Dor e desconforto no ombro? Pode ser uma lesão do manguito rotador; entenda
Dor e desconforto no ombro? Você sabia que a dor no ombro corresponde a cerca de 27% das dores da população no mundo todo. Imagine você não poder usar seus ombros e ter limitação ao fazer seus movimentos, isso atrapalha a rotina e gera afastamentos no trabalho.
O ombro é considerado a articulação mais instável do corpo humano e, por isso, a musculatura faz sua vez como protetor e estabilizador da articulação. Provavelmente você já deve ter ouvido esse tal de "manguito rotador", ou por alguma conversa com familiares ou amigos, ou pior, porque já teve algum problema relacionado a ele.
O que é o manguito rotador?
O manguito rotador é um grupo de 4 músculos que tem como principal ação estabilizar o ombro. O índice de lesões do manguito rotador têm aumentado e a rotina de sedentarismo, fumo, álcool, problemas de tireoide, colesterol, diabetes, orientação errada de exercício e estresse parecem piorar ainda mais a estabilização.
Causas
Atualmente, com a hipótese de caráter genético, algumas pessoas estão mais suscetíveis a essas degenerações e consequentes rupturas de tendão, sabe-se também que atividades esportivas e laborais que se utilizam de movimentação repetitiva e atividades que exijam movimentação dos braços acima da linha da cabeça aumentam muito as chances de romper os tendões. Como exemplo temos atletas de arremesso, professores e trabalhadores braçais.
Atividades esportivas mal orientadas também levam a inflamações nos tendões do manguito rotador, expor o aluno a uma carga acima do que está acostumado, sem uma prévia preparação muscular, tem levado ao aumento dos índices de lesões do ombro, na ânsia de conseguir melhores resultados.
Os trabalhos de estabilização do ombro, que deveriam ser primeiramente trabalhados, dão lugar a um trabalho excessivo de músculos de caráter de explosão e contração rápida, isso causa um desequilíbrio tremendo, levando a um maior índice de lesões. Se o ombro não está estável e exijo um trabalho acima do normal, eu coloco minha articulação em desvantagem biomecânica, alterando seu posicionamento anatômico sobrecarregando áreas indevidas.
Outro grande vilão é a idade, devido a diminuição da qualidade muscular, colágeno e potencial de irrigação sanguínea, com o passar dos anos as evoluções das inflamações tendíneas levam a diversas fases da lesão.
Essas fases, até chegar a romper o tendão, são conhecidas como fases de impacto de Neer, onde o professor Neer as descreveu como:
- Fase 1: Inflamação reversiva, edema –inchaço– da bursa e leve diminuição do arco subacromial, normalmente pacientes abaixo de 25 anos – tratamento com repouso anti-inflamatório e fisioterapia.
- Fase 2: Tendinose –inflamação persistente com sinais de cicatrização– de supraespinhoso, lesão parcial de fibras, dor durante atividades de vida diária e pode apresentar dificuldades de movimentação, 25-40 anos – tratamento como na fase 1, em caso de não melhora indicação cirúrgica.
- Fase 3: Lesão parcial ou total do tendão do supraespinhoso, dor constante e diminuição considerável de movimentos do braço, início de osteofitose –nova formação óssea por impacto, bico de papagaio–, 40-60 anos – tratamento cirúrgico.
- Fase 4: Lesão completa de supraespinhoso, acometimento de outros tendões do manguito por compensação, artrose da cabeça umeral, dor constante e perda importante de movimento, acima de 60 anos – tratamento cirúrgico, possível indicação de prótese.
A classificação de Neer já é antiga, porém nos traz uma perspectiva de evolução da lesão, sabemos que os níveis de atividades físicas e laborais mudaram bastante nos últimos anos e isso com certeza influencia nosso diagnóstico. O alerta fica para caso sinta dor aleatória e, principalmente, diminuição de movimentação do ombro, não demore para procurar ajuda, pois a evolução é certa, e quanto mais rápida a intervenção, melhores são os prognósticos.
Outra grande discussão fica em torno de quando realmente se faz necessária a intervenção cirúrgica. Como vimos, a evolução da síndrome do impacto vai levando a articulação a lesões de caráter estrutural, cabe aos profissionais de reabilitação e aos pacientes evitar chegar a tais situações, o início do impacto é tratado focando no alívio de dores e inflamação, principalmente em pacientes que tiveram a lesão ou a agravaram de forma traumática, pois o trauma direto no ombro tende a produzir maior dor e limitação, já que frequentemente também acomete o tendão de cabeça longa de bíceps.
Após essa fase, o foco total do tratamento deve estar voltado ao reequilíbrio muscular, o corpo tende a criar alternativas às limitações de músculos fracos e, consequentemente, de diminuição de movimentação, é essa adaptação corporal que nos leva aos piores quadros, pois os músculos começam a trabalhar de forma desordenada criando um padrão patológico, a intervenção da reabilitação deve ser voltada à restruturação muscular, com especial atenção aos músculos escapulares e de estabilização do manguito rotador, assim conseguimos evitar a progressão da lesão e consequente cirurgia.
A partir do momento em que o paciente apresente lesões estruturais, a reabilitação não poderá curá-lo, a fisioterapia irá auxiliar na questão de estruturas musculares, na melhora da movimentação, porém será uma melhora pequena, a conduta a partir de então será cirúrgica e a reabilitação será de imensa importância nos casos pós-operatórios.
*Colaboração da fisioterapeuta PhD da Unifesp Dra. Renata Luri e do Dr. Luiz Carlos Focaccio Junior Fisioterapeuta Professor do Grupo de Cirurgia e Ombro