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Paola Machado

Doença celíaca: como alguém que não pode comer glúten deve se alimentar?

Paola Machado

03/09/2019 04h00

Crédito: iStock

A doença celíaca é um problema autoimune que acomete o intestino delgado, desencadeado pela presença de glúten no trato digestório de indivíduos geneticamente predispostos a desenvolver a doença.

O glúten refere-se ao termo utilizado para descrever frações de proteínas encontradas em alguns cereais, como trigo, centeio, cevada, aveia e em seus derivados. O consumo de alimentos que contêm glúten por portadores da doença celíaca prejudica o intestino delgado, atrofiando e achatando as vilosidades do intestino e levando à limitação da área disponível para a absorção de nutrientes.

O glúten é digerido de maneira incompleta por enzimas gástricas, pancreáticas e intestinais, deixando grandes peptídeos com até 33 aminoácidos de comprimento. E esta fração proteica é então reconhecida pelo sistema imune do indivíduo, gerando uma diversidade de sinais e sintomas característicos da doença. Atualmente, estima-se que 1% da população mundial seja portadora da doença. Entretanto, verifica-se nas últimas décadas aumento constante no número de casos diagnosticados.

Os sintomas clássicos da doença incluem diarreia crônica e perda de peso. Outros problemas comuns incluem deficiência de micronutrientes como ferro, inchaço, constipação, fadiga crônica, dor de cabeça, dor abdominal, osteoporose, artrite, dermatite, baixa estatura em crianças.

O tratamento da doença celíaca é pautado na dieta de restrição de glúten, a qual consiste na exclusão de alimentos que contenham esta fração proteica, como trigo, cevada, centeio e malte. A aveia não tem glúten em sua composição natural. Porém, muitas vezes o alimento é processado nas mesmas máquinas que processam outros cereais com glúten e, por isso, sofre uma contaminação cruzada –mas hoje em dia já é possível encontrar aveia sem glúten na maioria dos mercados.

Para garantir uma dieta isenta de glúten, o indivíduo deve sempre estar atento à lista de ingredientes que compõem as preparações alimentares e fazer leitura atenta dos ingredientes listados nos rótulos de produtos industrializados.

Apesar de muitos produtos não conterem em seus ingredientes fontes de glúten, durante o processo de fabricação pode ocorrer a contaminação cruzada pelo contato com outros alimentos fontes de glúten ou pelas superfícies onde foram manipulados alimentos fontes de glúten. Este tipo de contaminação já se torna suficiente para o portador de doença celíaca manifestar sintomas da mesma.

No Brasil, a Lei nº 10.674 obriga que todos os produtos alimentícios tenham descritos no rotulo o seguinte termo CONTÉM GLÚTEN ou NÃO CONTÉM GLÚTEN . Também surgiram associações que reúnem esforços para orientar e passar informações aos portadores da doença e seus familiares, como a Acelbra.

Dieta isenta de glúten

A dieta isenta de glúten é aquela em que não se consome as fontes alimentares de glúten, ou seja, trigo, centeio, cevada e seus subprodutos.

De acordo com a Acelbra, os alimentos permitidos e proibidos nesta doença incluem:

FONTE: ACELBRA. Acesso em Set 2019. Disponível em: http://www.acelbra.org.br/2004/alimentos.php

Os alimentos listados acima são permitidos e proibidos considerando-se única e exclusivamente a presença ou ausência de glúten. Ressalto que as escolhas alimentares também devem se pautar na qualidade dos alimentos e produtos alimentícios, considerando-se as recomendações mais atuais no Guia Alimentar para a População Brasileira, que recomenda que a alimentação seja baseada principalmente em alimentos in natura e minimamente processados.

*Colaboração da Dra. Deborah Masquio, nutricionista clínica funcional, clínica 12 semanas e pesquisadora da UNIFESP.

Referências:
– Araújo, Halina Mayer Chaves, Araújo, Wilma Maria Coelho, Botelho, Raquel Braz Assunção, & Zandonadi, Renata Puppin. (2010). Doença celíaca, hábitos e práticas alimentares e qualidade de vida. Revista de Nutrição, 23(3), 467-474. https://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732010000300014.
– Guandalini S, Assiri A. Celiac disease: a review. JAMA Pediatr. 2014 Mar;168(3):272-8. doi: 10.1001/jamapediatrics.2013.3858.
– Lebwohl B, Sanders DS, Green PHR. Coeliac disease. Lancet. 2018 Jan 6;391(10115):70-81. doi: 10.1016/S0140-6736(17)31796-8.
Leffler DA, Green PH, Fasano A. Extraintestinal manifestations of coeliac disease. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2015 Oct;12(10):561-71. doi: 10.1038/nrgastro.2015.131

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.