicial se usados diariamente e por períodos prolongados.

Tenho dor, posso utilizar os coletes protetores?  

Depende, há critérios bem determinados e específicos para o uso de coletes. São indicados em casos de fraturas, pós-operatórios, dores agudas (com as devidas restrições e indicações) e devem ser suspensos após a fase inflamatória ou de acordo com a indicação do médico ou do fisioterapeuta.

Sou atleta e vi um colega usando um colete, posso comprar um para mim?

Atletas e trabalhadores que carregam peso diariamente podem utilizar por períodos curtos de tempo enquanto estiverem com a carga extra para proteção articular, evitando posturas extremas. Mas o uso do colete deve estar sempre associado a uma rotina de exercícios diários de fortalecimento muscular específico.

Quando o colete pode ser prejudicial? 

Quando usado diariamente e por longos períodos de tempo sem indicação específica.

Por que ele pode prejudicar?

O tecido muscular é altamente adaptável a estímulos e à falta deles, sendo que ambos levam a alterações funcionais: quando usamos o colete por tempo prolongado, o nosso cérebro entende que há uma estrutura capaz de cumprir a mesma função muscular. Aí é como se o cérebro sinalizasse que há o desuso dessa musculatura, desconectando toda a ação de contrair e diminuindo o tamanho da fibra muscular de todos os músculos que estabilizam a coluna. Além disso, estudos recentes mostraram que o desuso da musculatura paravertebral (musculatura ao redor da coluna) pode causar também distúrbios respiratórios.

Resumidamente, o uso prolongado causa diminuição da massa muscular e diminuição de estímulos proprioceptivos que dão suporte à coluna vertebral.

Não há milagres

Se você compra o colete pensando que o acessório o fará ter uma postura aparentemente melhor ou que irá diminuir por completo suas dores crônicas, esqueça, pois será prejuízo na certa. É importante saber que o verdadeiro segredo é se exercitar e fortalecer a musculatura que sustenta sua coluna.

Tente lembrar que tudo o que é passivo, isso é, que não exige sua contração de forma ativa, não trará tantos benefícios quanto praticar exercícios regularmente. Um programa de fortalecimento e alongamento muscular específico é o suficiente para suportar o esforço exigido da sua coluna.

Outa dica importante: em caso de dores na coluna, não se automedique e procure sempre um profissional de saúde especialista para indicar o tratamento mais adequado.

                                                                              *Colaboração da Dra. Renata Luri, Fisioterapeuta Doutora pela UNIFESP e da Dra. Juliana Satake, Fisioterapeuta pela UNIFESP 

Referências:
– Suh et al.The effect of lumbar stabilization and walking exercises on chronic low back pain A randomized controlled trial,  Medicine n.98, v.26, 2019.
– Powers, S. K., Smuder, A. J., & Judge, A. R. Oxidative stress and disuse muscle atrophy. Current Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care, v.15, n.3, p.240–245, 2012.
– Guirro, R R , Eder João Arruda, E. J; Silva, C. A. Desuso gerado por colete de retificação de coluna: estudo experimental.Fisioter Pesq.n.. 21, v.1, p.21-26, 2014.
– Malavaki, C. J, et al. Skeletal muscle atrophy: disease-induced mechanisms may mask disuse atrophy.Journal of Muscle Research and Cell Motility. V,36, n.6, p405-421, 2015.
– Atherton, P. J. et al. Control of skeletal muscle atrophy in response to disuse: clinical/preclinical contentions and fallacies of evidence. v. 311, n.3, 2016.
– Gorge, M, et al. Health-care utilization of patients with chronic back pain before and after rehabilitation. BMC Health Services Research. v.17, n.812, 2017

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.