Por que a obesidade é considerada uma condição de alto risco? Entenda
Trabalho com obesidade e sobrepeso desde 2008. São 12 anos notando o quanto as pessoas acometidas sofrem com diversos problemas de saúde. Lembro-me que em 2006, ainda tínhamos grandes preocupações com a desnutrição e essa curva mudou muito ao longo dos anos.

Prevalência, em porcentagem, de obesidade e desnutrição em três décadas no Sudeste do Brasil. Mello, E.; et al. Childhood obesity – Towards effectiveness. J Pediatr (Rio J). 2004;80(3):173-82
Bato sempre aqui na tecla, literalmente, sobre os efeitos do excesso de gordura corporal na nossa saúde e, aproveitando o gancho, no Reino Unido, sete em cada dez pacientes com coronavírus em UTIs no Reino Unido são obesos — 71,7% –, sendo observada uma possível relação entre obesidade e infecção no Brasil.
Alguns dados importantes…
Vale lembrar que a obesidade é crescente no mundo todo. No Brasil, 55,7% da população sofre de excesso de peso e 19,8% da população é obesa –sendo maior entre mulheres (29,7%) do que em homens (18,7%). A frequência de obesidade aumenta com a idade até os 44 anos para homens e até 64 anos para mulheres — abaixo uma tabela padrão de percentual de gordura corporal. Observem como os valores de referências aumentam com a idade.

Essa é uma tabela padrão de percentual de gordura corporal. Observem como os valores de referências aumentam com a idade
Cerca de 30% da população mundial –2 bilhões de pessoas — sofrem de obesidade ou sobrepeso (esses dados incluem crianças e adultos) e é a segunda maior causa de morte no mundo, de acordo com um estudo publicado no jornal "The New England Journal of Medicine". Um estudo do The Lancet (2016) que avaliou 19,2 milhões de participantes adultos — sendo 9,9 milhões de homens e 9,3 milhões de mulheres, mostrou que a obesidade cresceu de 3,2% em 1975 para 10,8% em 2014 em homens e 6,4% para 14,9% em mulheres.
De acordo com a OMS (2018), 1 em cada 8 adultos no mundo é obeso. Em 2025, estima-se que cerca de 2.3 bilhões de pessoas possam sofrer de sobrepeso e 700 milhões podem sofrer de obesidade.
A obesidade…
É uma doença crônico-degenerativa, inflamatória e multifatorial que favorece o balanço energético positivo, na qual a reserva natural de gordura –central e periférica — aumenta até o ponto que se associa a certos problemas de saúde ou aumento da taxa de mortalidade.
O obesidade gera um estado inflamatório subclínico. Quando o tecido adiposo tem um crescimento anormal, leva a aumentando a expressão de citocinas pró-inflamatórias, de PAI-1, leptina (levando a resistência a ação da mesma e a hiperleptinemia) e redução de adiponectina.
- Fígado O aumento da leptina, TNF-alfa, IL-6 e ácidos graxos livres com redução de adiponectina; leva a redução da sensibilidade à insulina, aumenta gliconeogênese, aumenta VLDL, TG, PCR e PAI-1.
- Músculo O aumento da leptina, TNF-alfa, IL-6 e ácidos graxos livres com redução de adiponectina; diminui sensibilidade à insulina.
- Pâncreas O aumento de ácidos graxos livres; aumenta secreção de insulina.
- Cérebro Aumento de leptina e IL-6; leva a resistência à leptina e a inflamação hipotalâmica.
Tudo isso desencadeia patologias, como…
Obesidade e coronavírus
Por qual motivo a obesidade pode também ser considerada uma condição de alto risco? Primeiro que, como já a fisiopatologia da obesidade mostra, ela gera um estado inflamatório subclínico. Segundo porque ela gera diversas patologias associadas que são parte da população de alto risco –como diabetes e hipertensão.
Além dessas existem mais duas hipóteses. Dentre esses mecanismos que levam a disfunção do TAB (tecido adiposo branco), a hipóxia é uma característica marcante do TAB de pessoas obesas, pois a vasculatura não consegue acompanhar o crescimento patológico do tecido. Alguns pesquisadores apontam que a hipóxia no TAB em expansão pode representar um potencial fator patogênico, uma vez que induz estresse e respostas inflamatórias dentro do TAB, bem como resistência a insulina, supressão da síntese de adiponectina (adipocina que induz aumento da sensibilidade à insulina) e disfunção metabólica. Especificamente, a hipóxia pode induzir tanto o estresse do retículo endoplasmático como o estresse oxidativo, o qual induz rotas adicionais para a baixa tensão de O2, que pode induzir a disfunção do TAB. Outras evidências apontam que a hipóxia é uma via de ligação entre adi- pogênese, angiogênese e sensibilidade à insulina. Ou seja, os adipócitos, as células que armazenam gordura no corpo, podem levar a hipóxia e morte celular com a liberação de ácidos graxos, levando a um estado inflamatório e imunossupressão.

Amaral, William C. Obesidade, hipóxia, exercício físico e cininas: possível relação no tratamento da obesidade. William Carvalho do Amaral. – 1 ed. – São Paulo: Weight Science, 2015.
A segunda hipótese é que o aumento da produção de leptina –pró-inflamatório — e redução de adiponectina — anti-inflamatório, desencadeia também um estado inflamatório levando a imunossupressão.
O estilo de vida inadequado, pode aumentar o adipócito por hipertrofia — aumenta fluxo sanguíneo e tem tentativa de angiogiogênese. Como ele não consegue, entra em hipóxia. Produz TNF-alfa e estimula a lipólise — estimular o catabolismo e reduzir o anabolismo —, assim tem o início do processo inflamatório para voltar a homeostase. Só que esse processo pró-inflamatório se perpetua em uma baixa inflamação por muito tempo.
Se cuidem…
Ponderando sobre tudo isso que eu disse, essa é uma boa oportunidade para começarmos e não deixarmos os dias em casa virar contra nós mesmos, pois é natural o aumento de alimentos mais calóricos e a redução de atividades físicas. Essa é a hora de criarmos alertas para, de fato, as pessoas se cuidarem. Se não leram esse texto que vou linkar agora, é uma boa oportunidade.