Liberação miofascial é aliada para melhorar a flexibilidade; saiba mais
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A flexibilidade pode ser descrita como a capacidade de um determinado músculo distanciar a origem de sua inserção, levando a um maior alcance da articulação. Ela pode ser limitada tanto por alguma estrutura óssea como pelo próprio músculo. A maioria das pessoas tem pouca flexibilidade pela limitação da musculatura e seus envoltórios, como o tecido conjuntivo e a pele.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte aponta a flexibilidade como sendo um dos cinco componentes mais importantes para a aptidão física. O aumento na amplitude de movimento articular é benéfico para melhorar o desempenho muscular e reduzir o risco de lesões. Pesquisas já comprovaram que ter pouca flexibilidade se relaciona à perda de capacidade funcional e a menor qualidade de vida.
O termo liberação miofascial é amplamente usado na rotina clínica e de treinamentos físicos para se referir a uma técnica manual que promete diminuir restrições miofasciais acumuladas do tecido cicatricial e espasmos musculares.
A massagem, geralmente realizada com rolo de espuma, alivia e previne dores musculares, melhora a postura, aumenta a flexibilidade e estimula a circulação sanguínea.
Pesquisas apontam que a liberação miofascial promove melhores resultados para ganhos de flexibilidade em comparação a outras técnicas de terapia manual. Uma única sessão de liberação já é eficaz para aumentar a flexibilidade imediatamente.
Estudos compararam técnicas de liberação miofascial e alongamento sobre a flexibilidade dos músculos da coxa em adolescentes. Os resultados indicaram que ambas as técnicas foram eficientes para ganhos de flexibilidade de forma imediata. Quando as duas técnicas eram utilizadas juntas poderiam levar a mudanças positivas sobre o comprimento do músculo.
Até mesmo em praticantes de musculação que geralmente focam em hipertrofia e, muitas vezes, apresentam encurtamento de fibras musculares, a técnica apresenta benefícios. Estudos comprovaram que a utilização da liberação miofascial com exercícios de alongamento pode acelerar o ganho de flexibilidade. Estudos apontam que essa melhora em flexibilidade leva ao aumento da qualidade dos movimentos executados na musculação, e a um maior recrutamento neuromuscular.
A literatura aponta que o alongamento, apesar de promover o aumento da amplitude de movimento imediato, ocasiona prejuízo na geração de força. Por isso, a liberação miofascial surge como uma alternativa de estratégia promissora otimizando os ganhos em amplitude de movimento, sem impactar em força.
Cientistas também investigaram o papel da liberação miofascial em pessoas que se submeterem a um treino intenso intervalado, os resultados mostraram que a técnica diminuiu em 50% a dor muscular pós-treino e aumentou a amplitude de movimento em comparação aos que não se submeteram à liberação.
Há um vertente de pesquisadores que alega que o termo liberação miofascial possa estar errado, uma vez que ainda não foram comprovados os mecanismos de como ocorrem seus efeitos na fáscia. Independente da nomenclatura, os cientistas apontam para duas teorias embasando os seus benefícios:
- O primeiro mecanismo hipotetiza que a técnica remodela as estruturas fasciais, como as adesões, piezoeletricidade, viscoelasticidade do tecido e estruturas que compõem o tecido fascial como a elastina e o colágeno. Esse possível remodelamento permitiria um maior ganho de amplitude articular.
- O segundo mecanismo proposto indica a influência do Sistema Nervoso Central relacionado a efeitos não-locais: a presença de mecanorreceptores dentro do músculo e da fáscia, exerce efeito inibitório na modulação e percepção de dor. Esse efeito justificaria o aumento de tolerância ao estiramento, o que permitiria uma maior flexibilidade.
Até a ciência comprovar todos os mecanismos envolvidos na liberação miofascial, o que se sabe é que diversos estudos apontam o papel dessa técnica na melhora de flexibilidade e, com isso, no aumento do desempenho muscular e menor o risco de lesões.
*Colaboração da Dra. Renata Luri, fisioterapeuta e PhD Unifesp @renataluri e da Dra. Juliana Satake, fisioterapeuta especializada pela UNICAMP