Dor de cotovelo? Lesão comum em tenistas pode afetar qualquer pessoa
A epicondilite lateral ou "cotovelo de tenista" é a principal causa de dor na região do cotovelo. A doença acomete de 1 a 3% da população e se caracteriza por dor na região do epicôndilo lateral (lado de fora do cotovelo). A etiologia é relacionada à sobrecarga tendinosa causada por movimentos repetitivos do punho e do braço. Acontece quando o ossinho lateral do cotovelo se torna dolorido e muito sensível, o que é ocasionado pelo excesso de uso dos músculos extensores (que tem como função esticar) o punho e a mão.
Ocorre inicialmente por microlesões na origem dessas musculaturas. Sabe-se que se trata de um processo degenerativo, onde parte do tendão é substituído por uma espécie de tecido sem irrigação, espesso e repleto de cálcio, cujo processo de reparo é lento.
Apesar do nome popular, não só a prática do tênis pode causar o problema. Para se ter ideia apenas 5 a 10% dos que apresentam a epicondilite são tenistas. As atividades diárias com movimentos repetitivos são as que mais podem causar a doença, sendo mais comum em não atletas, principalmente a partir dos 35 até os 55 anos. Aparece com mais frequência no braço dominante, isso é, se você for canhoto acomete o lado esquerdo e, se for destro, acomete o direito.
Podemos descrever dois grupos distintos que sofrem com a doença:
5%: Um grupo formado por jovens e atletas. Praticantes de atividades esportivas que utilizam raquetes e tacos, com movimentos repetitivos e de impulso, como tênis, squash, stand up paddle, levantamento de peso e até mesmo golfe. O uso excessivo/sobrecarga é a chave para a lesão. Destes atletas, até 50% apresentarão, em algum momento, um quadro de epicondilite. Quando ocorre a dor é de início repentino e de rápida evolução.
95%: Este maior grupo é representado por pessoas entre 35 e 55 anos. Geralmente são trabalhadores que exercem atividades de repetição no trabalho como a manicure, ou mesmo em atividades de lazer como quem realiza tricô. Atualmente é cada vez mais frequente em crianças e adolescentes pelo uso frequente de aparelhos como celulares e tablets. No início, a doença se desenvolve aos poucos, com um pequeno incômodo na lateral do cotovelo em atividades simples como ao girar uma chave ou a maçaneta de uma porta. A dor se torna persistente.
Quais sintomas?
Os sintomas da epicondilite são:
- Dor ou sensibilidade sobre o epicôndilo lateral que irradia ao longo do dorso dos músculos do antebraço;
- Dor que se agrava por pequenos movimentos do cotovelo, podendo incomodar e prejudicar a realização de atividades do dia a dia;
- Dor ou sensibilidade ao esticar o punho ou a mão;
- Piora da dor ao levantar objetos pesados;
- Inchaço na região do cotovelo.
Em alguns casos, a pessoa evita de usar o braço e acaba causando uma transferência de função, sobrecarregando outros grupos musculares. É comum a pessoa se queixar de dores também em pescoço e ombros.
Diagnóstico
Além da história clínica, algumas manobras são utilizadas para diagnosticar a lesão. O médico especialista pode solicitar exames complementares. Também devem ser excluídas outras doenças que possam ser a causa da dor, como osteocondrites e compressão do nervo interósseo posterior. É comum apresentar sintomas e quadros variados.
Tratamento
Geralmente, a história natural da doença aponta para uma evolução espontânea em cerca de 70% dos casos no período de algumas semanas ou até alguns meses. O tratamento inicial é conservador baseado no alívio da dor e repouso, com restrição das atividades repetitivas, seja no trabalho ou no esporte. A doença não tem cura, mas seus sintomas podem ser diminuídos ou ausentes com o tratamento correto:
Para o alívio da dor podem ser utilizados analgésicos. O uso de anti-inflamatórios não esteroides é pouco benéfico, uma vez que não há processo inflamatório envolvido na afecção. As infiltrações com corticoides aliviam a dor somente a curto prazo mas a longo prazo podem causar deterioração do colágeno.
Alguns tipos de imobilizações têm sido utilizadas para diminuir a força de tração na origem dos músculos. Aqueles colocados no antebraço e punho podem aliviar momentaneamente mas não são recomendadas a longo prazo pois limitam o movimento e há risco de efeito rebote, com uma dor ainda mais intensa ocasionada pela movimentação de um músculo que se torna cada vez mais enfraquecido.
Ações importantes para o tratamento:
- Repouso relativo (evitar excessos)
- Fisioterapia e terapia ocupacional também contribuem para a melhoria do quadro geral
- No caso de tenistas e esportistas, modificações no equipamento e no modo de jogar
Complicações
Se não tratada, a epicondilite pode causar limitação dos movimentos, dor crônica e o surgimento de outros problemas, como a limitação do movimento dos dedos, formigamento e perda de força nas mãos, dor para girar o punho ou surgimento de cistos.
Qual é o tempo para recuperação de uma crise de epicondilite lateral?
O tempo para recuperação de uma crise de epicondilite depende de muitos fatores, como a idade, as condições médicas pregressas, o quadro e história de episódios recidivantes. Um quadro leve pode melhorar em algumas semanas. No entanto, em outros casos pode levar até seis ou mais semanas para o total retorno da função.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia para epicondilite lateral é indicada somente caso o tratamento clínico conservador não tenha gerado resultados satisfatórios, com dor persistente e limitante.
Dicas práticas
a) Seja ativo! Os exercícios são fundamentais para manter a doença controlada! A atividade física melhora a circulação e a irrigação muscular. Assim, a musculatura fica com maior resistência para a execução das atividades diárias.
b) Não adianta tomar anti-inflamatórios e se automedicar para mascarar a dor!Procure um médico e busque por tratamento adequado.
c) A utilização de imobilização não é efetiva a longo prazo, uma vez que normalmente a dor reaparece quando as atividades são retomadas.
d) Em relação à prática esportiva, a técnica correta permite um melhor desempenho e a prevenção de lesões.Procure sempre orientação profissional para se aprimorar no esporte.
Com a colaboração de Renata Luri, fisioterapeuta pela UNIFESP e Griffith University, Juliana Satake, Fisioterapeuta pela UNIFESP e Pedro Sasaki, Fisioterapeuta pela UNIFESP.