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Paola Machado

Basta só estar no prato? Absorção de nutrientes depende de vários fatores

Paola Machado

17/01/2020 04h00

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A ciência da nutrição é um campo dinâmico e bastante complexo. Muitas das informações divulgadas nas redes sociais são parcialmente completas e não contemplam totalmente os conceitos principais de uma alimentação equilibrada e suficiente para nos manter saudáveis e bem nutridos. Estamos falando de um assunto chamado biodisponibilidade, conceitualmente conhecido como a proporção do nutriente que é verdadeiramente utilizada pelo organismo.

Esta definição carrega consigo inúmeros processos, uma vez que ser aproveitado adequadamente perpassa o bom funcionamento de muitos órgãos e sistemas. A pele exposta ao Sol por exemplo, começa o processo de ativação da vitamina D, condição mediada pelo calor e aquecimento da epiderme, a etapa seguinte acontecerá no fígado, local onde está vitamina passará por reações que ocasionarão uma ativação ainda parcial.

O fígado, a propósito, atua como órgão alvo no metabolismo (e consequente aproveitamento), de praticamente todos os nutrientes que consumimos por meio dos alimentos; as vitaminas do complexo B, muitos minerais e, principalmente, as vitaminas solúveis em gordura como as A, D, E e K. Atenção especial a estas últimas, que dependem diretamente das secreções hepáticas e do funcionamento da vesícula biliar para serem absorvidas e ativadas no organismo.

Achando esta história toda muito complexa? Temos mais a esclarecer para você: passando pelo fígado e pela vesícula biliar (que trabalham em conjunto), podemos observar os rins; eles não servem apenas para eliminar "coisas" ou produtos intermediários, uma vez que inúmeras reações de ativação dos nutrientes acontecerão ali também. Lembram da vitamina D? Após o fígado, o seu trajeto metabólico acontece nos rins, quando finalmente ficará pronta para desempenhar as várias funções que conhecemos.

Não podemos deixar de falar dos intestinos, este órgão tão valorizado ultimamente uma vez que consiste na maior superfície de absorção que encontramos no corpo humano, além disto, produz nutrientes como a vitamina B12, o ferro e a vitamina K e também atua no controle de nossos níveis de açúcar (junto com o pâncreas) e na sensação de fome e saciedade (junto ao cérebro, especificamente sistema nervoso central).

Mas outros aspectos também influenciam na forma como aproveitamos os nutrientes:

Genética – Determinados fatores genéticos são responsáveis por alterações na absorção de alguns minerais. Podemos citar, como exemplo, indivíduos com hemocromatose (excesso de ferro na forma de ferritina, acumulado no fígado), caracterizado pelo aumento de absorção do ferro. Outra condição é a acrodermatite enteropática, desordem genética que leva à deficiência de zinco pela grande dificuldade na absorção deste mineral; a Síndrome de Menkes, caracterizada pelo defeito no transporte de cobre levando a deficiência dele.

Biológico – Os fatores relacionados ao indivíduo como sexo, idade e etapa do desenvolvimento fisiológico (criança, adolescente, adulto, idoso, gestante) são aspectos que precisam ser considerados. Por exemplo: uma criança em desenvolvimento tem necessidades aumentadas de minerais para seu crescimento e, portanto, terá uma capacidade de absorção e utilização aumentada, o mesmo acontecendo com gestantes e lactantes. No caso dos idosos, é bastante frequente a deficiência de ferro, vitamina B12 e cálcio, por conta da baixa ingestão de alimentos.

Qualidade de solo de plantio – O grau de contaminação do solo e, consequentemente, a quantidade de metais pesados no mesmo pode reduzir a concentração de minerais nos vegetais e frutas, uma vez que estes metais poderão se ligar a estes nutrientes tornando-os menos disponíveis; o período e condição climática do plantio também podem interferir na riqueza do solo e consequentemente na qualidade dos alimentos ali cultivados. Sempre que possível, é aconselhável a rotação de culturas, já que cada cultura tem a capacidade de extrair diferentes nutrientes do solo.

Estes são alguns dos aspectos que interferem diretamente em nossa saúde portanto, além de sabermos escolher corretamente o que comemos, precisamos nos manter saudáveis de forma integral, mental e fisicamente, para que desta forma possamos nos beneficiar totalmente, de tudo o que os alimentos têm a nos oferecer. Cuide de seu corpo e mente, para que você possa desfrutar de uma vida longeva com saúde, autonomia, lucidez e vigor físico.

*Colaboração da nutricionista comportamental e clínica na clínica 12 semanas Dra. Samantha Rhein (Unifesp)

Referências:
– Cozzolino, Silvia M. Franciscato. Biodisponibilidade de minerais. Revista de Nutrição, 10(2), 87-98, 1997.
– Cozzolino, Silvia M. Franciscato. Biodisponibilidade de Nutrientes. Ed Manole, 4ª ed, 2012.
– Otimização do uso de nutrientes em solos de baixa fertilidade da região tropical. Luís Ignácio Prochnow.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.