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Paola Machado

O que é a dieta cetogênica? Vale investir nela para emagrecer?

Paola Machado

17/10/2019 04h00

Crédito: iStock

Ultimamente ando me perguntando como chegamos aos índices tão alarmantes de sobrepeso e obesidade não só no Brasil, mas no mundo. Temos ao nosso alcance tantas dietas, pílulas, intervenções e, mesmo assim, estes dados crescem exponencialmente.

É neste momento que nos damos conta de algo muito simples, mas frustrante para algumas pessoas: as dietas e intervenções milagrosas não funcionam.

São tantas as promessas para te ajudar a eliminar aqueles quilos que levaram anos para ser incorporados, desconsiderando todos os fatores que vieram de forma associada, que fica difícil acreditar nesta mágica que fará tudo chegar ao fim. Sinto ser realista, mas não será desta forma que você alcançará o tão cobiçado peso desejado ou ideal.

Saiba que inúmeros são os profissionais e também as pesquisas realizadas em torno deste tema e cada vez mais sabemos que o verdadeiro tratamento consiste em tornar-se uma pessoa mais saudável, ou seja, alimentar-se de forma disciplinada e consciente, exercitar-se, dormir bem, ter uma postura positiva com relação à vida, prevenir-se contra as doenças crônicas e tratá-las quando já tiverem aparecido. Não fazer loucuras ou procurar milagres para manter-se magro e, principalmente, ser cuidadoso com a sua saúde.

Sei que é tentador seguir uma dieta aqui ou ali, principalmente se ela promete eliminar 5 quilos em 1 mês, e muitas vezes acabamos nos envolvendo, acreditando e caindo nesta grande cilada. Quando isto acontecer, respire fundo, entenda o que te levou a tomar o caminho errado e retome as escolhas acertadas.

De todas as dietas da moda, certamente a dieta cetogênica é uma das mais conhecidas e praticadas, mas você sabe quando ela é empregada com sucesso? Em tratamento para epilepsia de difícil controle, naquelas pessoas com quadros convulsivos que não respondem adequadamente a terapia medicamentosa e que ao serem submetidos a esta dieta produzem corpos cetônicos suficientes para criar um ambiente metabólico "ácido" e que ameniza ou controla completamente as crises. Indicações a parte, em um indivíduo saudável que se utiliza desta mesma prática os efeitos metabólicos serão bem diferentes. Vamos entender o que acontecerá:

Inicialmente, você deverá compreender algumas orientações básicas e gerais para cumprir os princípios da Dieta Cetogênica: será necessária uma restrição com relação ao consumo de vegetais, frutas e cereais integrais, uma vez que estes contêm carboidratos e o consumo deste nutriente deve ficar restrito a 5% a 10% do valor calórico total (VCT) consumido. Neste caso então, a sensação de saciedade necessária para o controle calórico acontecerá pelas proteínas e gorduras, que contribuem com 20% e 70% do valor calórico consumido, respectivamente.

O estoque de energia na forma de glicose (conhecido como glicogênio) será esgotado ou levado a uma quantidade mínima e, junto com ele, uma quantidade importante de água necessária para o seu equilíbrio metabólico será eliminada. Com esta perda de líquido corporal, você certamente estará mais "leve", tendo a sensação de que está emagrecendo, mas além da perda de água corporal, em paralelo você utilizará não só gorduras, mas também proteínas como fonte energética, eliminando também massa muscular e força, tônus e resistência física.

Será que vale a pena?

Muitos são os efeitos colaterais atribuídos a este tipo de dieta quando prescrita com a finalidade de perda de peso: desidratação, hipoglicemia, dificuldade em evacuar, dificuldade na adesão ao cardápio, pedra no rim, aumento nos níveis de colesterol, triglicérides entre outros efeitos laterais observados, ou seja, junto com o peso você perde também o seu bem-estar.

Além disto, a dieta cetogênica é equivocadamente confundida com a dieta Low Carb, que tem como princípio o controle racional e possível no consumo de alimentos fonte de carboidratos (em média, 40% VCT), valorizando a ingestão de integrais, com casca, bagaço, in natura e frescos, tendo como consequência o menor estímulo para secreção de insulina, maior controle alimentar e consequentemente perda de peso.

Qual é a grande diferença? A resposta é o quão sustentável e saudável será o resultado obtido. Você quer parecer magra para o verão, e na sequência engordar todos os quilos "perdidos", mantendo este círculo vicioso infinito, ou prefere algo que apresente resultados gradativos, porém sem riscos e com resultados duradouros?

A escolha será sempre sua, mas não se esqueça de que milagres não existem, e que muitas vezes optar pelo atalho pode te fazer trilhar caminhos mais longos depois.

*Colaboração da nutricionista comportamental e clínica na clínica 12 semanas Dra. Samantha Rhein (UNIFESP).

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.