A importância da boa alimentação nos primeiros 1000 dias de vida
Você já ouviu falar nos primeiros 1000 dias de vida? Esse período compreende os 270 dias da gestação e os 730 dias referentes aos dois primeiros anos de vida.
Essa fase é considerada uma fase de ouro, uma grande janela de oportunidade que é capaz de programar nosso organismo para reduzir ou aumentar os riscos de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes e hipertensão arterial. Nessa fase, a nutrição é um dos fatores determinantes para a programação metabólica.
Os 270 dias da gestação…
Uma gestação dura em média 270 dias, aproximadamente. Nessa fase, a nutrição da gestante é primordial para garantir o bom desenvolvimento e crescimento do feto.
Um estudo clínico de longo prazo, conduzido com 975 gestantes e seus filhos aos 20 anos de idade, revelou que a alimentação rica em gordura durante a gestação pode estar relacionada ao aumento de peso e adiposidade abdominal em seus filhos na fase adulta jovem.
O tipo de gordura ingerida também pode interferir nesta programação da gordura corporal. Estudo de longo prazo mostrou que a ingestão da relação omega6/omega3 associou-se com aumento de chance de obesidade nos filhos na fase pré-escolar (2 aos 7 anos de idade). Esta relação foi observada naquelas gestantes que consumiam quantidades reduzidas de ômega 3 e excessivas de ômega 6.
O consumo excessivo de gordura saturada durante a gestaçao também se relaciona a uma maior adiposidade da criança em seu primeiro mês de vida. De fato, alguns estudos experimentais revelam que a dieta rica em gordura saturada é capaz de afetar o metabolismo do tecido adiposo e do fígado, reduzir a sensibilidade à insulina e aumentar a chance de obesidade na prole. Resultados semelhantes são observados após a ingestão excessiva de gordura trans durante a gestação.
Desta maneira, garantir uma boa nutrição durante a gestação é sinônimo de garantir melhores condições de desenvolvimento ao feto, mas não só no período imediato após o nascimento, como também ao longo de toda a vida.
Primeiros seis meses de vida e o aleitamento materno — 180 dias
O aleitamento materno é a forma de alimentação recomendada para todas as crianças, de maneira exclusiva até os primeiros seis meses. Isso significa que não é recomendado a oferta de nenhum outro tipo de alimento e líquidos neste período.
Já existem muitas evidências que o aleitamento materno é capaz de prevenir obesidade e outras doenças crônicas na infância, adolescência e na vida adulta. Além de promover um ganho de peso mais saudável no início da infância, o aleitamento materno é capaz de promover melhor aceitação de variedade de vegetais na infância e de fornecer hormônios como a leptina, que regula o ciclo de fome e saciedade, e a adiponectina, que regula o metabolismo do tecido adiposo e do fígado, por exemplo.
A composição do leite materno pode sofrer influência da alimentação da lactante, nestes casos, orienta-se por uma alimentação saudável, equilibrada e variada. Além do mais, o sabor do leite materno varia em função da ingestão alimentar materna. Portanto, garantir a variedade de sabores e alimentos na dieta materna contribui para variedade de sabores do leite materno.
Ingestão de fontes alimentares de ômega 3 (peixes e sementes) é uma outra importante estratégia para aumentar a proporção deste tipo de gordura no leite materno, já que a quantidade presente no leite humano varia em função da ingestão alimentar da mãe.
Portanto, nos primeiros seis meses de vida, a melhor forma de nutrição consiste na oferta de leite materno. É claro que existem diversas situações que impossibilitam a prática da amamentação. Neste caso, recomenda-se o consumo de fórmulas infantis específicas para a faixa etária e condição clínica de cada criança.
Fase de alimentação complementar, dos seis meses aos dois anos
A introdução alimentar deve se iniciar aos 6 meses para aquelas crianças em aleitamento materno ou que recebem fórmulas infantis. Nos primeiros dois anos de vida, uma boa nutrição torna-se primordial para o crescimento e desenvolvimento da criança, e também para a formação dos hábitos alimentares.
Neste período, a oferta de variedade de alimentos é de extrema importância para proporcionar adaptação à diversidade de paladar, que será extremamente importante para a aceitação de alimentos ao longo de toda a infância e até mesmo adolescência.
O tempo em que se inicia a introdução alimentar também pode ter relação com a programação metabólica. Estudos clínicos apontam que a introdução alimentar precoce, ou seja, antes dos 6 meses de idade pode se relacionar ao desenvolvimento da obesidade na infância.
O perfil de alimentação da criança nesta fase é outro determinante de sua chance aumentada ou diminuída de doenças crônicas ao longo da vida. Sabe-se que, nesta fase, a ingestão excessiva de bebidas açucaradas (sucos artificiais, refrigerantes, achocolatados, bebidas lácteas) e doces favorece o aumento de peso de maneira excessiva, bem como a formação de um paladar altamente adaptado ao sabor doce. De modo geral, o consumo de alimentos altamente calóricos e de elevada densidade energética contribui para o desenvolvimento da obesidade infantil.