Cotovelo do tenista não acomete só atletas; veja 5 dúvidas frequentes
Você sabia que há cerca de 1 bilhão de praticantes de tênis no mundo todo? O tênis é um dos esportes individuais mais praticados na face da Terra. Esse esporte apresenta diversos benefícios à saúde e está associado à redução da mortalidade. Porém sua prática também pode levar a lesões crônicas se não houver preparo prévio do corpo.
Assim como em qualquer outro esporte, o corpo necessita desenvolver habilidades específicas para realizar os movimentos complexos, repetitivos e de explosão que são exigidos dos jogadores.
O que poderia levar às lesões?
Diferentes níveis de habilidades do jogador, o modo como realiza os movimentos, os tipos de superfícies de quadra, a idade, o gênero, as condições físicas e o preparo do corpo de quem pratica.
Para se ter ideia, em amadores a incidência de lesões pode chegar a 6 pessoas a cada 1.000 horas jogadas. As crianças são as que mais buscam os consultórios médicos, principalmente por traumas por raquete ou bola. Já em atletas profissionais, a incidência de lesão é praticamente 10 vezes maior se comparada aos amadores.
Em homens afeta mais a área de joelhos. Em mulheres afeta a parte de cima do corpo como a região de ombros. Lesões agudas tendem a afetar a extremidade inferior do corpo enquanto as lesões crônicas geralmente envolvem a extremidade superior. Uma das lesões mais comuns na literatura e na prática clínica relacionadas ao tênis é o cotovelo de tenista ou epicondilite lateral.
Quem joga tênis está mais exposto?
Apesar do nome, não apenas quem pratica tênis pode desenvolver o problema. Para se ter ideia apenas 5 a 10% dos que apresentam a epicondilite são tenistas.
Mas cerca de metade das pessoas que praticam irão sentir algum grau de dor na lateral do cotovelo ao longo dos anos de prática. É importante destacar que afeta mais os jogadores iniciantes e amadores do que os profissionais. Movimentos repetitivos do punho sem uma boa estabilidade de tronco e ombro são a principal causa de lesão.
O erro na técnica de movimento (o gesto utilizado no esporte) é o principal fator que pode levar a lesões.
Geralmente a diferença está no fato de jogadores profissionais terem acesso e suporte de profissionais da área de saúde, de equipe técnica e por complementar com outras atividades físicas que os preparam para a prática esportiva. Lembre-se que o preparo do corpo e a forma de se jogar fazem total diferença na saúde do atleta!
Como ocorre a epicondilite lateral?
Resulta da aplicação de tração contínua por repetição de movimentos de punho e braço, resultando em microrupturas de estruturas anatômicas na região do cotovelo, seguidas de fibrose, formação de tecido de granulação e falha no processo de reparo com degeneração do tecido. Isso é, o ossinho lateral do cotovelo se torna dolorido e muito sensível, o que é ocasionado pelo excesso de uso dos músculos extensores (que tem como função esticar) do punho e da mão.
Algumas informações importantes em relação ao esporte:
- No tênis há altas cargas nas articulações dos jogadores, com forças sendo geradas no ombro e cotovelo centenas de vezes por partida.
- "Backhand" é o movimento que mais sobrecarrega, com o maior pico de atividade muscular no ombro e no antebraço. Para que ele seja realizado de forma mais eficiente e segura, é necessário que o corpo todo esteja atuando.
- É importante pensar no corpo como uma máquina: durante o movimento, caso não haja força e estabilidade no centro da máquina transmitindo ativação e movimento coordenado, qualquer instabilidade pode resultar em um risco aumentado de lesão no ombro e na extremidade superior. A parte inferior do corpo deve ser firme para dar sustentação ao corpo, o abdômen deve estar ativado e as costas alinhadas para que o braço tenha um eixo mais estável.
- "Forehand" pode ser usado como estratégia quando possível para não haver sobrecarga.
Entre os jogadores amadores de tênis, apesar de serem os mais afetados por lesões, 50% deles não têm informação e conhecimento adequado sobre prevenção de lesões no esporte.
O que a ciência comprova para a prevenção?
Um programa de exercícios realizado por pelo menos 10 minutos, duas vezes por semana é eficaz em reduzir o número de lesões sofridas entre os tenistas.
Dicas úteis na prevenção
- É necessário treinar os músculos do tronco (core) e da cintura escapular (ombro) para distribuir melhor a carga que atua sobre o punho.
- Programas de prevenção devem abordar os desequilíbrios musculares em toda a cadeia para reduzir a incidência de lesões tanto agudas quanto crônicas.
- Revisão do treino e das técnicas de bater na bola, principalmente no "backhand", são de suma importância para evitar uma lesão.
- Redução da tensão das cordas da raquete.
- Aquecer antes de praticar atividades esportivas, entre outras atividades de esforço com os membros superiores, pode prevenir lesões.
Tratamento para o cotovelo de tenista
O tratamento inicial é conservador baseado no alívio da dor e repouso, com restrição de atividades repetitivas, seja no trabalho ou no esporte. A doença não tem cura, mas os sintomas podem ser amenizados ou até desaparecer com a abordagem adequada:
- Para o alívio da dor podem ser utilizados analgésicos. O uso de anti-inflamatórios é pouco benéfico, uma vez que não há processo inflamatório envolvido na afecção.
- Alguns tipos de imobilização têm sido utilizados para diminuir a força de tração dos músculos. Aqueles colocados no antebraço e punho podem aliviar momentaneamente, mas não são recomendadas a longo prazo, pois limitam o movimento e há risco de um "efeito rebote", com uma dor ainda mais intensa ocasionada pela movimentação de um músculo que se torna cada vez mais enfraquecido e inativo.
- Repouso relativo (evitar excessos de repetição e de carga).
- Fisioterapia e terapia ocupacional também contribuem para a melhoria do quadro geral, como diminuição de dor e melhora da função.
- No caso de tenistas, são necessárias algumas modificações no equipamento e na otimização da forma de jogar.
5 dúvidas frequentes na epicondilite
- Posso fazer uso de imobilizadores? Há certa popularidade acerca da utilização de um imobilizador funcional (brace) no cotovelo. Teoricamente, por limitar a expansão da musculatura extensora no terço proximal do antebraço, isto poderia diminuir a força sobre áreas vulneráveis, mas do ponto de vista clínico não há comprovação e consenso científico. No entanto, pacientes podem fazer uso desde que haja mobilização precoce após a fase de dor mais intensa.
- Meu médico sugeriu que eu fizesse uma infiltração com corticoide. Posso fazer sempre? A realização de mais de duas infiltrações pode não trazer muitos benefícios devido aos efeitos adversos relacionados às infiltrações peritendíneas como a necrose, atrofia e consequente ruptura do tendão.
- Em que momento devo iniciar a reabilitação? Tanto a fisioterapia quando a terapia ocupacional devem ser indicadas de forma precoce. Quanto mais cedo for realizada a abordagem, melhores as chances de uma evolução mais positiva. Em relação ao controle de dor, é possível utilizar diversas estratégias de reeducação do movimento e analgesia. Não existindo dor, inicia-se o processo de fortalecimento muscular. Os exercícios de alongamento e o ganho da amplitude articular do punho e cotovelo, podem ser seguidos de exercícios isométricos e isocinéticos.
- Em que momento devo retornar ao esporte? No caso de retorno à prática do tênis, é fundamental que o paciente seja bem orientado. A circunferência da empunhadura influencia na prática esportiva. Deve-se recomendar medidas capazes de diminuir a trepidação que se transmite ao cotovelo com a utilização de raquetes leves, preferencialmente com menos pressão no encordoamento. O paciente está autorizado a retornar à prática esportiva quando for capaz de realizar exercícios de repetição com força adequada, sem que ocorra dor à movimentação.
- Quais as complicações se eu não fizer o tratamento adequado? Se não tratada, pode causar dor crônica e o surgimento de outros problemas, como a limitação de movimentos, alterações de sensibilidade, perda de força, surgimento de cistos e até afastamento permanente do esporte. Por isso, não postergue o cuidado com sua saúde e procure sempre por profissionais de saúde e especialistas na área.
*Colaboração da Dra. Renata Luri, Fisioterapeuta pela UNIFESP; Dra. Juliana Satake, Fisioterapeuta pela UNIFESP e do Dr. Pedro Sasaki, Fisioterapeuta pela UNIFESP.